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Gabriel Mascaro
Geová Manoel Dos Santos
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Ventos de Agosto
Ventos de Agosto
Vindo de um início de carreira bastante voltado para o documentário, Gabriel Mascaro flerta com a linguagem em sua primeira ficção. É tudo tão orgânico que parece até que ele está ali, apenas registrando a rotina de uma pequena vila de pescadores.
Não há uma trama, mas tramas que permeiam a questão do não pertencimento, da rotina, da vida, do mar e da morte. Jeison é um pescador e catador de coco local. Shirley é uma moça da cidade que é obrigada a se mudar para a vila para cuidar de sua avó doente. Juntos eles vivenciam o local em um romance quase apenas físico, escondido, entre uma entrega de coco e pescaria de barco. Até que a morte começa a rondar a vila a partir do achado de uma caveira e depois de um corpo no mar.
Em meio a isso, temos uma inserção desarmônica de um pesquisador de vento. Um homem vindo e ido do nada, surge com seu equipamento e começa a registrar o vento no local. A situação se torna quase uma esquete que interrompe a rotina de Jeison e Shirley nos trazendo cenas muito próprias do documentário. Na verdade, o homem, que é interpretado pelo próprio diretor, é uma espécie de metáfora desse trabalho invasivo da equipe de filmagem, transformando os locais na busca de um registro quase insano.
Em determinado momento, uma pessoa pergunta ao profissional se é possível viver de vento. Talvez um desabafo da dificuldade de viver de cinema no país. Ainda mais de cinema independente. Mas, essa inserção estranha ao próprio ritmo do filme acaba sendo forçada, sem tanta lógica dentro daquele universo criado, que se reconstrói muito melhor quando o personagem Jeison começa a se sentir obcecado pelo cadáver que descobriu na praia.
A maior força de Ventos de Agosto, no entanto, é essa construção poética, quase bucólica, de um espaço onde a natureza dita as regras. A questão do cemitério à beira mar e todo o significado para o personagem. Sua culpa em relação à mãe, o medo do mar invadir as casas, ao mesmo tempo em que tem a sensação do não pertencimento de Shirley e até mesmo o jogo da relação não resolvida entre os dois. Tudo isso é curioso, nos envolve e nos faz acompanhar a trama, que flerta ainda com o humor, principalmente na cena da delegacia.
Ainda assim, o filme parece carecer de um propósito maior. Uma amarra que o justifique ou mesmo uma construção mais solta de fato. Parece que vemos coisas arrumadas para parecerem naturais em alguns momentos. Temos até uma cena onde a personagem de Dandara se lambuza de Coca-Cola para trazer a tradição antiga do bronzeamento a base do refrigerante, mas que parece armada, principalmente por ela já estar exposta ao sol há algum tempo. Da mesma forma que os personagens não trazem nenhuma profundidade, são raros, estereótipos pouco explorados e, curiosamente, bem interpretados.
De qualquer maneira, Ventos de Agosto é um filme bonito. Sua construção à beira mar através de sua força e suas simbologias nos trazem bons momentos e reflexões, ainda que muitas, clichês.
Filme visto no 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
Ventos de Agosto (2014 / Brasil)
Direção: Gabriel Mascaro
Roteiro: Rachel Ellis, Gabriel Mascaro
Com: Dandara de Morais, Geová Manoel Dos Santos
Duração: 77 min.
Não há uma trama, mas tramas que permeiam a questão do não pertencimento, da rotina, da vida, do mar e da morte. Jeison é um pescador e catador de coco local. Shirley é uma moça da cidade que é obrigada a se mudar para a vila para cuidar de sua avó doente. Juntos eles vivenciam o local em um romance quase apenas físico, escondido, entre uma entrega de coco e pescaria de barco. Até que a morte começa a rondar a vila a partir do achado de uma caveira e depois de um corpo no mar.
Em meio a isso, temos uma inserção desarmônica de um pesquisador de vento. Um homem vindo e ido do nada, surge com seu equipamento e começa a registrar o vento no local. A situação se torna quase uma esquete que interrompe a rotina de Jeison e Shirley nos trazendo cenas muito próprias do documentário. Na verdade, o homem, que é interpretado pelo próprio diretor, é uma espécie de metáfora desse trabalho invasivo da equipe de filmagem, transformando os locais na busca de um registro quase insano.
Em determinado momento, uma pessoa pergunta ao profissional se é possível viver de vento. Talvez um desabafo da dificuldade de viver de cinema no país. Ainda mais de cinema independente. Mas, essa inserção estranha ao próprio ritmo do filme acaba sendo forçada, sem tanta lógica dentro daquele universo criado, que se reconstrói muito melhor quando o personagem Jeison começa a se sentir obcecado pelo cadáver que descobriu na praia.
A maior força de Ventos de Agosto, no entanto, é essa construção poética, quase bucólica, de um espaço onde a natureza dita as regras. A questão do cemitério à beira mar e todo o significado para o personagem. Sua culpa em relação à mãe, o medo do mar invadir as casas, ao mesmo tempo em que tem a sensação do não pertencimento de Shirley e até mesmo o jogo da relação não resolvida entre os dois. Tudo isso é curioso, nos envolve e nos faz acompanhar a trama, que flerta ainda com o humor, principalmente na cena da delegacia.
Ainda assim, o filme parece carecer de um propósito maior. Uma amarra que o justifique ou mesmo uma construção mais solta de fato. Parece que vemos coisas arrumadas para parecerem naturais em alguns momentos. Temos até uma cena onde a personagem de Dandara se lambuza de Coca-Cola para trazer a tradição antiga do bronzeamento a base do refrigerante, mas que parece armada, principalmente por ela já estar exposta ao sol há algum tempo. Da mesma forma que os personagens não trazem nenhuma profundidade, são raros, estereótipos pouco explorados e, curiosamente, bem interpretados.
De qualquer maneira, Ventos de Agosto é um filme bonito. Sua construção à beira mar através de sua força e suas simbologias nos trazem bons momentos e reflexões, ainda que muitas, clichês.
Filme visto no 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
Ventos de Agosto (2014 / Brasil)
Direção: Gabriel Mascaro
Roteiro: Rachel Ellis, Gabriel Mascaro
Com: Dandara de Morais, Geová Manoel Dos Santos
Duração: 77 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Ventos de Agosto
2014-09-29T11:05:00-03:00
Amanda Aouad
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