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De Menor
De Menor
Vencedor do Festival do Rio de 2013, De Menor, filme de estreia da cineasta Caru Alves de Souza, nos instiga em diversos aspectos. A obra mostra a realidade do menor infrator de maneira quase contemplativa, que, mesmo sem desenvolver ou buscar soluções, nos dá visões e subsídios para tirarmos conclusões próprias.
Na trama, Rita Batata é Helena, advogada recém formada que é defensora pública de menores infratores. Sua vida se divide entre o fórum, onde busca humanizar seus clientes e sua casa, onde cuida da tutela de Caio, seu irmão mais novo, após a morte dos pais. O que ela não percebe é que Caio também está indo por caminhos tortuosos e quando sua vida familiar e profissional se misturam, tudo complica.
Em muitos aspectos, De Menor me lembrou Justiça, de Maria Augusta Ramos. Assim como o documentário, o filme de Caru Alves de Souza reserva bastante tempo de sua projeção na sala de julgamento. Os casos são apresentados em relato pelo juiz interpretado por Caco Ciocler e há sempre um tom irônico e duro em sua condução, contrastando com as tentativas de humanização de Helena.
É interessante acompanhar o processo, com os argumentos do promotor e da defensora, vendo que, na maioria das vezes, as opções para o menor infrator são prejudiciais à sua própria formação. Mesmo sem citar, o filme acaba discutindo a questão da maioridade penal e todo o sistema penitenciário do país. Ao colocar sua câmera ali em boa parte do tempo, a cineasta deixa clara sua intenção, incitando as pessoas a pensar, sem necessariamente abrir a discussão de uma maneira mais explícita.
Em seus momentos de reflexão na praia, onde parece fugir dos problemas, Helena se torna novamente uma jovem frágil e simples. Assim como em casa, pode ser a irmã de Caio de uma maneira mais solta. Até que os conflitos começam a surgir e ela tem que assumir a postura de tutora, substituta dos pais, quando também ainda parece frágil, precisando de alguém que cuide dela.
Essa fragilidade e emoção complexa se revelam quando ela precisa defender o próprio irmão. Se antes Helena era mais segura e ditava sua defesa de maneira determinada, ao falar de Caio ela acaba construindo quase uma súplica em favor do garoto, acreditando completamente em sua inocência.
A atuação de Rita Batata chama a atenção, também por essas nuanças na compreensão da personagem que teve que se tornar adulta antes do tempo, devido a tragédia familiar, e se tornar responsável por um irmão que é só um pouco mais novo que ela. Até por isso, não a respeita como deveria. Caio, no entanto, não tem motivações tão bem definidas. Aparece sempre como um adolescente comum, alegre e brincalhão, até que revela essa sua outra face. Há pouco subsídios para o ator Giovanni Gallo trabalhar.
De Menor é um filme instigante. Poderia trabalhar melhor os personagens e o tema, mas as escolhas de Caru Alves de Souza nos colocam diante de um tema complexo que merece sempre a atenção. Como definiu a crítica no Festival do Rio, um filme surpreendente.
De Menor (De Menor, 2014 / Brasil)
Direção: Caru Alves de Souza
Roteiro: Caru Alves de Souza e Fabio Meira
Com: Rita Batata, Giovanni Gallo, Caco Ciocler
Duração: 77 min.
Na trama, Rita Batata é Helena, advogada recém formada que é defensora pública de menores infratores. Sua vida se divide entre o fórum, onde busca humanizar seus clientes e sua casa, onde cuida da tutela de Caio, seu irmão mais novo, após a morte dos pais. O que ela não percebe é que Caio também está indo por caminhos tortuosos e quando sua vida familiar e profissional se misturam, tudo complica.
Em muitos aspectos, De Menor me lembrou Justiça, de Maria Augusta Ramos. Assim como o documentário, o filme de Caru Alves de Souza reserva bastante tempo de sua projeção na sala de julgamento. Os casos são apresentados em relato pelo juiz interpretado por Caco Ciocler e há sempre um tom irônico e duro em sua condução, contrastando com as tentativas de humanização de Helena.
É interessante acompanhar o processo, com os argumentos do promotor e da defensora, vendo que, na maioria das vezes, as opções para o menor infrator são prejudiciais à sua própria formação. Mesmo sem citar, o filme acaba discutindo a questão da maioridade penal e todo o sistema penitenciário do país. Ao colocar sua câmera ali em boa parte do tempo, a cineasta deixa clara sua intenção, incitando as pessoas a pensar, sem necessariamente abrir a discussão de uma maneira mais explícita.
Em seus momentos de reflexão na praia, onde parece fugir dos problemas, Helena se torna novamente uma jovem frágil e simples. Assim como em casa, pode ser a irmã de Caio de uma maneira mais solta. Até que os conflitos começam a surgir e ela tem que assumir a postura de tutora, substituta dos pais, quando também ainda parece frágil, precisando de alguém que cuide dela.
Essa fragilidade e emoção complexa se revelam quando ela precisa defender o próprio irmão. Se antes Helena era mais segura e ditava sua defesa de maneira determinada, ao falar de Caio ela acaba construindo quase uma súplica em favor do garoto, acreditando completamente em sua inocência.
A atuação de Rita Batata chama a atenção, também por essas nuanças na compreensão da personagem que teve que se tornar adulta antes do tempo, devido a tragédia familiar, e se tornar responsável por um irmão que é só um pouco mais novo que ela. Até por isso, não a respeita como deveria. Caio, no entanto, não tem motivações tão bem definidas. Aparece sempre como um adolescente comum, alegre e brincalhão, até que revela essa sua outra face. Há pouco subsídios para o ator Giovanni Gallo trabalhar.
De Menor é um filme instigante. Poderia trabalhar melhor os personagens e o tema, mas as escolhas de Caru Alves de Souza nos colocam diante de um tema complexo que merece sempre a atenção. Como definiu a crítica no Festival do Rio, um filme surpreendente.
De Menor (De Menor, 2014 / Brasil)
Direção: Caru Alves de Souza
Roteiro: Caru Alves de Souza e Fabio Meira
Com: Rita Batata, Giovanni Gallo, Caco Ciocler
Duração: 77 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
De Menor
2014-09-02T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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