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Pode o amor ser reproduzido de maneira virtual por uma inteligência artificial? Talvez, mas o argumento do novo filme de Spike Jonze mais do que ficção científica é uma metáfora da verdadeira relação humana e no que ela tem se tornado hoje em dia.
Theodore Twombly tem uma profissão curiosa, é escritor de cartas a mão. Não é exatamente a mão, é verdade, ele dita e o computador reproduz uma caligrafia, mas ele tem o dom de passar sentimentos diversos de uma maneira bastante sensível e poética. De certa maneira, podemos fazer um paralelo entre sua profissão e a forma como utilizamos as tecnologias hoje em dia. Ninguém parece mais autêntico, usamos máquinas para tudo. Aqui, usam uma pessoa que utiliza uma máquina para reproduzir algo que deveria ser simples e espontâneo como uma carta direcionada a alguém que amamos, feita a mão.
Mas, a nossa sociedade anda assim, artificial, preferimos pagar para fazerem por nós o que não temos mais inspiração ou paciência para construir. Nos vemos cercados por todo tipo de tecnologia e evitamos cada vez mais o contato humano. Preferimos nos comunicar através de aparelhos eletrônicos do que olhando olho no olho. Ficamos tímidos diante de pessoas e "soltamos o verbo" por trás de uma tela. Basta dar uma olhada nas ruas, nos bares, nos shoppings, até dentro do cinema. As pessoas andam com o celular na altura do olhar, se comunicando virtualmente enquanto fingem viver.
Então, não é mesmo tão distante de nossa realidade que uma pessoa se apaixone e estabeleça uma relação com uma máquina. A única diferença da personagem Samantha para as relações de hoje em dia, é que ela não tem mesmo um corpo, apenas a voz de Scarlett Johansson nos dando uma ideia de sua personalidade. Por isso, não soa estranho também que as pessoas aceitem o relacionamento de uma maneira tão natural.
Na verdade, ela é um programa, um Sistema Operacional que tem personalidade e vai aprendendo e evoluindo a medida em que convive com Theodore. Até por isso ela tem a possibilidade de ser imprevisível, tornando tudo mais interessante, um relacionamento de fato. Principalmente porque Theodore sempre teve dificuldades de se relacionar, de falar sobre seus sentimentos e com ela, tudo parece mais fácil.
No futuro não muito distante em que a história se passa, a tecnologia é apenas um pouco mais avançada. Tanto que ele pode usar um kit portátil para dar um passeio na rua com "Samantha". Poucas coisas são, de fato, bastante evoluídas para nossa realidade, como o programa que dita as cartas simulando a caligrafia humana. Ou um jogo de videogame divertido, onde um personagem desbocado interage com a realidade do jogador.
A interpretação de Scarlett Johansson traz um diferencial imenso na personalidade de Samantha e seu relacionamento com Theodore. Sua voz não cai no clichê da mulher sensual, sedutora. Ela é amigável, divertida, interessante. O sentimento que começa a surgir entre eles é puro, verdadeiro, não uma fantasia doentia. E Joaquin Phoenix consegue nos passar muito bem essa composição intensa de emoções diversas. A forma como ele se vê envolvido com ela, o sofrimento ainda pela ex-mulher, vivida por Rooney Mara, a cumplicidade com a amiga interpretada por Amy Adams, a emoção que passa em cada carta que dita. Tudo nos faz ver Theodore de maneira mais completa.
Além do roteiro, dos personagem e das interpretações, chama a atenção em Ela também o cuidado com a direção de arte. O Sistema Operacional possui uma cor rosa bastante característica e é possível perceber a brincadeira com essa cor em diversas cenas, pontuando objetos, roupas, acessórios. Quando ele instala o sistema, está com uma blusa de manga comprida com essa cor. O abajur da sala também é rosa, os vidros da divisória de sua sala de trabalho, tudo vai mostrando a presença de Samantha em sua vida.
Ela é um filme extremamente sensível, que utiliza a tecnologia apenas como mote para falar de relações humanas. Porque, de fato, estamos nos comunicando cada vez mais através dela e isso reflete em várias questões, como a própria sensação de vazio do protagonista em questão. Para nos envolver e fazer pensar.
Ela (Her, 2013 / EUA)
Direção: Spike Jonze
Roteiro: Spike Jonze
Com: Joaquin Phoenix, Amy Adams, Scarlett Johansson, Rooney Mara, Olivia Wilde
Duração: 126 min.
Theodore Twombly tem uma profissão curiosa, é escritor de cartas a mão. Não é exatamente a mão, é verdade, ele dita e o computador reproduz uma caligrafia, mas ele tem o dom de passar sentimentos diversos de uma maneira bastante sensível e poética. De certa maneira, podemos fazer um paralelo entre sua profissão e a forma como utilizamos as tecnologias hoje em dia. Ninguém parece mais autêntico, usamos máquinas para tudo. Aqui, usam uma pessoa que utiliza uma máquina para reproduzir algo que deveria ser simples e espontâneo como uma carta direcionada a alguém que amamos, feita a mão.
Mas, a nossa sociedade anda assim, artificial, preferimos pagar para fazerem por nós o que não temos mais inspiração ou paciência para construir. Nos vemos cercados por todo tipo de tecnologia e evitamos cada vez mais o contato humano. Preferimos nos comunicar através de aparelhos eletrônicos do que olhando olho no olho. Ficamos tímidos diante de pessoas e "soltamos o verbo" por trás de uma tela. Basta dar uma olhada nas ruas, nos bares, nos shoppings, até dentro do cinema. As pessoas andam com o celular na altura do olhar, se comunicando virtualmente enquanto fingem viver.
Então, não é mesmo tão distante de nossa realidade que uma pessoa se apaixone e estabeleça uma relação com uma máquina. A única diferença da personagem Samantha para as relações de hoje em dia, é que ela não tem mesmo um corpo, apenas a voz de Scarlett Johansson nos dando uma ideia de sua personalidade. Por isso, não soa estranho também que as pessoas aceitem o relacionamento de uma maneira tão natural.
Na verdade, ela é um programa, um Sistema Operacional que tem personalidade e vai aprendendo e evoluindo a medida em que convive com Theodore. Até por isso ela tem a possibilidade de ser imprevisível, tornando tudo mais interessante, um relacionamento de fato. Principalmente porque Theodore sempre teve dificuldades de se relacionar, de falar sobre seus sentimentos e com ela, tudo parece mais fácil.
No futuro não muito distante em que a história se passa, a tecnologia é apenas um pouco mais avançada. Tanto que ele pode usar um kit portátil para dar um passeio na rua com "Samantha". Poucas coisas são, de fato, bastante evoluídas para nossa realidade, como o programa que dita as cartas simulando a caligrafia humana. Ou um jogo de videogame divertido, onde um personagem desbocado interage com a realidade do jogador.
A interpretação de Scarlett Johansson traz um diferencial imenso na personalidade de Samantha e seu relacionamento com Theodore. Sua voz não cai no clichê da mulher sensual, sedutora. Ela é amigável, divertida, interessante. O sentimento que começa a surgir entre eles é puro, verdadeiro, não uma fantasia doentia. E Joaquin Phoenix consegue nos passar muito bem essa composição intensa de emoções diversas. A forma como ele se vê envolvido com ela, o sofrimento ainda pela ex-mulher, vivida por Rooney Mara, a cumplicidade com a amiga interpretada por Amy Adams, a emoção que passa em cada carta que dita. Tudo nos faz ver Theodore de maneira mais completa.
Além do roteiro, dos personagem e das interpretações, chama a atenção em Ela também o cuidado com a direção de arte. O Sistema Operacional possui uma cor rosa bastante característica e é possível perceber a brincadeira com essa cor em diversas cenas, pontuando objetos, roupas, acessórios. Quando ele instala o sistema, está com uma blusa de manga comprida com essa cor. O abajur da sala também é rosa, os vidros da divisória de sua sala de trabalho, tudo vai mostrando a presença de Samantha em sua vida.
Ela é um filme extremamente sensível, que utiliza a tecnologia apenas como mote para falar de relações humanas. Porque, de fato, estamos nos comunicando cada vez mais através dela e isso reflete em várias questões, como a própria sensação de vazio do protagonista em questão. Para nos envolver e fazer pensar.
Ela (Her, 2013 / EUA)
Direção: Spike Jonze
Roteiro: Spike Jonze
Com: Joaquin Phoenix, Amy Adams, Scarlett Johansson, Rooney Mara, Olivia Wilde
Duração: 126 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Ela
2014-02-13T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
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