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Ninfomaníaca - Volume 1

Ninfomaníaca - Volume 1É muito difícil escrever sobre a primeira parte de Ninfomaníaca porque ela é isso: a primeira parte de um filme. E é difícil analisar um filme pela metade. Talvez por isso, Lars von Trier tenha aberto mão do corte final, ao contrário de Kill Bill, aqui não temos uma curva que se feche, é literalmente um intervalo, ainda que promissor.

Tudo começa quando Seligman, vivido por Stellan Skarsgård, recolhe da rua uma mulher ferida. Joe, vivida por Charlotte Gainsbourg, se diz uma pessoa má, que não merece socorro, mas Seligman se interessa por ela, cuida e ouve sua história. E é a essa história que seremos apresentados nas próximas horas, em flashbacks guiados pela voz de Joe que se assume uma ninfomaníaca.

Este jogo inicial de Joe se acusando e expondo, enquanto Seligman tenta perdoá-la e mostrar que não há nada demais no sexo é interessante. Eles começam com uma metáfora de peixes e pescaria. Uma associação persistente que vai e volta, repetindo em diversos momentos e explicitando cada vez mais as semelhanças. Começa com um pescador e os peixes, escolha de anzóis, e vai aprofundando até comparar peixes predadores com presas, como no corredor do trem, onde elas estariam escolhendo as vítimas.

Ninfomaníaca - Volume 1É um jogo didático até certo ponto, mas que se torna necessário no formato escolhido, afinal, Seligman se impôs uma missão árdua: convencer Joe de que ela não é uma pecadora. Neste ponto, a escolha do peixe como metáfora pode nos levar a diversas interpretações, inclusive a religiosa já abordada por Lars Von Trier em Anticristo. Afinal, o peixe foi o primeiro símbolo dos cristãos antigos, antes do concílio de Niceia introduzir os diversos dogmas que instituíram a Igreja Católica, o símbolo da cruz e determinar que o sexo era um pecado.

Mais do que um terapeuta, o que Seligman tenta fazer é naturalizar as escolhas de Joe, mostrando que nada há de errado no prazer e na busca por ele. Mas, Joe insiste que ele ainda não ouviu nada sempre ampliando sua história, escalando as revelações como se buscasse chocá-lo, mas ele vai sempre desculpando e mostrando o outro lado. E neste ponto, vale ressaltar que o que é visto neste primeiro volume de Ninfomaníaca não justifica tanta polêmica. Pelo menos nessa versão reduzida que tornou cinco horas e meia, quatro, dividida em duas partes.

Ninfomaníaca - Volume 1sexo, claro, há um tratamento doentio de uma menina que é viciada nele, sim. Mas, mesmo as cenas de sexo explícito aqui são tímidas ainda. O próprio diretor já mostrou cenas mais explícitas em outros filmes como Anticristo e Os Idiotas. Ainda que algumas questões sejam bastante polêmicas como duas meninas no chão do banheiro descobrindo o prazer. Mas, não é um filme soft porno como muitos tem defendido, nem faz apologia ao sexo. Apenas expõe e constrói uma história de uma mulher viciada nele e vai escalando essa doença a cada etapa de sua vida.

Freud ficaria feliz com algumas coisas ali, principalmente na relação conturbada de Joe com a mãe e na adoração pelo pai. O capítulo Delírio onde esta figura está em evidência se destaca esteticamente, com uma fotografia em preto e branco, que torna tudo ainda mais melancólico e distante. Talvez o pai tenha sido o único afeto verdadeiro sentido por Joe, que diz amar também o jovem Jerôme, vivido por Shia LaBeouf, mas que parece ser incapaz de sentir qualquer coisa pelas pessoas, sempre substituindo os sentimentos por uma busca incessante pelo gozo.

Ninfomaníaca - Volume 1Como já virou marca do diretor, o roteiro é dividido por capítulos, em Ninfomaníaca serão oito no total, e esta primeira parte nos apresentou cinco deles. O já citado Delírio é o quarto, tendo ainda The Compleat Angler, Jerôme, A Sra. H e A Pequena Escola de Órgão na ordem cronológica. Este quinto capítulo traz uma metáfora musical que brinca com sons e imagens em junção, sendo uma das poucas coisas realmente criativas no filme, que no geral é bastante normal, digamos assim. O que não chega a ser ruim, apenas é que sempre esperamos algo novo de Lars von Trier.

O Volume 1 de Ninfomaníaca acaba sendo apenas uma introdução ao tema, de fato. Nos falta elementos para uma análise mais apurada, uma compreensão completa do quadro. Tudo fica no campo do "pode ser" e poderíamos ficar aqui divagando horas sobre as reais intenções de cada cena. Ou não. Podemos chegar a conclusão de que é tudo o que simplesmente é, em uma franqueza quase pobre de interpretações. Como disse, não dá para fazer uma análise profunda sem ver os outros três capítulos, seriam apenas elocubrações de um filme incompleto. Que venha então o Volume 2.


Ninfomaníaca - Volume 1 (Nymphomaniac, 2014 / Dinamarca, Reino Unido)
Direção: Lars von Trier
Roteiro: Lars von Trier
Com: Charlotte Gainsbourg, Stellan Skarsgård, Stacy Martin, Shia LaBeouf, Christian Slater, Uma Thurman
Duração: 122 min.

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