
São seis histórias, todas dirigidas e roteirizadas por Damián Szifrón. E todas trazendo um mesmo mote: a vingança. A relação humana, a questão do colapso da sociedade atual, o jogo de poder, a ironia. Todos esses elementos estão presentes nessa tragicomédia que, não por acaso, tem Pedro Almodóvar como um dos produtores. O tom é farsesco em uma boa dose nonsense. Não deixa de ser impressionante a sensação de unidade e constância que o filme nos traz.
A primeira história acontece em um avião, e talvez seja a mais fraca de todas, apesar do excelente desfecho que nos dá um bom gancho para o início do filme. Toda a situação dentro do avião, no entanto, é over, não nos passa verdade, ainda que as coincidências se justifiquem. O estranhamento do texto é bem desenvolvido pelos atores, mas parece sempre faltar algo ao espectador.

Após dois episódios quase claustrofóbicos em apenas um ambiente, desembarcamos em uma estrada, em um plano que mais parece de propaganda de carro. Uma música agradável, curvas e o belo automóvel cruzando-a. Até que o motorista encontra um carro velho em sua frente que não quer lhe dar passagem, é o suficiente para uma inimizade levada às últimas consequências. Em "El más fuerte" o tom over funciona perfeitamente. Faz parte da situação e da construção dos personagens. O jogo de câmera também é muito bom, nos dando a visão dos motoristas, em diversos momentos e escalando, aos poucos, a loucura de cada um.

Depois temos o episódio mais forte em diversos aspectos. Muitos dirão que "La propuesta" foge do mote de vingança, mas se observarmos pelo lado do viúvo e da multidão que cerca a casa, não deixa de ser. Mas, a história aqui se centra na fuga de responsabilidades e extorsão de todos os lados. Um garoto rico atropela uma mulher grávida, levando ela e o bebê à morte. Para não ver o filho na cadeia, o pai arma com o advogado da família e o investigador oficial para culpar o caseiro Santiago, que levará uma "indenização" pelo favor de assumir a culpa. Aqui, o ponto alto são os diálogos da negociação, a critica política e social é feita de maneira extremamente irônica.

O filme Relatos Selvagens acaba sendo essa bela mistura de situações cotidianas com pitadas nonsenses e exageros para retratar nossa sociedade, suas hipocrisias e disputas quase doentias. A forma como Damián Szifrón conduz cada um dos episódios só ajuda a manter a unidade e o bom nível da trama. Surpreendendo, principalmente por isso.
Relatos Selvagens (Relatos Salvajes, 2014 / Argentina)
Direção: Damián Szifrón
Roteiro: Damián Szifrón
Com: Ricardo Darín, Liliana Ackerman, Luis Manuel Altamirano García, Alejandro Angelini, Darío Grandinetti
Duração: 122 min.
Hugo · 545 semanas atrás
Bjos
Amanda_Aouad 118p · 545 semanas atrás
bjs
Kamila Azevedo · 545 semanas atrás
Amanda_Aouad 118p · 545 semanas atrás