Capitão Phillips
Baseado em um acontecimento real ocorrido em 2009, Capitão Phillips é um filme que traz uma tensão extra para as águas quando nos dá não apenas o ponto de vista do protagonista, mas também dos piratas que o sequestram.
Richard Phillips é o capitão do navio cargueiro Alabama, que tem a missão de entregar mercadorias e alimentos para o povo somaliano. Durante a travessia, no entanto, o navio é atacada por dois barcos piratas que exigem uma boa soma em dinheiro em troca de paz. Phillips não recua diante do perigo, afugentando-os com certa habilidade a princípio, mas logo percebendo que aquela história ainda teria muitos capítulos.
O que primeiro chama a atenção no roteiro de Billy Ray é a forma como ele constrói os seus personagens. O primeiro ato não se concentra apenas na apresentação de Richard Phillips em seu habitat natural. Podemos vê-lo com a família, nos aproximamos de sua realidade. Porém, em paralelo, nos é apresentado os quatro somalianos, Muse, Bilal, Najee e Elmi, que irão dividir a empatia do público com o capitão americano.
Isso constrói outro nível de tensão para a trama. Não é apenas o nosso protagonista sendo ameaçado por "bandidos" maus. Ficamos próximos também desses piratas, principalmente de Muse, o líder. Conhecemos seus dilemas, sua missão, sua necessidade, ainda que errada. Durante toda projeção, ainda temos outros momentos em que reforça-se essa questão, como quando Muse conta entusiasmado que o sequestro anterior rendeu 6 milhões de dólares. Phillips pergunta o que ele está fazendo ali se já conseguiu uma quantia tão boa e fica claro que Muse é apenas um peão, roubando para peixes maiores.
A trama discute também a questão social, ao nos mostrar esses quatro somalianos tentando sobreviver. Phillips diz em determinado momento que as únicas opções da vida não são pescar ou ser pirata. E Muse retruca dizendo "só se for na América", reforçando a falta de oportunidade de alguns países. Mas, o mais interessante, é que apesar dessa construção, os Estados Unidos não são poupados de críticas. Vide a forma como a Marinha intervém em determinado momento buscando uma solução.
A construção da empatia com os piratas nos faz ver a Marinha americana não como heróis, mas como opressores. Há uma cena em específico onde a intervenção é bastante incômoda, ainda que também torçamos para que Phillips se salve. Tudo é construído com muita tensão. Desde o momento em que os quatro entram no navio até a sua resolução, ficamos com a emoção em suspensão.
Muito da construção da tensão é mérito do diretor Paul Greengrass que já tinha mostrado ao mundo como fazer uma boa ação com suspense nos filmes A Supremacia Bourne e O Ultimato Bourne. Aqui, ele mantém um bom nível de construção de imagens e jogando com o espectador com o que pode ou não ser mostrado. Mas, quem rouba a cena é mesmo Tom Hanks.
Na pele do Capitão Phillips, Hanks demonstra todo o seu talento e carisma para construir um personagem admirável e humano. O responsável pelo navio Alabama age sempre com austeridade, dentro da lei, mas usando a criatividade e buscando proteger sua tripulação. Há verdade em cada ação do ator e no terceiro ato do filme, desespero, angústia e terror transbordam de seu corpo em cada gesto, olhar, respiração. Há uma cena em especial que é extremamente forte, digna das maiores catarses.
Capitão Phillips é um filme tenso e bem construído. Pode não trazer toda a verdade dos acontecimentos de 2009, como já vi algumas reportagens apontando, mas traz verossimilhança, nos contando uma boa história. Para o cinema de ficção, que é o que ele é, isso já é o bastante.
Capitão Phillips (Captain Phillips, 2013 / EUA)
Direção: Paul Greengrass
Roteiro: Billy Ray
Com: Tom Hanks, Barkhad Abdi, Barkhad Abdirahman, Faysal Ahmed, Mahat M. Ali, Michael Chernus
Duração: 134 min.
Richard Phillips é o capitão do navio cargueiro Alabama, que tem a missão de entregar mercadorias e alimentos para o povo somaliano. Durante a travessia, no entanto, o navio é atacada por dois barcos piratas que exigem uma boa soma em dinheiro em troca de paz. Phillips não recua diante do perigo, afugentando-os com certa habilidade a princípio, mas logo percebendo que aquela história ainda teria muitos capítulos.
O que primeiro chama a atenção no roteiro de Billy Ray é a forma como ele constrói os seus personagens. O primeiro ato não se concentra apenas na apresentação de Richard Phillips em seu habitat natural. Podemos vê-lo com a família, nos aproximamos de sua realidade. Porém, em paralelo, nos é apresentado os quatro somalianos, Muse, Bilal, Najee e Elmi, que irão dividir a empatia do público com o capitão americano.
Isso constrói outro nível de tensão para a trama. Não é apenas o nosso protagonista sendo ameaçado por "bandidos" maus. Ficamos próximos também desses piratas, principalmente de Muse, o líder. Conhecemos seus dilemas, sua missão, sua necessidade, ainda que errada. Durante toda projeção, ainda temos outros momentos em que reforça-se essa questão, como quando Muse conta entusiasmado que o sequestro anterior rendeu 6 milhões de dólares. Phillips pergunta o que ele está fazendo ali se já conseguiu uma quantia tão boa e fica claro que Muse é apenas um peão, roubando para peixes maiores.
A trama discute também a questão social, ao nos mostrar esses quatro somalianos tentando sobreviver. Phillips diz em determinado momento que as únicas opções da vida não são pescar ou ser pirata. E Muse retruca dizendo "só se for na América", reforçando a falta de oportunidade de alguns países. Mas, o mais interessante, é que apesar dessa construção, os Estados Unidos não são poupados de críticas. Vide a forma como a Marinha intervém em determinado momento buscando uma solução.
A construção da empatia com os piratas nos faz ver a Marinha americana não como heróis, mas como opressores. Há uma cena em específico onde a intervenção é bastante incômoda, ainda que também torçamos para que Phillips se salve. Tudo é construído com muita tensão. Desde o momento em que os quatro entram no navio até a sua resolução, ficamos com a emoção em suspensão.
Muito da construção da tensão é mérito do diretor Paul Greengrass que já tinha mostrado ao mundo como fazer uma boa ação com suspense nos filmes A Supremacia Bourne e O Ultimato Bourne. Aqui, ele mantém um bom nível de construção de imagens e jogando com o espectador com o que pode ou não ser mostrado. Mas, quem rouba a cena é mesmo Tom Hanks.
Na pele do Capitão Phillips, Hanks demonstra todo o seu talento e carisma para construir um personagem admirável e humano. O responsável pelo navio Alabama age sempre com austeridade, dentro da lei, mas usando a criatividade e buscando proteger sua tripulação. Há verdade em cada ação do ator e no terceiro ato do filme, desespero, angústia e terror transbordam de seu corpo em cada gesto, olhar, respiração. Há uma cena em especial que é extremamente forte, digna das maiores catarses.
Capitão Phillips é um filme tenso e bem construído. Pode não trazer toda a verdade dos acontecimentos de 2009, como já vi algumas reportagens apontando, mas traz verossimilhança, nos contando uma boa história. Para o cinema de ficção, que é o que ele é, isso já é o bastante.
Capitão Phillips (Captain Phillips, 2013 / EUA)
Direção: Paul Greengrass
Roteiro: Billy Ray
Com: Tom Hanks, Barkhad Abdi, Barkhad Abdirahman, Faysal Ahmed, Mahat M. Ali, Michael Chernus
Duração: 134 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Capitão Phillips
2013-11-03T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
Barkhad Abdi|critica|drama|Oscar 2014|Paul Greengrass|suspense|Tom Hanks|
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