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João Carlos Castanha
Zé Adão Barbosa
Castanha
Castanha
A tendência vista no último Festival de Brasília parece estar dominando a linguagem do cinema brasileiro atual. A mistura entre documentário e ficção trazendo um tom naturalista para uma trama onde não se sabe até que ponto a realidade influencia a ficção e vice-versa.
No caso de Castanha, temos uma construção ainda mais intimista, já que o retratado ator João Carlos Castanha assina também o roteiro do filme. Sua vida e sua arte, então, se misturam na trama construindo um retrato de si mesmo com alegorias diversas e possibilidades imensas. Há um jogo eterno entre o dito e o não dito, o exposto e o representado.
Acompanhamos a rotina do ator em suas diversas facetas. O filho preocupado com sua mãe Celina e irritado com seu pai, a quem não visita e não gosta que a mãe visite. Os problemas com o sobrinho viciado em crack. Suas consultas a um pai de santo. Mas, principalmente, suas performances nos palcos gaúchos e na noite porto alegrense em bares GLS.
Um artista versátil preocupado com sua expressão artística. Esse parece o quadro que o diretor Davi Pretto e o próprio Castanha querem passar ao público. Não por acaso, a escolha da cena de abertura do longametragem. Impactante, instigante, uma pista falsa que poderia apenas ser melhor trabalhada durante a projeção para expor melhor seu ponto de vista.
Este, talvez, seja o ponto fraco de Castanha. Em meio à performance, o filme acaba nos guiando em uma rotina que pouco diz ao público em geral. Temos ali uma crítica aos problemas da classe, levanta-se temas como preconceito, problemas familiares, dificuldades de lidar com drogas, até o sistema de saúde entra em cena em uma busca por tratamento. Mas, pouco é desenvolvido de fato.
Davi Pretto se preocupa mais com a experimentação da linguagem. O que o interessa é construir essa sensação de registro da intimidade em seus detalhes. Uma simulação precisa do Cinema Direto em sua compreensão da realidade. E é impressionante como tanto Castanha como sua mãe atuando com um naturalismo tal que nos fazem crer em tudo aquilo com uma intensidade incrível. Nisto reside seu maior mérito.
Da mesma forma que é fascinante acompanhar o desnudamento de um artista, de um homem em cena. Sem pudores, sem censuras, sem julgamentos. Castanha se mostra intenso. Versátil no palco. Alegre na vida pública. Impaciente na vida particular. Seus momentos de pausas no camarim ou no quarto demonstram seu cansaço. Um cansaço talvez até de tanta encenação. É instigante, então, que sua maior encenação seja exatamente sua própria vida.
Vemos em tela um processo e um experimento. Conhecemos mais do artista do que se tivéssemos visto um documentário tradicional, ou uma cinebiografia ficcionalizada. Vemos o que ele é, o que ele quer ser e o que ele acredita ser. Tudo isso de maneira sutil, ainda que com recursos que enganam o público.
Visto no X Panorama Internacional Coisa de Cinema.
Castanha (2014, Brasil)
Direção: Davi Pretto
Roteiro: Davi Pretto
Com: João Carlos Castanha, Celina Castanha, Zé Adão Barbosa
Duração: 95 min.
No caso de Castanha, temos uma construção ainda mais intimista, já que o retratado ator João Carlos Castanha assina também o roteiro do filme. Sua vida e sua arte, então, se misturam na trama construindo um retrato de si mesmo com alegorias diversas e possibilidades imensas. Há um jogo eterno entre o dito e o não dito, o exposto e o representado.
Acompanhamos a rotina do ator em suas diversas facetas. O filho preocupado com sua mãe Celina e irritado com seu pai, a quem não visita e não gosta que a mãe visite. Os problemas com o sobrinho viciado em crack. Suas consultas a um pai de santo. Mas, principalmente, suas performances nos palcos gaúchos e na noite porto alegrense em bares GLS.
Um artista versátil preocupado com sua expressão artística. Esse parece o quadro que o diretor Davi Pretto e o próprio Castanha querem passar ao público. Não por acaso, a escolha da cena de abertura do longametragem. Impactante, instigante, uma pista falsa que poderia apenas ser melhor trabalhada durante a projeção para expor melhor seu ponto de vista.
Este, talvez, seja o ponto fraco de Castanha. Em meio à performance, o filme acaba nos guiando em uma rotina que pouco diz ao público em geral. Temos ali uma crítica aos problemas da classe, levanta-se temas como preconceito, problemas familiares, dificuldades de lidar com drogas, até o sistema de saúde entra em cena em uma busca por tratamento. Mas, pouco é desenvolvido de fato.
Davi Pretto se preocupa mais com a experimentação da linguagem. O que o interessa é construir essa sensação de registro da intimidade em seus detalhes. Uma simulação precisa do Cinema Direto em sua compreensão da realidade. E é impressionante como tanto Castanha como sua mãe atuando com um naturalismo tal que nos fazem crer em tudo aquilo com uma intensidade incrível. Nisto reside seu maior mérito.
Da mesma forma que é fascinante acompanhar o desnudamento de um artista, de um homem em cena. Sem pudores, sem censuras, sem julgamentos. Castanha se mostra intenso. Versátil no palco. Alegre na vida pública. Impaciente na vida particular. Seus momentos de pausas no camarim ou no quarto demonstram seu cansaço. Um cansaço talvez até de tanta encenação. É instigante, então, que sua maior encenação seja exatamente sua própria vida.
Vemos em tela um processo e um experimento. Conhecemos mais do artista do que se tivéssemos visto um documentário tradicional, ou uma cinebiografia ficcionalizada. Vemos o que ele é, o que ele quer ser e o que ele acredita ser. Tudo isso de maneira sutil, ainda que com recursos que enganam o público.
Visto no X Panorama Internacional Coisa de Cinema.
Castanha (2014, Brasil)
Direção: Davi Pretto
Roteiro: Davi Pretto
Com: João Carlos Castanha, Celina Castanha, Zé Adão Barbosa
Duração: 95 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Castanha
2014-11-05T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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