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Ninfomaníaca: Volume 2
Ninfomaníaca: Volume 2
Quando escrevi sobre a primeira parte de Ninfomaníaca comecei dizendo que era difícil falar sobre meio filme. Esta máxima serve para cá também, já que estamos vendo a segunda metade de um filme. Pelo menos, agora temos o vislumbre do todo e podemos perceber o que Lars von Trier quis nos passar. Ainda que a prometida polêmica só venha mesmo no final.
O filme continua exatamente de onde parou, com a história de, digamos, amor de Joe e Jerôme. Junto com o capítulo do pai, este é o momento mais próximo de Joe com alguma espécie de sentimento. E é curioso que antes de entrar propriamente no capítulo que a conta, ela nos explica como começou o seu problema sexual, que, claro, é construído de uma maneira metafórica, com uma explicação detalhada de Seligman.
Nesta segunda parte, as considerações do personagem de Stellan Skarsgård são ainda mais explícitas e didáticas. É como se Lars von Trier quisesse criar diversas relações metafóricas em seu filme, mas ficasse com medo do público não compreender. O jogo é tanto que ele chega a consertar Joe em uma percepção que poderia ser comum ao espectador ao mostrar a visão dela no campo. Joe diz: agora que você falou, me parece a Virgem Maria. E Seligman rebate, mas não é mesmo, explicando sobre a mulher do imperador Cláudio.
Tais explicações poderiam tornar o filme cansativo, se não fosse o humor satírico do diretor que brinca o tempo todo com o público. Ao ponto de em determinada cena, após uma explicação de Seligman, Joe sentenciar que aquela foi a sua pior digressão. Em outros momento, Lars von Trier constrói paralelos com suas próprias obras, como quando Joe esconde colheres no restaurante, lembrando um personagem de Melancolia, ou quando usa o mesmo argumento de Anticristo sobre o papel da mulher no sexo.
Mas, a melhor de todas é uma relação explícita e direta que faz com a abertura deste último, também brincando com o público, primeiro dando uma referência mais sutil, que nos faz apenas pensar, "ah, já vi esse filme". Depois, assumindo completamente a repetição, jogando com nossas expectativas. São esses pequenos momentos que fazem Ninfomaníaca valer a pena, pois no geral, temos um filme que busca uma tese, uma forma de chocar, mas acaba se demonstrando vazio, tal qual o corpo de Joe.
Temos cenas de sexo aqui, sim. Mais órgãos sexuais expostos, cenas de sadomasoquismo, mas ainda assim, não o torna um soft porno. Não há em nenhum momento do filme a intenção se excitar a plateia. E Lars von Trier deixa isso muito claro em sua última e polêmica cena. Não cabe a nós nos empolgar com a história de Joe, mas refletir e até mesmo nos assustar com tanta "monstruosidade", digamos assim.
O jogo de sexo pecado vs sexo natural, iniciado na primeira parte, quase se quebra ao mostrar que Joe não quer apenas um sexo livre, mas quer quase de forma doentia sentir algum prazer. A cena em que ela esconde tudo o que a lembra sexo, por exemplo, mostra bem a forma como sexo faz parte, mas ao mesmo tempo tem construção doentia de sua vida e o vazio que fica. E tudo isso deságua no capítulo oito, The Gun, e com eles, os maiores problemas do filme. Mas, para uma análise mais precisa, só revendo o filme completo e falando mais livre dos spoilers.
Ninfomaníaca: Volume 2 encerra de maneira polêmica, ainda que digna o filme que Lars von Trier nos quis passar. Teve muito mais marketing que cinema em tudo isso, não discuto. De qualquer maneira, há exercícios estilísticos que brincam com o público, suas expectativas e suas convicções. Só por isso, já demonstra que o diretor continua com sua capacidade de nos trazer algo novo a cada trabalho.
Ninfomaníaca: Volume 2 (Nymphomaniac: Vol. II, 2014 / Dinamarca/Alemanha/França/ Bélgica/ Reino Unido)
Direção: Lars von Trier
Roteiro: Lars von Trier
Com: Charlotte Gainsbourg, Stellan Skarsgård, Stacy Martin, Willem Dafoe, Mia Goth, Shia LaBeouf
Duração: 123 min.
O filme continua exatamente de onde parou, com a história de, digamos, amor de Joe e Jerôme. Junto com o capítulo do pai, este é o momento mais próximo de Joe com alguma espécie de sentimento. E é curioso que antes de entrar propriamente no capítulo que a conta, ela nos explica como começou o seu problema sexual, que, claro, é construído de uma maneira metafórica, com uma explicação detalhada de Seligman.
Nesta segunda parte, as considerações do personagem de Stellan Skarsgård são ainda mais explícitas e didáticas. É como se Lars von Trier quisesse criar diversas relações metafóricas em seu filme, mas ficasse com medo do público não compreender. O jogo é tanto que ele chega a consertar Joe em uma percepção que poderia ser comum ao espectador ao mostrar a visão dela no campo. Joe diz: agora que você falou, me parece a Virgem Maria. E Seligman rebate, mas não é mesmo, explicando sobre a mulher do imperador Cláudio.
Tais explicações poderiam tornar o filme cansativo, se não fosse o humor satírico do diretor que brinca o tempo todo com o público. Ao ponto de em determinada cena, após uma explicação de Seligman, Joe sentenciar que aquela foi a sua pior digressão. Em outros momento, Lars von Trier constrói paralelos com suas próprias obras, como quando Joe esconde colheres no restaurante, lembrando um personagem de Melancolia, ou quando usa o mesmo argumento de Anticristo sobre o papel da mulher no sexo.
Mas, a melhor de todas é uma relação explícita e direta que faz com a abertura deste último, também brincando com o público, primeiro dando uma referência mais sutil, que nos faz apenas pensar, "ah, já vi esse filme". Depois, assumindo completamente a repetição, jogando com nossas expectativas. São esses pequenos momentos que fazem Ninfomaníaca valer a pena, pois no geral, temos um filme que busca uma tese, uma forma de chocar, mas acaba se demonstrando vazio, tal qual o corpo de Joe.
Temos cenas de sexo aqui, sim. Mais órgãos sexuais expostos, cenas de sadomasoquismo, mas ainda assim, não o torna um soft porno. Não há em nenhum momento do filme a intenção se excitar a plateia. E Lars von Trier deixa isso muito claro em sua última e polêmica cena. Não cabe a nós nos empolgar com a história de Joe, mas refletir e até mesmo nos assustar com tanta "monstruosidade", digamos assim.
O jogo de sexo pecado vs sexo natural, iniciado na primeira parte, quase se quebra ao mostrar que Joe não quer apenas um sexo livre, mas quer quase de forma doentia sentir algum prazer. A cena em que ela esconde tudo o que a lembra sexo, por exemplo, mostra bem a forma como sexo faz parte, mas ao mesmo tempo tem construção doentia de sua vida e o vazio que fica. E tudo isso deságua no capítulo oito, The Gun, e com eles, os maiores problemas do filme. Mas, para uma análise mais precisa, só revendo o filme completo e falando mais livre dos spoilers.
Ninfomaníaca: Volume 2 encerra de maneira polêmica, ainda que digna o filme que Lars von Trier nos quis passar. Teve muito mais marketing que cinema em tudo isso, não discuto. De qualquer maneira, há exercícios estilísticos que brincam com o público, suas expectativas e suas convicções. Só por isso, já demonstra que o diretor continua com sua capacidade de nos trazer algo novo a cada trabalho.
Ninfomaníaca: Volume 2 (Nymphomaniac: Vol. II, 2014 / Dinamarca/Alemanha/França/ Bélgica/ Reino Unido)
Direção: Lars von Trier
Roteiro: Lars von Trier
Com: Charlotte Gainsbourg, Stellan Skarsgård, Stacy Martin, Willem Dafoe, Mia Goth, Shia LaBeouf
Duração: 123 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Ninfomaníaca: Volume 2
2014-03-15T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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