Home
Aícha Marques
cinema baiano
cinema brasileiro
Cláudio Marques
critica
filme brasileiro
Marília Hughes
Pedro Maia
Ricardo Pisani
Sophia Corral
Talis Castro
Victor Corujeira
Depois da Chuva
Depois da Chuva
Finalmente, o filme baiano Depois da Chuva estreia em circuito comercial. Dois anos após circular por diversos Festivais de Cinema, inclusive como "work in progress" nos festivais de Cannes e Bafici, e na competitiva do Festival de Rotterdam. Além de ter vencido o Harlem International Film Festival 2014, realizado em Nova Iorque, na categoria melhor filme estrangeiro. A expectativa é de que a obra possa atingir também o público.
A obra dirigida em parceria pelo casal Cláudio Marques e Marília Hughes tem diversas qualidades. E a maior delas, talvez, seja construir um filme que não se apega a clichês regionais ou históricos para nos contar uma história de maneira bem particular. A época é pouco explorada no cinema nacional, a chamada reabertura política após vinte anos de ditadura militar no país. O cenário é a cidade de Salvador, mas sob uma ótica da classe média da época, nem ricos, nem pobres. E a cultura é a do punk rock, que muitos podem achar até que não existiu pelas terras do "axé".
O protagonista Caio, interpretado pelo estreante Pedro Maia, é um aluno secundarista de um colégio particular de Salvador. Filho de pais divorciados, vive problemas familiares e financeiros, mas o que o angustia mesmo é a situação política do país e suas questões existenciais. Caio participa de um grupo anarquista e vivencia um lado underground da cidade, cultuando, inclusive, o movimento punk rock efervescente. Se não bastasse isso, ele também está vivendo o seu rito de passagem de fim da adolescência e descoberta do amor.
O que mais chama a atenção no roteiro de Cláudio Marques é o paralelo criado entre a vida de Caio e os acontecimentos no país. Em uma metáfora interessante, o filme vai nos mostrando as mudanças e discussões políticas no colégio bem próximas das decisões do planalto. A reabertura de um grêmio, só com eleição indireta abre questões diversas, da mesma forma que a postura de professora e diretor diante das provocações trazidas por Caio sobre o que significa tudo aquilo.
Em um dos momentos, acompanhamos a apresentação no colégio da semana de arte moderna. Enquanto professora exalta os exemplos de vanguarda do passado, Caio lhes traz o novo, o incômodo, o choque. Questionando arte e política feita naquele local, ele questiona também o que está acontecendo no país. Não por acaso, sua redação se torna alvo de controvérsias e reviravoltas no rumo da trama. Vemos ainda a composição de esquemas políticos e alianças da mesma forma que acontece com os partidos.
Ver um grupo de anarquistas em um tema como esse, também é algo que instiga. Normalmente, são os comunistas retratados. E o personagem Tales, interpretado por Talis Castro, é o extremo desse idealista que acredita piamente no auto-governo e quer modificar o mundo despertando a consciência de cada um. O que acaba sempre gerando um paradoxo, já que nada pode ser imposto, moldando o caráter trágico do personagem. E isso é bem retratado na trama. Da mesma forma que trágica parece a trajetória de um país que "comemora" sua redemocratização no túmulo de um novo presidente.
Este, talvez, seja o tom de Depois da Chuva, a melancolia de um momento de perdas, de incapacidade diante de situações que vão além da simples vontade, onde sonhos de luta parecem esbarrar em manobras políticas do próprio destino. Afinal, qual a solução para um país que saiu das mãos de uma ditadura tão pesada para as mãos dos mesmos políticos que com ela confabularam, só que com discursos diferentes? É o que Caio tenta bradar a um colégio que continua sob o julgo de diretores rígidos e professores incapazes que observar o novo.
Com uma fotografia extremamente granulada e uma trilha sonora de punk rock que pulsa e dita o ritmo da trama, Depois da Chuva nos soa um incômodo soco no estômago ao analisar nossa história recente, revelando sonhos frustrados e a desesperança que paira no ar. É um filme que instiga, até pela constante busca pela fuga do clichê. Não é um filme perfeito, mas é entusiasmante diante do cenário local, além de uma reflexão mais do que bem-vinda.
Depois da Chuva (2015 / Brasil)
Direção: Cláudio Marques e Marília Hughes
Roteiro: Cláudio Marques
Com: Pedro Maia, Sophia Corral, Talis Castro, Aícha Marques, Ricardo Pisani, Victor Corujeira
Duração: 90 min.
A obra dirigida em parceria pelo casal Cláudio Marques e Marília Hughes tem diversas qualidades. E a maior delas, talvez, seja construir um filme que não se apega a clichês regionais ou históricos para nos contar uma história de maneira bem particular. A época é pouco explorada no cinema nacional, a chamada reabertura política após vinte anos de ditadura militar no país. O cenário é a cidade de Salvador, mas sob uma ótica da classe média da época, nem ricos, nem pobres. E a cultura é a do punk rock, que muitos podem achar até que não existiu pelas terras do "axé".
O protagonista Caio, interpretado pelo estreante Pedro Maia, é um aluno secundarista de um colégio particular de Salvador. Filho de pais divorciados, vive problemas familiares e financeiros, mas o que o angustia mesmo é a situação política do país e suas questões existenciais. Caio participa de um grupo anarquista e vivencia um lado underground da cidade, cultuando, inclusive, o movimento punk rock efervescente. Se não bastasse isso, ele também está vivendo o seu rito de passagem de fim da adolescência e descoberta do amor.
O que mais chama a atenção no roteiro de Cláudio Marques é o paralelo criado entre a vida de Caio e os acontecimentos no país. Em uma metáfora interessante, o filme vai nos mostrando as mudanças e discussões políticas no colégio bem próximas das decisões do planalto. A reabertura de um grêmio, só com eleição indireta abre questões diversas, da mesma forma que a postura de professora e diretor diante das provocações trazidas por Caio sobre o que significa tudo aquilo.
Em um dos momentos, acompanhamos a apresentação no colégio da semana de arte moderna. Enquanto professora exalta os exemplos de vanguarda do passado, Caio lhes traz o novo, o incômodo, o choque. Questionando arte e política feita naquele local, ele questiona também o que está acontecendo no país. Não por acaso, sua redação se torna alvo de controvérsias e reviravoltas no rumo da trama. Vemos ainda a composição de esquemas políticos e alianças da mesma forma que acontece com os partidos.
Ver um grupo de anarquistas em um tema como esse, também é algo que instiga. Normalmente, são os comunistas retratados. E o personagem Tales, interpretado por Talis Castro, é o extremo desse idealista que acredita piamente no auto-governo e quer modificar o mundo despertando a consciência de cada um. O que acaba sempre gerando um paradoxo, já que nada pode ser imposto, moldando o caráter trágico do personagem. E isso é bem retratado na trama. Da mesma forma que trágica parece a trajetória de um país que "comemora" sua redemocratização no túmulo de um novo presidente.
Este, talvez, seja o tom de Depois da Chuva, a melancolia de um momento de perdas, de incapacidade diante de situações que vão além da simples vontade, onde sonhos de luta parecem esbarrar em manobras políticas do próprio destino. Afinal, qual a solução para um país que saiu das mãos de uma ditadura tão pesada para as mãos dos mesmos políticos que com ela confabularam, só que com discursos diferentes? É o que Caio tenta bradar a um colégio que continua sob o julgo de diretores rígidos e professores incapazes que observar o novo.
Com uma fotografia extremamente granulada e uma trilha sonora de punk rock que pulsa e dita o ritmo da trama, Depois da Chuva nos soa um incômodo soco no estômago ao analisar nossa história recente, revelando sonhos frustrados e a desesperança que paira no ar. É um filme que instiga, até pela constante busca pela fuga do clichê. Não é um filme perfeito, mas é entusiasmante diante do cenário local, além de uma reflexão mais do que bem-vinda.
Depois da Chuva (2015 / Brasil)
Direção: Cláudio Marques e Marília Hughes
Roteiro: Cláudio Marques
Com: Pedro Maia, Sophia Corral, Talis Castro, Aícha Marques, Ricardo Pisani, Victor Corujeira
Duração: 90 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Depois da Chuva
2015-01-10T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
Aícha Marques|cinema baiano|cinema brasileiro|Cláudio Marques|critica|filme brasileiro|Marília Hughes|Pedro Maia|Ricardo Pisani|Sophia Corral|Talis Castro|Victor Corujeira|
Assinar:
Postar comentários (Atom)
cadastre-se
Inscreva seu email aqui e acompanhe
os filmes do cinema com a gente:
os filmes do cinema com a gente:
No Cinema podcast
anteriores deste site
mais populares do site
-
King Richard: Criando Campeãs (2021), dirigido por Reinaldo Marcus Green , é mais do que apenas uma cinebiografia : é um retrato emocionalm...
-
Cinema Sherlock Homes O filme de destaque atualmente é esta releitura do clássico do mistério pelas mãos de Guy Ritchie. O ex de Madonna p...
-
Eletrizante é a melhor palavra para definir esse filme de Tony Scott . Que o diretor sabe fazer filmes de ação não é novidade, mas uma tra...
-
Olhando para A Múmia (1999), mais de duas décadas após seu lançamento, é fácil perceber como o filme se tornou um marco do final dos anos ...
-
Clint Eastwood me conquistou aos poucos. Ele sabe como construir um filme que emociona e, agora, parece ter escolhido Matt Damon como seu ...
-
O Soterópolis programa cultural da TVE Bahia, fez uma matéria muito interessante sobre blogs baianos. Esta que vos fala deu uma pequena con...
-
O CinePipocaCult adverte: se você sofre de claustrofobia, síndrome do pânico ou problemas cardíacos é melhor evitar esse filme. Brincadeiras...
-
Com previsão de lançamento para maio desse ano, Estranhos , primeiro longa do diretor Paulo Alcântara terá pré-estreia (apenas convidados) ...
-
Fui ao cinema sem grandes pretensões. Não esperava um novo Matrix, nem mesmo um grande filme de ação. Difícil definir Gamer, que recebeu du...