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O Prisioneiro da Grade de Ferro foi um dos documentários que mais me impressionou na época em que vi. Instigante, forte, entra literalmente no cerne do sistema carcerário e mostra mais do que criminosos, mas seres esquecidos, largados por um sistema que iguala a todos em descaso e condições precárias. Dirigido por Paulo Sacramento em 2003 que, só agora, retorna à direção. Desta vez com uma ficção que, apesar de instigar, não consegue um resultado tão satisfatório.
Riocorrente é um filme que mistura contemplação realista, quase documental, com intervenções metafóricas que nos dão uma sensação surreal, para além do visível. Isso à princípio causa um estranhamento positivo, assim como os quatro personagens que fazem a narrativa andar. Mas, aos poucos os efeitos vão ficando repetitivos e percebemos o vazio daqueles mundos, repletos de estereótipos que esvaziam a própria busca do filme.
Talvez, tal qual o personagem de Roberto Audio critica, estejamos em busca do novo. A ditadura do novo que ele tanto reclama que sufoca a realidade. Mas, na verdade, ao bradar essas palavras e ser um artista frustrado, ele nos mostra seu próprio paradoxo. Não queremos o novo, apenas o bem feito, o que nos dê algo. E nem Marcelo, nem Renata, nem Carlos nos dizem a que vieram. Apenas, talvez Exu, o menino que vaga pelas ruas, seja, de longe, o personagem mais interessante da trama.
Enquanto Marcelo se frusta e brada contra a humanidade que não entende a arte verdadeira e Carlos brada por se sentir o injustiçado do mundo, exalando agressividade, Renata transita entre ambos, em um triângulo amoroso que parece puro desejo. E que ela demonstra insaciável.
Passamos boa parte da narrativa contemplando essas vidas. Marcelo escrevendo, seja em sua máquina de escrever suas próprias histórias, seja no computador as matérias do jornal. Renata fazendo sexo com ambos. E Carlos tentando trabalhar honestamente, ainda que caindo no antigo serviço de roubo de carros e buscando Exu pelas ruas.
À medida que a narrativa avança, vamos sendo impactados pelas metáforas. Pelo leão preso na jaula, os ratos comendo as notícias dos jornais, as atrações de circo, como lançador de faças ou globo da morte, a montanha russa. As chamas vão tomando conta de tudo, da cabeça, da garrafa, até o ponto chave que encerra a trama, como uma ebulição latente nos personagens que tentam se livrar da rotina que os mata.
Mas, ainda que faça sentido e tenha diversos significados, Riocorrente parece exatamente isso. Um rio que corre, sem maiores impactos, nos fazendo apenas contemplar uma ideia repetitiva, que não nos acrescenta. Os personagens não nos acrescentam por não parecerem únicos. Apenas tipos já vistos, representações rasas de estereótipos sem maior profundidade. Isso acaba frustrando, ainda que a construção imagética envolva.
Os atores, no entanto, fazem o seu papel, nos dando bons momentos de catarse dos personagens, ainda que não nos atinja como deveria. Eles são um dos destaques do filme, assim como a fotografia e a montagem que funcionam perfeitamente na proposta de seu diretor da mistura documental e simbólica. Falta, apenas uma profundidade nos personagens. Melhor construídos, tudo faria mais sentido e seria mais interessante.
Riocorrente (2014 / Brasil)
Direção: Paulo Sacramento
Roteiro: Paulo Sacramento
Com: Roberto Audio, Vinicius Dos Anjos, Simone Iliescu
Duração: 79 min.
Riocorrente é um filme que mistura contemplação realista, quase documental, com intervenções metafóricas que nos dão uma sensação surreal, para além do visível. Isso à princípio causa um estranhamento positivo, assim como os quatro personagens que fazem a narrativa andar. Mas, aos poucos os efeitos vão ficando repetitivos e percebemos o vazio daqueles mundos, repletos de estereótipos que esvaziam a própria busca do filme.
Talvez, tal qual o personagem de Roberto Audio critica, estejamos em busca do novo. A ditadura do novo que ele tanto reclama que sufoca a realidade. Mas, na verdade, ao bradar essas palavras e ser um artista frustrado, ele nos mostra seu próprio paradoxo. Não queremos o novo, apenas o bem feito, o que nos dê algo. E nem Marcelo, nem Renata, nem Carlos nos dizem a que vieram. Apenas, talvez Exu, o menino que vaga pelas ruas, seja, de longe, o personagem mais interessante da trama.
Enquanto Marcelo se frusta e brada contra a humanidade que não entende a arte verdadeira e Carlos brada por se sentir o injustiçado do mundo, exalando agressividade, Renata transita entre ambos, em um triângulo amoroso que parece puro desejo. E que ela demonstra insaciável.
Passamos boa parte da narrativa contemplando essas vidas. Marcelo escrevendo, seja em sua máquina de escrever suas próprias histórias, seja no computador as matérias do jornal. Renata fazendo sexo com ambos. E Carlos tentando trabalhar honestamente, ainda que caindo no antigo serviço de roubo de carros e buscando Exu pelas ruas.
À medida que a narrativa avança, vamos sendo impactados pelas metáforas. Pelo leão preso na jaula, os ratos comendo as notícias dos jornais, as atrações de circo, como lançador de faças ou globo da morte, a montanha russa. As chamas vão tomando conta de tudo, da cabeça, da garrafa, até o ponto chave que encerra a trama, como uma ebulição latente nos personagens que tentam se livrar da rotina que os mata.
Mas, ainda que faça sentido e tenha diversos significados, Riocorrente parece exatamente isso. Um rio que corre, sem maiores impactos, nos fazendo apenas contemplar uma ideia repetitiva, que não nos acrescenta. Os personagens não nos acrescentam por não parecerem únicos. Apenas tipos já vistos, representações rasas de estereótipos sem maior profundidade. Isso acaba frustrando, ainda que a construção imagética envolva.
Os atores, no entanto, fazem o seu papel, nos dando bons momentos de catarse dos personagens, ainda que não nos atinja como deveria. Eles são um dos destaques do filme, assim como a fotografia e a montagem que funcionam perfeitamente na proposta de seu diretor da mistura documental e simbólica. Falta, apenas uma profundidade nos personagens. Melhor construídos, tudo faria mais sentido e seria mais interessante.
Riocorrente (2014 / Brasil)
Direção: Paulo Sacramento
Roteiro: Paulo Sacramento
Com: Roberto Audio, Vinicius Dos Anjos, Simone Iliescu
Duração: 79 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Riocorrente
2014-06-04T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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