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Sniper Americano
Sniper Americano
Clint Eastwood é melhor diretor que ator, isso já parece mais que provado. E é impressionante como ele consegue construir personagens complexos, representados em suas dualidades em histórias emocionantes que não exageram no melodrama. Sniper Americano poderia ser mais um desses, se não fosse sua própria crença na necessidade de defesa norte-americana.
Adaptação do livro American Sniper: The Autobiography of the Most Lethal Sniper in U.S. Military History, a obra narra a história do atirador de elite Chris Kyle que durante a famosa Guerra ao Terror pós 11 de setembro foi responsável pela morte de mais de 150 pessoas no Iraque. Uma lenda que salvou a vida de muitos soldados norte-americanos, mas também criou seus próprios traumas e crenças, prejudicando, inclusive seu papel enquanto marido e pai de família. Mas, tudo em nome de uma causa maior que ele acreditava: É preciso proteger os seus.
O roteiro de Jason Hall é bastante feliz ao iniciar a história em um momento chave no meio do Iraque e, antes da decisão de Kyle retornar à sua infância quando ele aprende seu lema de vida. Segundo o seu pai só existem três tipos de seres humanos. As ovelhas, que são as vítimas do mundo. Os lobos que são os maus e se aproveitam das fraquezas dessas pessoas. E os pastores alemães que possuem a capacidade de reação e protegem as ovelhas.
Os Estados Unidos da América é o país de Chris Kyle, o seu povo, aqueles que precisa proteger e, quando ele é atacado, a ação é justificada. Matar o inimigo é matar o lobo. Não por acaso, em determinado momento de sua vida, ele diz que o que lhe dói não são as mortes que provocou, mas os soldados americanos que não conseguiu salvar.
É um pensamento assustador e extremamente limitado, mas é compreensível que possa existir alguém assim e até mesmo que muitos dos norte-americanos o idolatrem acima de qualquer coisa. É legítimo admirá-lo e compreender que tudo que ele fez foi por acreditar em um ponto de vista. O que preocupa no filme de Clint Eastwood é que o outro lado nunca é ponderado. Mata-se iraquianos, sejam homens, mulheres ou crianças porque todos são inimigos que só pensam em jogar bombas nos americanos.
Essa visão unilateral e extremamente bairrista assusta, principalmente quando ouvimos da boca de Chris Kyle que determinado soldado morreu porque "deixou de acreditar". Ou quando ele já foi dispensado da marinha e quer voltar ao Iraque porque ainda não conseguiu matar seu maior inimigo, o atirador de elite do outro lado. Mustafa. Em determinado momento a Guerra ao Terror se torna esse Círculo de Fogo entre os dois especialistas.
Ainda assim, o talento de Clint Eastwood torna a jornada insólita agradável. Há cenas extremamente tensas e bem realizadas, não apenas durante a guerra, mas de treinamento e até mesmo alguns dos retornos. A cena em que sua esposa liga para dizer o sexo do bebê que espera enquanto eles são atacados, por exemplo, é muito bem realizada em sons, cortes e condução da ação. Assim como uma cena em que ele e seu filho encontram um dos soldados que salvou em uma loja. O misto de tensão, admiração e constrangimento é intenso.
Nisso, temos que destacar também o mérito de Bradley Cooper que consegue construir muito bem todas as nuanças de um personagem tão complexo. Muito do sucesso do filme se deve a ele e a maneira como nos faz crer nos valores defendidos por seu personagem. Não que concordemos com ele, mas que compreendamos o porquê de seu pensamento. Ele é assim, o problema é quando o filme quer fazer crer que esse é o único ponto de vista possível.
Sniper Americano é um filme que assusta, exatamente por nos querer fazer crer que os Estados Unidos realmente precisasse invadir o Iraque e matar todas aquelas pessoas. Porque eles, os iraquianos, são os lobos, os soldados americanos os pastores alemães. E o resto do mundo as ovelhas que precisam ser protegidas por eles. Um pensamento, no mínimo, perigoso.
Sniper Americano (American Sniper, 2014 / EUA)
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Jason Hall
Com: Bradley Cooper, Sienna Miller, Kyle Gallner
Duração: 132 min.
Adaptação do livro American Sniper: The Autobiography of the Most Lethal Sniper in U.S. Military History, a obra narra a história do atirador de elite Chris Kyle que durante a famosa Guerra ao Terror pós 11 de setembro foi responsável pela morte de mais de 150 pessoas no Iraque. Uma lenda que salvou a vida de muitos soldados norte-americanos, mas também criou seus próprios traumas e crenças, prejudicando, inclusive seu papel enquanto marido e pai de família. Mas, tudo em nome de uma causa maior que ele acreditava: É preciso proteger os seus.
O roteiro de Jason Hall é bastante feliz ao iniciar a história em um momento chave no meio do Iraque e, antes da decisão de Kyle retornar à sua infância quando ele aprende seu lema de vida. Segundo o seu pai só existem três tipos de seres humanos. As ovelhas, que são as vítimas do mundo. Os lobos que são os maus e se aproveitam das fraquezas dessas pessoas. E os pastores alemães que possuem a capacidade de reação e protegem as ovelhas.
Os Estados Unidos da América é o país de Chris Kyle, o seu povo, aqueles que precisa proteger e, quando ele é atacado, a ação é justificada. Matar o inimigo é matar o lobo. Não por acaso, em determinado momento de sua vida, ele diz que o que lhe dói não são as mortes que provocou, mas os soldados americanos que não conseguiu salvar.
É um pensamento assustador e extremamente limitado, mas é compreensível que possa existir alguém assim e até mesmo que muitos dos norte-americanos o idolatrem acima de qualquer coisa. É legítimo admirá-lo e compreender que tudo que ele fez foi por acreditar em um ponto de vista. O que preocupa no filme de Clint Eastwood é que o outro lado nunca é ponderado. Mata-se iraquianos, sejam homens, mulheres ou crianças porque todos são inimigos que só pensam em jogar bombas nos americanos.
Essa visão unilateral e extremamente bairrista assusta, principalmente quando ouvimos da boca de Chris Kyle que determinado soldado morreu porque "deixou de acreditar". Ou quando ele já foi dispensado da marinha e quer voltar ao Iraque porque ainda não conseguiu matar seu maior inimigo, o atirador de elite do outro lado. Mustafa. Em determinado momento a Guerra ao Terror se torna esse Círculo de Fogo entre os dois especialistas.
Ainda assim, o talento de Clint Eastwood torna a jornada insólita agradável. Há cenas extremamente tensas e bem realizadas, não apenas durante a guerra, mas de treinamento e até mesmo alguns dos retornos. A cena em que sua esposa liga para dizer o sexo do bebê que espera enquanto eles são atacados, por exemplo, é muito bem realizada em sons, cortes e condução da ação. Assim como uma cena em que ele e seu filho encontram um dos soldados que salvou em uma loja. O misto de tensão, admiração e constrangimento é intenso.
Nisso, temos que destacar também o mérito de Bradley Cooper que consegue construir muito bem todas as nuanças de um personagem tão complexo. Muito do sucesso do filme se deve a ele e a maneira como nos faz crer nos valores defendidos por seu personagem. Não que concordemos com ele, mas que compreendamos o porquê de seu pensamento. Ele é assim, o problema é quando o filme quer fazer crer que esse é o único ponto de vista possível.
Sniper Americano é um filme que assusta, exatamente por nos querer fazer crer que os Estados Unidos realmente precisasse invadir o Iraque e matar todas aquelas pessoas. Porque eles, os iraquianos, são os lobos, os soldados americanos os pastores alemães. E o resto do mundo as ovelhas que precisam ser protegidas por eles. Um pensamento, no mínimo, perigoso.
Sniper Americano (American Sniper, 2014 / EUA)
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Jason Hall
Com: Bradley Cooper, Sienna Miller, Kyle Gallner
Duração: 132 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Sniper Americano
2015-02-18T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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