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Tom Prior
A Teoria de Tudo
A Teoria de Tudo
Stephen Hawking é um dos mais consagrados cientistas da atualidade. Duas coisas chamam a atenção nesta personalidade: suas pesquisas, sobre o tempo e o Big Bang, e sua doença degenerativa que, apesar de cruel, não o fez desistir, continuando seu trabalho pelo mundo.
O filme A Teoria de Tudo, no entanto, coloca tudo isso em segundo plano para contar uma história de amor. Nada contra histórias de amor, mas o fato da obra se basear no livro de Jane Hawking, que foi casada com ele durante 26 anos acabou deixando o olhar dos realizadores um tanto tendencioso.
O filme é um melodrama, com todos os ingredientes do gênero em excesso. Inclusive uma trilha sonora extremamente intrusiva que parece querer nos forçar a chorar em momentos diversos. A dor dele é explorada, mas o foco acaba sendo mesmo a força e carga dela diante dessa situação. O roteiro não se furta a momentos de exaltação de sua pessoa, até quando um dos amigos o carrega para comemorar uma vitória na faculdade e comenta: "nossa, não sei como a Jane aguenta".
É verdade, não apenas o peso físico do marido, como toda a trajetória do casal foi muito difícil. Não há como negar sua importância e sua força de estar ali ao lado de Stephen. Jane sofreu tanto ou mais que ele com sua doença, com suas limitações e ainda abdicou de muitos dos seus sonhos. Não digo que o filme precise negar isso, mas ao transportar o foco para a sua visão, mesmo quando ela não está em cena, construiu uma versão própria da história. Tanto que o recorte da trama é o tempo em que passaram juntos, enquanto que de 1995 para cá ele continuou tendo vitórias na profissão e na doença, já sem a companhia de sua esposa.
A sua trajetória acadêmica não chega a ser esquecida, mas nada é aprofundado sendo mostrado apenas em cenas superficiais como uma banca de doutorado quase tola, apesar dos nomes ali presentes. E uma apresentação pública extremamente forçada com direito a rompantes da plateia que o taxam como "idiota" ou "gênio". Mesmo uma palestra posterior nos mostra apenas o superficial de seu pensamento com uma cena desnecessária de imaginação e uma plateia ovacionando. A própria questão da existência ou não de Deus, que é um dos pontos polêmicos de sua obra, vai sendo conduzido quase como uma rixa de casal, onde ele se diz ateu e ela é religiosa indo à igreja todos os sábados.
Mas, A Teoria de Tudo não tem apenas maus momentos. A força do personagem traz cenas fortes e bem construídas como o momento em que ele é informado da gravidade de sua doença e mostra um plano dele sozinho no corredor do hospital. Por mais que possa parecer mais um recurso forçado é uma excelente metáfora de seu sentimento de solidão e abandono. A cena do casal após ele falar sobre uma viagem para Nova York também é extremamente bem feita. A cena do baile também é bonita, assim como muitos momentos em família.
A atuação de Eddie Redmayne é outro aspecto que merece todos os elogios. O ator consegue nos trazer a postura, expressão corporal e olhar de Stephen Hawking com uma força impressionante. O desespero dele na mesa de jantar, por exemplo, por não conseguir segurar uma colher, ou a dor que extravasa em um ridículo jogo de críquete. Ou mesmo o seu bom humor posterior mesmo quando usa uma máquina de voz para se comunicar. Esse é um elemento fundamental em sua personalidade, a superação das limitações continuando a manter sua vida útil e Redmayne consegue passar de uma maneira natural, divertida e envolvente.
Outro ponto interessante do filme é o seu final, que claro não conto aqui, mas traz um pouco da teoria do próprio Stephen Hawking para nos deixar um último momento nostálgico sobre sua vida e sua relação com Jane. No final, A Teoria de Tudo não é um filme ruim, mas utiliza de um personagem tão marcante com tantos pontos a serem tratados para nos contar uma história de amor e superação que poderiam estar em qualquer lugar.
A Teoria de Tudo (The Theory of Everything, 2014 / Reino Unido)
Direção: James Marsh
Roteiro: Anthony McCarten
Com: Eddie Redmayne, Felicity Jones, Tom Prior
Duração: 123 min.
O filme A Teoria de Tudo, no entanto, coloca tudo isso em segundo plano para contar uma história de amor. Nada contra histórias de amor, mas o fato da obra se basear no livro de Jane Hawking, que foi casada com ele durante 26 anos acabou deixando o olhar dos realizadores um tanto tendencioso.
O filme é um melodrama, com todos os ingredientes do gênero em excesso. Inclusive uma trilha sonora extremamente intrusiva que parece querer nos forçar a chorar em momentos diversos. A dor dele é explorada, mas o foco acaba sendo mesmo a força e carga dela diante dessa situação. O roteiro não se furta a momentos de exaltação de sua pessoa, até quando um dos amigos o carrega para comemorar uma vitória na faculdade e comenta: "nossa, não sei como a Jane aguenta".
É verdade, não apenas o peso físico do marido, como toda a trajetória do casal foi muito difícil. Não há como negar sua importância e sua força de estar ali ao lado de Stephen. Jane sofreu tanto ou mais que ele com sua doença, com suas limitações e ainda abdicou de muitos dos seus sonhos. Não digo que o filme precise negar isso, mas ao transportar o foco para a sua visão, mesmo quando ela não está em cena, construiu uma versão própria da história. Tanto que o recorte da trama é o tempo em que passaram juntos, enquanto que de 1995 para cá ele continuou tendo vitórias na profissão e na doença, já sem a companhia de sua esposa.
A sua trajetória acadêmica não chega a ser esquecida, mas nada é aprofundado sendo mostrado apenas em cenas superficiais como uma banca de doutorado quase tola, apesar dos nomes ali presentes. E uma apresentação pública extremamente forçada com direito a rompantes da plateia que o taxam como "idiota" ou "gênio". Mesmo uma palestra posterior nos mostra apenas o superficial de seu pensamento com uma cena desnecessária de imaginação e uma plateia ovacionando. A própria questão da existência ou não de Deus, que é um dos pontos polêmicos de sua obra, vai sendo conduzido quase como uma rixa de casal, onde ele se diz ateu e ela é religiosa indo à igreja todos os sábados.
Mas, A Teoria de Tudo não tem apenas maus momentos. A força do personagem traz cenas fortes e bem construídas como o momento em que ele é informado da gravidade de sua doença e mostra um plano dele sozinho no corredor do hospital. Por mais que possa parecer mais um recurso forçado é uma excelente metáfora de seu sentimento de solidão e abandono. A cena do casal após ele falar sobre uma viagem para Nova York também é extremamente bem feita. A cena do baile também é bonita, assim como muitos momentos em família.
A atuação de Eddie Redmayne é outro aspecto que merece todos os elogios. O ator consegue nos trazer a postura, expressão corporal e olhar de Stephen Hawking com uma força impressionante. O desespero dele na mesa de jantar, por exemplo, por não conseguir segurar uma colher, ou a dor que extravasa em um ridículo jogo de críquete. Ou mesmo o seu bom humor posterior mesmo quando usa uma máquina de voz para se comunicar. Esse é um elemento fundamental em sua personalidade, a superação das limitações continuando a manter sua vida útil e Redmayne consegue passar de uma maneira natural, divertida e envolvente.
Outro ponto interessante do filme é o seu final, que claro não conto aqui, mas traz um pouco da teoria do próprio Stephen Hawking para nos deixar um último momento nostálgico sobre sua vida e sua relação com Jane. No final, A Teoria de Tudo não é um filme ruim, mas utiliza de um personagem tão marcante com tantos pontos a serem tratados para nos contar uma história de amor e superação que poderiam estar em qualquer lugar.
A Teoria de Tudo (The Theory of Everything, 2014 / Reino Unido)
Direção: James Marsh
Roteiro: Anthony McCarten
Com: Eddie Redmayne, Felicity Jones, Tom Prior
Duração: 123 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
A Teoria de Tudo
2015-01-27T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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