Cinema em luto - Ao amigo que parte
A vida tem dessas coisas que não dá para compreender, apenas aceitar. Na madrugada do dia 02 de maio, João Carlos Sampaio sentiu um mal súbito e nos deixou. Um dos críticos cinematográficos mais atuantes do país, ele não se contentava em escrever sua coluna no Jornal A Tarde onde estava desde 1995. Era também curador, jurado e palestrante em festivais e seminários. Além de ministrar cursos e oficinas dedicadas ao ofício da interpretação fílmica.
Peço desculpas por um texto tão pessoal, mas precisava prestar uma última homenagem a uma pessoa que foi muito importante para mim. Não posso dizer que João me ensinou o ofício, pois antes de chegar a ele, já escrevia e tinha passado por cursos e pela especialização em cinema. Mas, sem dúvidas, foi um guia generoso em muitos momentos dessa minha ainda curta trajetória.
Foi em uma dessas oficinas, no Panorama Internacional Coisa de Cinema que nos aproximamos. Como uma espécie de mentor, ele sempre incentivou essa nova geração apaixonada por cinema, da qual faço parte. Para nós, ele foi como um Walter da Silveira, indicando, orientando, recomendando. Foi através dele que fiz parte do projeto JorgeCineAmado, fui jurada da Mostra de Vitória da Conquista (da qual ele era curador), dei palestra no Colégio Oficina e entrei para a Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine), da qual ele era sócio-fundador. Isso sem falar em todas as trocas de e-mail generosos, compartilhando eventos ou cabines em uma grande rede baiana.
No início do ano, ele nos deu a honra de participar da mesa como tema “A crítica em favor do cinema”, no evento de cinco anos do CinePipocaCult. Sempre generoso e simpático, ele falou daquilo que mais amava com muita simplicidade. Agradeço por todas as palavras de incentivo que nos deu, não apenas naquele momento, como em tantos outros. E só não falo mais, porque já estou ouvindo ele reclamando como sempre: "não fiz nada, eu só aponto, o resto é com vocês".
João era assim, sem frescuras, sempre brincando, se divertindo, mesmo quando falavam mal do seu time do coração, Vitória, ou quando falava da sua cidade natal, Aratuípe, no interior da Bahia e que ele sempre dizia ser uma grande megalópole. Tive a oportunidade de passar por lá, na casa da simpática avó dele, quando voltávamos da Mostra de Conquista em 2012, e pude conferir o carinho com que tratava a família e a cidade natal. São momentos únicos que ficam agora em nossa memória e registrados em sua página no Facebook.
Mas, mesmo para quem não o conheceu pessoalmente, João Carlos Sampaio era um exemplo. Sua coluna era uma das poucas que resistiram nos jornais e, por estar sempre circulando pelos festivais nacionais, fez muitos amigos. Tornou-se referência de crítica cinematográfica no Brasil, representando muito bem a Bahia e nos dando visibilidade.
Estava se preparando para mais um sonho. O início do Cineclube Glauber Rocha, marcado para o próximo dia 06 de maio, onde comandaria um debate após a sessão de Laranja Mecânica. Lembro da empolgação dele com o projeto, no qual poderíamos ver "filmes marcantes do cinema no cinema", com cópias restauradas em película ou digital da melhor qualidade. Um passo a mais para fazer renascer a cinefilia baiana, que ainda parece meio adormecida.
A nós, agora, só resta pegar o bastão e não deixar esse sonho morrer. João não gostaria disso. Pelo contrário, temos que continuar em frente, prestigiando o cinema, estudando e transmitindo tudo aquilo que acreditamos que nunca morrerá de fato. Não por acaso, ele se foi assim, em meio a um Festival, podemos dizer que faleceu trabalhando, sem pendurar as chuteiras, para continuar onde quer que esteja, levando essa arte de uma maneira bela e séria, mas sem nunca perder o bom humor.
Vá em paz, João.
Peço desculpas por um texto tão pessoal, mas precisava prestar uma última homenagem a uma pessoa que foi muito importante para mim. Não posso dizer que João me ensinou o ofício, pois antes de chegar a ele, já escrevia e tinha passado por cursos e pela especialização em cinema. Mas, sem dúvidas, foi um guia generoso em muitos momentos dessa minha ainda curta trajetória.
Foi em uma dessas oficinas, no Panorama Internacional Coisa de Cinema que nos aproximamos. Como uma espécie de mentor, ele sempre incentivou essa nova geração apaixonada por cinema, da qual faço parte. Para nós, ele foi como um Walter da Silveira, indicando, orientando, recomendando. Foi através dele que fiz parte do projeto JorgeCineAmado, fui jurada da Mostra de Vitória da Conquista (da qual ele era curador), dei palestra no Colégio Oficina e entrei para a Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine), da qual ele era sócio-fundador. Isso sem falar em todas as trocas de e-mail generosos, compartilhando eventos ou cabines em uma grande rede baiana.
No início do ano, ele nos deu a honra de participar da mesa como tema “A crítica em favor do cinema”, no evento de cinco anos do CinePipocaCult. Sempre generoso e simpático, ele falou daquilo que mais amava com muita simplicidade. Agradeço por todas as palavras de incentivo que nos deu, não apenas naquele momento, como em tantos outros. E só não falo mais, porque já estou ouvindo ele reclamando como sempre: "não fiz nada, eu só aponto, o resto é com vocês".
João era assim, sem frescuras, sempre brincando, se divertindo, mesmo quando falavam mal do seu time do coração, Vitória, ou quando falava da sua cidade natal, Aratuípe, no interior da Bahia e que ele sempre dizia ser uma grande megalópole. Tive a oportunidade de passar por lá, na casa da simpática avó dele, quando voltávamos da Mostra de Conquista em 2012, e pude conferir o carinho com que tratava a família e a cidade natal. São momentos únicos que ficam agora em nossa memória e registrados em sua página no Facebook.
Mas, mesmo para quem não o conheceu pessoalmente, João Carlos Sampaio era um exemplo. Sua coluna era uma das poucas que resistiram nos jornais e, por estar sempre circulando pelos festivais nacionais, fez muitos amigos. Tornou-se referência de crítica cinematográfica no Brasil, representando muito bem a Bahia e nos dando visibilidade.
Estava se preparando para mais um sonho. O início do Cineclube Glauber Rocha, marcado para o próximo dia 06 de maio, onde comandaria um debate após a sessão de Laranja Mecânica. Lembro da empolgação dele com o projeto, no qual poderíamos ver "filmes marcantes do cinema no cinema", com cópias restauradas em película ou digital da melhor qualidade. Um passo a mais para fazer renascer a cinefilia baiana, que ainda parece meio adormecida.
A nós, agora, só resta pegar o bastão e não deixar esse sonho morrer. João não gostaria disso. Pelo contrário, temos que continuar em frente, prestigiando o cinema, estudando e transmitindo tudo aquilo que acreditamos que nunca morrerá de fato. Não por acaso, ele se foi assim, em meio a um Festival, podemos dizer que faleceu trabalhando, sem pendurar as chuteiras, para continuar onde quer que esteja, levando essa arte de uma maneira bela e séria, mas sem nunca perder o bom humor.
Vá em paz, João.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Cinema em luto - Ao amigo que parte
2014-05-03T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
cinema baiano|João Carlos Sampaio|materias|
Assinar:
Postar comentários (Atom)
cadastre-se
Inscreva seu email aqui e acompanhe
os filmes do cinema com a gente:
os filmes do cinema com a gente:
No Cinema podcast
anteriores deste site
mais populares do site
-
King Richard: Criando Campeãs (2021), dirigido por Reinaldo Marcus Green , é mais do que apenas uma cinebiografia : é um retrato emocionalm...
-
Cinema Sherlock Homes O filme de destaque atualmente é esta releitura do clássico do mistério pelas mãos de Guy Ritchie. O ex de Madonna p...
-
Clint Eastwood me conquistou aos poucos. Ele sabe como construir um filme que emociona e, agora, parece ter escolhido Matt Damon como seu ...
-
Eletrizante é a melhor palavra para definir esse filme de Tony Scott . Que o diretor sabe fazer filmes de ação não é novidade, mas uma tra...
-
O Soterópolis programa cultural da TVE Bahia, fez uma matéria muito interessante sobre blogs baianos. Esta que vos fala deu uma pequena con...
-
Olhando para A Múmia (1999), mais de duas décadas após seu lançamento, é fácil perceber como o filme se tornou um marco do final dos anos ...
-
Amor à Queima Roupa (1993), dirigido por Tony Scott e roteirizado por Quentin Tarantino , é um daqueles filmes que, ao longo dos anos, se...
-
O CinePipocaCult adverte: se você sofre de claustrofobia, síndrome do pânico ou problemas cardíacos é melhor evitar esse filme. Brincadeiras...
-
Fui ao cinema sem grandes pretensões. Não esperava um novo Matrix, nem mesmo um grande filme de ação. Difícil definir Gamer, que recebeu du...