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Rio 2
Rio 2
Continuações são sempre um perigo. O primeiro projeto de Carlos Saldanha em Hollywood já tinha demonstrado isso, já que o primeiro A Era do Gelo é muito bem resolvido e os demais vão caindo de qualidade. Com Rio, o resultado é ainda mais complicado, com um roteiro requentado, forçando uma aventura muito longe da cidade maravilhosa.
Blu está feliz com sua família formada com Jade e seus três filhos. Vivem em um recanto criado por Linda e Túlio, sempre com hábitos humanoides que deixam a ararinha irritada. Tanto que os filhotes já estão vendo televisão, comendo panquecas e usando iPods. Tudo muda com a notícia de que o casal de pesquisadores encontrou indícios de que existem outras ararinhas azuis morando na Amazônia. Jade, então, resolve levar a família para lá. E os amigos Rafael, Nico e Pedro resolvem acompanhá-los.
Muito mais musical que o primeiro filme, Rio 2 traz uma diversidade de ritmos ainda mais interessante. Temos, inclusive, mais tambores e sons típicos do norte. Mas, sem perder o samba que é a marca maior da trama, ainda que dessa vez, não estejamos no Carnaval. Temos até um momento de show de calouros, quando Nico e Pedro fazem uma audição na floresta em busca do novo talento para o Carnaval. E lá vemos e ouvimos de tudo, desde música clássica, ópera, passando por pop e disco e até uma piada com a capoeira e a Bahia, digamos, mais lenta.
Na verdade, o filme começa no Réveillon, mostrando a cidade cheia de pessoas nas ruas, praias e sacadas esperando a chegada do ano novo. Uma forma de manter o padrão das paisagens locais em grandiosidade. Mas, o Rio aqui é apenas o ponto de partida. Uma viagem rápida faz uma espécie de tour pelo país, com direito a passagens por Salvador, Ouro Preto, Brasília, entre outras. Porém, tudo muito rápido, misturando as imagens dos filmes, com uma animação simulando um 2D em papel para traçar as rotas. Até que chegamos no coração da Amazônia, onde conheceremos as ararinhas que se escondem dos homens.
Nesse ponto, temos um dos maiores problemas do roteiro de Rio 2, a multiplicação de plots, com um exagero de vilões e situações excessivamente negativas, só para criar confusões para Blu e sua família. A cacatua Nigel retorna, com problemas de saúde e com uma perereca venenosa apaixonada por ele. Isso sem falar no tamanduá Carlitos com direito a chapéu coco. Mas, ele não é o único perigo real e imediato.
A trama traz um senhor, caricatura do homem mau de negócios, que está praticando o desmatamento ilegal na selva. Ele e o coordenador da ação são outros dois vilões que ameaçarão a turma tanto de bichos, quando a dupla humana, sempre exageradamente atrapalhada também. O fato de Linda e Túlio serem tão bobos, ajuda na caricatura, da mesma forma que Blu é um atrapalhado.
Ele ainda irá enfrentar mais dois adversários, o pai de Jade e a ararinha Roberto, seu braço direito. Ambos verão em Blu um "bicho de estimação", quase um inimigo do grupo, por ser a favor de humanos. Neste ponto, o filme ganha algumas camadas interessantes, demonstrando as diferenças de sonhos e identificações de Blu e Jade, já que ele é um ser urbano, que gosta das facilidades da civilização, enquanto ela é uma selvagem sonhando em uma vida mais aberta e livre. Isso cria um conflito interessante, ainda que assim, Blu se assemelhe muito ao protagonista da série Madagascar, o leão Alex, que sonha em voltar a seu zoológico.
A Copa do Mundo que seria outro plot do filme, acaba sub-aproveitada, tendo apenas uma inclusão forçada e estranha do futebol na mata. A cena se torna estranha a todo o discurso de bichos selvagens em seu habitat, e ainda cria um clímax extremamente clichê que Os Trapalhões já utilizaram de maneira bem melhor em Os Trapalhões e o Rei do Futebol (1986).
No final, Rio 2 é uma grande mistura quase indigesta, que traz os carismáticos personagens de volta, divertindo os fãs e nos apresentando uma gama de músicas boas e diversificadas, se "Favo de mel" já foi indicado ao Oscar, temos aqui outra boa oportunidade de aparecer por lá. No mais, daquelas continuações que se aproveitam de um sucesso para arrecadar um pouco mais.
Rio 2 (Rio 2, 2014 / EUA)
Direção: Carlos Saldanha
Roteiro: Carlos Saldanha e Don Rhymer
Duração: 101 min.
Blu está feliz com sua família formada com Jade e seus três filhos. Vivem em um recanto criado por Linda e Túlio, sempre com hábitos humanoides que deixam a ararinha irritada. Tanto que os filhotes já estão vendo televisão, comendo panquecas e usando iPods. Tudo muda com a notícia de que o casal de pesquisadores encontrou indícios de que existem outras ararinhas azuis morando na Amazônia. Jade, então, resolve levar a família para lá. E os amigos Rafael, Nico e Pedro resolvem acompanhá-los.
Muito mais musical que o primeiro filme, Rio 2 traz uma diversidade de ritmos ainda mais interessante. Temos, inclusive, mais tambores e sons típicos do norte. Mas, sem perder o samba que é a marca maior da trama, ainda que dessa vez, não estejamos no Carnaval. Temos até um momento de show de calouros, quando Nico e Pedro fazem uma audição na floresta em busca do novo talento para o Carnaval. E lá vemos e ouvimos de tudo, desde música clássica, ópera, passando por pop e disco e até uma piada com a capoeira e a Bahia, digamos, mais lenta.
Na verdade, o filme começa no Réveillon, mostrando a cidade cheia de pessoas nas ruas, praias e sacadas esperando a chegada do ano novo. Uma forma de manter o padrão das paisagens locais em grandiosidade. Mas, o Rio aqui é apenas o ponto de partida. Uma viagem rápida faz uma espécie de tour pelo país, com direito a passagens por Salvador, Ouro Preto, Brasília, entre outras. Porém, tudo muito rápido, misturando as imagens dos filmes, com uma animação simulando um 2D em papel para traçar as rotas. Até que chegamos no coração da Amazônia, onde conheceremos as ararinhas que se escondem dos homens.
Nesse ponto, temos um dos maiores problemas do roteiro de Rio 2, a multiplicação de plots, com um exagero de vilões e situações excessivamente negativas, só para criar confusões para Blu e sua família. A cacatua Nigel retorna, com problemas de saúde e com uma perereca venenosa apaixonada por ele. Isso sem falar no tamanduá Carlitos com direito a chapéu coco. Mas, ele não é o único perigo real e imediato.
A trama traz um senhor, caricatura do homem mau de negócios, que está praticando o desmatamento ilegal na selva. Ele e o coordenador da ação são outros dois vilões que ameaçarão a turma tanto de bichos, quando a dupla humana, sempre exageradamente atrapalhada também. O fato de Linda e Túlio serem tão bobos, ajuda na caricatura, da mesma forma que Blu é um atrapalhado.
Ele ainda irá enfrentar mais dois adversários, o pai de Jade e a ararinha Roberto, seu braço direito. Ambos verão em Blu um "bicho de estimação", quase um inimigo do grupo, por ser a favor de humanos. Neste ponto, o filme ganha algumas camadas interessantes, demonstrando as diferenças de sonhos e identificações de Blu e Jade, já que ele é um ser urbano, que gosta das facilidades da civilização, enquanto ela é uma selvagem sonhando em uma vida mais aberta e livre. Isso cria um conflito interessante, ainda que assim, Blu se assemelhe muito ao protagonista da série Madagascar, o leão Alex, que sonha em voltar a seu zoológico.
A Copa do Mundo que seria outro plot do filme, acaba sub-aproveitada, tendo apenas uma inclusão forçada e estranha do futebol na mata. A cena se torna estranha a todo o discurso de bichos selvagens em seu habitat, e ainda cria um clímax extremamente clichê que Os Trapalhões já utilizaram de maneira bem melhor em Os Trapalhões e o Rei do Futebol (1986).
No final, Rio 2 é uma grande mistura quase indigesta, que traz os carismáticos personagens de volta, divertindo os fãs e nos apresentando uma gama de músicas boas e diversificadas, se "Favo de mel" já foi indicado ao Oscar, temos aqui outra boa oportunidade de aparecer por lá. No mais, daquelas continuações que se aproveitam de um sucesso para arrecadar um pouco mais.
Rio 2 (Rio 2, 2014 / EUA)
Direção: Carlos Saldanha
Roteiro: Carlos Saldanha e Don Rhymer
Duração: 101 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Rio 2
2014-03-26T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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