O Congresso Futurista
"As pessoas não querem ler livros, por isso, fazemos filmes", diz o executivo do estúdio "Miramount" à atriz Robin Wright que interpreta a si mesma em uma situação bastante peculiar. A atriz / personagem precisa decidir se irá assinar um contrato para ser escaneada pelo estúdio e parar de atuar na realidade, para ser apenas uma imagem virtual.
Essa construção de metáforas, metalinguagens e reflexões sobre arte, tecnologia e escolhas são os principais ingredientes de O Congresso Futurista, um filme que mistura live action com animação para nos levar por uma jornada de reflexão bastante instigante. Ao interpretar a si mesma, Robin Wright nos dá uma profundidade ainda maior à discussão proposta, ainda que com diversas questões fictícias, claro. Mas, no geral, temos a atriz e seus trabalhos sendo avaliados de uma maneira bastante dura em cena.
É interessante ainda a quebra brusca na narrativa feita por Ari Folman que é extremada com a mudança do live action para a animação, mas que nos dá também quase outro filme, a partir de uma perspectiva futurista e imaginária onde não parece haver limites para a criatividade e desejos dos personagens.
Toda a primeira parte gira em torno da escolha da atriz em aceitar a proposta do estúdio. Vender sua imagem em definitivo para se tornar de certa forma eterna. Ao ser escaneada e colocada em um computador, Wright deixa de ser um ser humano sujeito ao tempo e se torna eterno. Mas, ao mesmo tempo, irreal e susceptível às escolhas do estúdio. Ainda que não seja mais ela, é sua imagem ali refletida, tornando-se parte de um jogo que vai além da nossa própria imaginação.
A questão ética levantada, assim como as possibilidades tecnológicas ali representadas, trazem reflexões diversas. O ponto da liberdade de escolha da atriz é apenas um deles, mas que nos faz também refletir sobre o que vemos em tela, o quanto do ator existe em cada personagem e até que ponto isso realmente importa. Afinal, para que servem os filmes? Qual o valor do ator e até que ponto ele está à serviço do personagem?
Na segunda parte, em animação, temos a extrapolação dessas questões para uma metáfora de sociedade virtual extremamente instigante, onde apenas com o pensamento podemos ser, ver e ter qualquer coisa. Um pouco do jogo de atuação onde o ator se transforma em outro. E é interessante vermos misturas tão diversas ali, com Jesus Cristo, um deus Grego, um personagem de desenho animado, ou, a própria atriz Robin Wright duplicada em personagens diversos.
Em sua busca pelo real em meio ao irreal, Ari Folman talvez apenas se perca um pouco, nos faltando um norte em sua crítica e análise. Talvez por isso, a âncora dessa segunda parte seja a pista lançada na primeira, com a relação entre Wright e seu filho Aaron. O gancho da busca pelo garoto nos vai guiando nas sensações e desejos da atriz que se perde e se acha naquele mundo imagético e mutável.
O Congresso Futurista é um filme que nos instiga. Aponta para diversos temas e nos envolve em seus questionamentos de maneira intensa. Talvez, primeira e segunda parte pudessem ser melhor organizadas e as questões levantadas no início melhor desenvolvidas na segunda fase da trama. Ainda assim, é um filme que merece nosso destaque.
O Congresso Futurista (The Congress, 2014 / Alemanha)
Direção: Ari Folman
Roteiro: Ari Folman
Com: Robin Wright, Harvey Keitel, Jon Hamm
Duração: 122 min.
Essa construção de metáforas, metalinguagens e reflexões sobre arte, tecnologia e escolhas são os principais ingredientes de O Congresso Futurista, um filme que mistura live action com animação para nos levar por uma jornada de reflexão bastante instigante. Ao interpretar a si mesma, Robin Wright nos dá uma profundidade ainda maior à discussão proposta, ainda que com diversas questões fictícias, claro. Mas, no geral, temos a atriz e seus trabalhos sendo avaliados de uma maneira bastante dura em cena.
É interessante ainda a quebra brusca na narrativa feita por Ari Folman que é extremada com a mudança do live action para a animação, mas que nos dá também quase outro filme, a partir de uma perspectiva futurista e imaginária onde não parece haver limites para a criatividade e desejos dos personagens.
Toda a primeira parte gira em torno da escolha da atriz em aceitar a proposta do estúdio. Vender sua imagem em definitivo para se tornar de certa forma eterna. Ao ser escaneada e colocada em um computador, Wright deixa de ser um ser humano sujeito ao tempo e se torna eterno. Mas, ao mesmo tempo, irreal e susceptível às escolhas do estúdio. Ainda que não seja mais ela, é sua imagem ali refletida, tornando-se parte de um jogo que vai além da nossa própria imaginação.
A questão ética levantada, assim como as possibilidades tecnológicas ali representadas, trazem reflexões diversas. O ponto da liberdade de escolha da atriz é apenas um deles, mas que nos faz também refletir sobre o que vemos em tela, o quanto do ator existe em cada personagem e até que ponto isso realmente importa. Afinal, para que servem os filmes? Qual o valor do ator e até que ponto ele está à serviço do personagem?
Na segunda parte, em animação, temos a extrapolação dessas questões para uma metáfora de sociedade virtual extremamente instigante, onde apenas com o pensamento podemos ser, ver e ter qualquer coisa. Um pouco do jogo de atuação onde o ator se transforma em outro. E é interessante vermos misturas tão diversas ali, com Jesus Cristo, um deus Grego, um personagem de desenho animado, ou, a própria atriz Robin Wright duplicada em personagens diversos.
Em sua busca pelo real em meio ao irreal, Ari Folman talvez apenas se perca um pouco, nos faltando um norte em sua crítica e análise. Talvez por isso, a âncora dessa segunda parte seja a pista lançada na primeira, com a relação entre Wright e seu filho Aaron. O gancho da busca pelo garoto nos vai guiando nas sensações e desejos da atriz que se perde e se acha naquele mundo imagético e mutável.
O Congresso Futurista é um filme que nos instiga. Aponta para diversos temas e nos envolve em seus questionamentos de maneira intensa. Talvez, primeira e segunda parte pudessem ser melhor organizadas e as questões levantadas no início melhor desenvolvidas na segunda fase da trama. Ainda assim, é um filme que merece nosso destaque.
O Congresso Futurista (The Congress, 2014 / Alemanha)
Direção: Ari Folman
Roteiro: Ari Folman
Com: Robin Wright, Harvey Keitel, Jon Hamm
Duração: 122 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Congresso Futurista
2015-01-05T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
animacao|Ari Folman|critica|drama|Harvey Keitel|Jon Hamm|Robin Wright|
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