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2001 - Uma Odisseia no Espaço
2001 - Uma Odisseia no Espaço
"Eu tentei criar uma experiência visual, que se desviasse do campo das palavras e penetrasse diretamente no subconsciente com um teor emocional e filosófico... Projetei o filme para ser uma experiência subjetiva intensa, que atinja o espectador num nível profundo de consciência, exatamente como a música faz... Você está livre para especular como quiser sobre o sentido filosófico e alegórico do filme". Stanley Kubrick
CONTÉM SPOILERS
Esta declaração de Kubrick é um aviso direto. Não tentem entender o filme, pelo menos não de maneira cartesiana, aristotélica, associando causa e efeito; apresentação, desenvolvimento e resolução. Não é esta a função do filme. Na sala do Espaço Itaú Glauber Rocha, onde o filme abriu o X Panorama Internacional Coisa de Cinema, um grupo insistia em conversar buscando saídas. Um que dormia durante boa parte da projeção acordou e perguntou aos amigos: "O macaco já apareceu na nave?", "Como assim?", perguntou o outro. "O macaco não encontrou a pedra? Ele vai aparecer aí." Mal sabe ele que, de certa maneira, o "macaco" está ali. Evoluído como o homem à mercê das máquinas.
De qualquer maneira, essa é a premissa. O pacto fílmico ao adentrar no mundo criado por Kubrick, inspirado pelos livros de Arthur C. Clarke, que também lhe ajudou no roteiro. É possível criar teorias sobre o que cada objeto significa, claro. O próprio diretor pensou em significados para a composição de suas cenas. Mas não é nas minúcias que se compreende 2001, mas sim no conjunto visual, filosófico e artístico.
Muito já se foi dito, escrito e pensado sobre o filme, mas o mais impressionante é que a cada nova visita, a gente acresce algo, uma nova sensação. É como se estivéssemos evoluindo juntos em busca do "homem civilizado". A trajetória desde o macaco, ou primeiro homem, até o bebê estrela que quase toca a Terra após sua "purificação" é a sensação que importa. E ver tudo isso na tela grande do cinema, com um som bem equalizado, foi a melhor experiência, já que minha lembrança dele era apenas da velha e boa televisão.
Isso porque, sem a música tema escolhida para cada parte, o filme perderia muito de sua força. Basta olhar o teste da abertura com a música de Alex North. O impacto da progressão de Assim Falou Zaratustra. A leveza e ao mesmo tempo força de Danúbio Azul. A angústia de Requiem for Soprano. A beleza e melancolia de Gayane Ballet Suite. Tudo contribui para o impacto e andamento da cena. Sem elas, o filme perderia muito do seu encanto.
Ainda que a decupagem técnica seja, como sempre, primorosa. Kubrick supera aqui toda a sua obsessão por perfeição nos mínimos detalhes. Percebemos o alinhamento perfeito dos objetos nas naves. Os detalhes das linhas nas paredes e no uniforme. A simetria em cenários que poderiam ser considerados caóticos, como quando o macaco bate no esqueleto do animal e até as nuvens atrás dele estão equilibradas. Ou quando vemos Dave deitado na cama e um lado do quarto é exatamente igual ao outro. Isso sem falar nas diversas cenas de espaço onde acompanhamos alinhamentos entre planeta, lua e sol.
O universo está em equilíbrio, nós é que precisamos nos alinhar a ele. E o monolito está ali para nos lembrar isso, aparece sempre que vamos dar um novo passo rumo à evolução. Ou evoluímos por causa dele. Não por acaso, antes de se tornar um feto, Dave tente tocar o objeto em um gesto semelhante ao da imagem da criação de Michelângelo.
Mas, se tem algo que nos instiga, impressiona, dá medo e ao mesmo tempo emociona é o computador HAL 9000. Visto por muitos como um vilão, afinal, ele matou quase toda a tripulação da nave Discovery. HAL, na verdade, parece a coisa mais humana naquela nave. Vingativo e desconfiado, ele quer se defender e defender a missão. Era o único ali que sabia o todo, como um deus que tudo controla. Mas, um deus falho. É genial quando ele está sendo desligado e a frase "I'm afraid I can't do that" se torna simplesmente "I'm afraid..." HAL estava com medo. Com medo de morrer? Com medo de não cumprir a missão? Com medo do futuro?
Se não bastasse tudo isso, Kubrick ainda nos brinda com uma ficção científica extremamente cuidadosa. Basta observar as cenas fora da nave onde não há som, nos passos dos astronautas andando com dificuldade por causa da diferença gravitacional, ou nos giros de 360º nos caminhos circulares. Tudo isso, um ano antes da expedição Apollo 11 que chegou à Lua. E ainda tem os efeitos especiais, extremamente simples, feito com luzes, mas que impactou todo o mundo cinematográfico servindo até de referência para George Lucas criar Guerra nas Estrelas.
Por tudo isso, e muito mais, 2001 - Uma Odisseia no Espaço é considerada uma obra-prima do cinema. E mesmo 46 anos depois, ela continua nos impactando, impressionando e deixando pensativos.
2001 - Uma Odisseia no Espaço (2001: A Space Odyssey, 1968 / EUA)
Direção: Stanley Kubrick
Roteiro: Stanley Kubrick e Arthur C. Clarke
Com: Keir Dullea, Gary Lockwood, William Sylvester
Duração: 160 min.
CONTÉM SPOILERS
Esta declaração de Kubrick é um aviso direto. Não tentem entender o filme, pelo menos não de maneira cartesiana, aristotélica, associando causa e efeito; apresentação, desenvolvimento e resolução. Não é esta a função do filme. Na sala do Espaço Itaú Glauber Rocha, onde o filme abriu o X Panorama Internacional Coisa de Cinema, um grupo insistia em conversar buscando saídas. Um que dormia durante boa parte da projeção acordou e perguntou aos amigos: "O macaco já apareceu na nave?", "Como assim?", perguntou o outro. "O macaco não encontrou a pedra? Ele vai aparecer aí." Mal sabe ele que, de certa maneira, o "macaco" está ali. Evoluído como o homem à mercê das máquinas.
De qualquer maneira, essa é a premissa. O pacto fílmico ao adentrar no mundo criado por Kubrick, inspirado pelos livros de Arthur C. Clarke, que também lhe ajudou no roteiro. É possível criar teorias sobre o que cada objeto significa, claro. O próprio diretor pensou em significados para a composição de suas cenas. Mas não é nas minúcias que se compreende 2001, mas sim no conjunto visual, filosófico e artístico.
Muito já se foi dito, escrito e pensado sobre o filme, mas o mais impressionante é que a cada nova visita, a gente acresce algo, uma nova sensação. É como se estivéssemos evoluindo juntos em busca do "homem civilizado". A trajetória desde o macaco, ou primeiro homem, até o bebê estrela que quase toca a Terra após sua "purificação" é a sensação que importa. E ver tudo isso na tela grande do cinema, com um som bem equalizado, foi a melhor experiência, já que minha lembrança dele era apenas da velha e boa televisão.
Isso porque, sem a música tema escolhida para cada parte, o filme perderia muito de sua força. Basta olhar o teste da abertura com a música de Alex North. O impacto da progressão de Assim Falou Zaratustra. A leveza e ao mesmo tempo força de Danúbio Azul. A angústia de Requiem for Soprano. A beleza e melancolia de Gayane Ballet Suite. Tudo contribui para o impacto e andamento da cena. Sem elas, o filme perderia muito do seu encanto.
Ainda que a decupagem técnica seja, como sempre, primorosa. Kubrick supera aqui toda a sua obsessão por perfeição nos mínimos detalhes. Percebemos o alinhamento perfeito dos objetos nas naves. Os detalhes das linhas nas paredes e no uniforme. A simetria em cenários que poderiam ser considerados caóticos, como quando o macaco bate no esqueleto do animal e até as nuvens atrás dele estão equilibradas. Ou quando vemos Dave deitado na cama e um lado do quarto é exatamente igual ao outro. Isso sem falar nas diversas cenas de espaço onde acompanhamos alinhamentos entre planeta, lua e sol.
O universo está em equilíbrio, nós é que precisamos nos alinhar a ele. E o monolito está ali para nos lembrar isso, aparece sempre que vamos dar um novo passo rumo à evolução. Ou evoluímos por causa dele. Não por acaso, antes de se tornar um feto, Dave tente tocar o objeto em um gesto semelhante ao da imagem da criação de Michelângelo.
Mas, se tem algo que nos instiga, impressiona, dá medo e ao mesmo tempo emociona é o computador HAL 9000. Visto por muitos como um vilão, afinal, ele matou quase toda a tripulação da nave Discovery. HAL, na verdade, parece a coisa mais humana naquela nave. Vingativo e desconfiado, ele quer se defender e defender a missão. Era o único ali que sabia o todo, como um deus que tudo controla. Mas, um deus falho. É genial quando ele está sendo desligado e a frase "I'm afraid I can't do that" se torna simplesmente "I'm afraid..." HAL estava com medo. Com medo de morrer? Com medo de não cumprir a missão? Com medo do futuro?
Se não bastasse tudo isso, Kubrick ainda nos brinda com uma ficção científica extremamente cuidadosa. Basta observar as cenas fora da nave onde não há som, nos passos dos astronautas andando com dificuldade por causa da diferença gravitacional, ou nos giros de 360º nos caminhos circulares. Tudo isso, um ano antes da expedição Apollo 11 que chegou à Lua. E ainda tem os efeitos especiais, extremamente simples, feito com luzes, mas que impactou todo o mundo cinematográfico servindo até de referência para George Lucas criar Guerra nas Estrelas.
Por tudo isso, e muito mais, 2001 - Uma Odisseia no Espaço é considerada uma obra-prima do cinema. E mesmo 46 anos depois, ela continua nos impactando, impressionando e deixando pensativos.
2001 - Uma Odisseia no Espaço (2001: A Space Odyssey, 1968 / EUA)
Direção: Stanley Kubrick
Roteiro: Stanley Kubrick e Arthur C. Clarke
Com: Keir Dullea, Gary Lockwood, William Sylvester
Duração: 160 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
2001 - Uma Odisseia no Espaço
2014-11-01T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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