Home
cinefuturo2015
cinema baiano
cinema brasileiro
critica
documentario
Festival
filme brasileiro
Henrique Dantas
Sinais de Cinza: A Peleja de Olney Contra o Dragão da Maldade
Sinais de Cinza: A Peleja de Olney Contra o Dragão da Maldade
A sessão da noite de sábado do CineFuturo foi especial. Sinais de Cinza de Henrique Dantas não teve uma sessão lotada, ainda que tenha sido um bom público nesta Edição 2015. Não era também sua primeira exibição em solo baiano e já está com uma carreira relativa em festivais, inclusive internacionais. Mas, o sentimento após a sessão era de êxito total. A plateia ovacionou o filme por alguns minutos, batendo palmas e vibrando com o que acabara de ver. Fora, definitivamente, um gol de placa.
Henrique Dantas já havia demonstrado sua veia documentarista em seu primeiro longa-metragem Filhos de João. Sua origem como diretor de arte também se reflete no cuidado com sua obra, que é construída em detalhes. E em Sinais de Cinza isso se maximiza de maneira impressionante.
Partindo do curta-metragem "Ser tão cinzento" do próprio diretor, Dantas resgata a vida e obra de Olney Alberto São Paulo, diretor de entre outras obras, do polêmico Manhã Cinzenta, que o levou a ser preso e torturado pela ditadura militar. E que, de certa maneira, o matou aos poucos, vindo a falecer com 41 anos em fevereiro de 1978.
Sinais de Cinza traz imagens dos filmes de Olney, imagens do sertão e depoimentos de cineastas, pesquisadores e familiares. Seria um documentário clássico se não fosse a composição estética que Henrique Dantas arquiteta de maneira minuciosa. A começar pela forma como vai conduzindo a história, misturando cenas de filme, depoimentos e textos do próprio cineasta, que mais do que contar, nos imerge no clima e alma do artista.
Tal qual Olney quando fazia seus trabalhos em Feira de Santana, cidade do interior da Bahia, Dantas projeta os filmes em paredes, criando uma composição especialmente bela e emocionante. Na primeira parte, projetados em casas simples, como as do sertão. Na segunda parte, emulando porões da ditadura com cadeiras e cordas que representam as torturas. É impressionante como o mesmo recurso transposto de ambiente e com variações na trilha nos dão outro tom e sensações múltiplas.
Os depoimentos também fogem do lugar comum. Tal qual Wim Wenders, Henrique Dantas brinca com imagem e som, deslocando os dois, nos dando voz over e imagem do depoente olhando para a câmera em silêncio. A textura também é bem cuidada, emulando as imagens projetadas na parede, construindo um aspecto artístico especial para toda a projeção. Ouvimos pessoas como Nelson Pereira dos Santos, Chico Liberato, Tuna Espinheira, André Setaro, Helena Ignez, Vladmir Carvalho e Orlando Senna. Além de familiares como o irmão Carlos São Paulo e os filhos Olney Jr., Ilya São Paulo, que também assina a trilha do filme e Maria Pilar.
Extremamente bem feito, bem conduzido e bem costurado, o filme impacta ainda pelo resgate desse cineasta quase esquecido pela população brasileira, mesmo entre cinéfilos e intelectuais. O diretor que encantou Orson Welles, como é dito no documentário, hoje tem seus quatorze filmes se perdendo pelo tempo, sem um projeto de restauração. Olney era um homem visionário, que conseguiu fazer cinema em uma cidade pequena como Feira de Santana, em uma época em que mesmo a capital do estado, Salvador, tinha dificuldades de produção. Ele falava de sua gente e seus problemas com a simplicidade dos grandes artistas, e o pensamento de quem queria mudar o mundo.
Manhã Cinzenta, como reforça um depoimento, foi feito em uma época em que as torturas da ditadura ainda não eram conhecidas. Mas, ao criar sua ficção científica onde robôs controlavam as pessoas, Olney criou a sua crítica e extravasou essa sensação de urgência em relação a um governo ditatorial. Para ele, era preciso fazer algo logo.
E Sinais de Cinza expressa isso de maneira criativa, não apenas nos contando essa sensação, mas nos fazendo sentir aquela época de uma maneira intensa. Essa é a magia do cinema, que, quando acontece, nos emociona e empolga. É interessante, por exemplo, ver imagens de militares marchando para trás, simbolizando o retrocesso, ou cercas de arames farpados, indicando a separação da população pobre e classe média no sentimento em relação ao golpe.
Sinais de Cinza é um filme intenso que merece maior destaque nacional. Não apenas por sua construção cuidadosa e pelo valor estético que a obra alcança, mas também pela importância histórica, pelo pensamento crítico proposto e pelo encontro de cineastas em busca do aprimoramento artístico. Henrique Dantas demonstra amadurecimento em seu segundo longa-metragem e a gente já fica na expectativa pelo o que vem depois.
Filme visto na IX edição do CineFuturo / 2015.
Sinais de Cinza: A Peleja de Olney Contra o Dragão da Maldade (2014 / Brasil)
Direção: Henrique Dantas
Roteiro: Henrique Dantas
Duração: 87 min.
Henrique Dantas já havia demonstrado sua veia documentarista em seu primeiro longa-metragem Filhos de João. Sua origem como diretor de arte também se reflete no cuidado com sua obra, que é construída em detalhes. E em Sinais de Cinza isso se maximiza de maneira impressionante.
Partindo do curta-metragem "Ser tão cinzento" do próprio diretor, Dantas resgata a vida e obra de Olney Alberto São Paulo, diretor de entre outras obras, do polêmico Manhã Cinzenta, que o levou a ser preso e torturado pela ditadura militar. E que, de certa maneira, o matou aos poucos, vindo a falecer com 41 anos em fevereiro de 1978.
Sinais de Cinza traz imagens dos filmes de Olney, imagens do sertão e depoimentos de cineastas, pesquisadores e familiares. Seria um documentário clássico se não fosse a composição estética que Henrique Dantas arquiteta de maneira minuciosa. A começar pela forma como vai conduzindo a história, misturando cenas de filme, depoimentos e textos do próprio cineasta, que mais do que contar, nos imerge no clima e alma do artista.
Tal qual Olney quando fazia seus trabalhos em Feira de Santana, cidade do interior da Bahia, Dantas projeta os filmes em paredes, criando uma composição especialmente bela e emocionante. Na primeira parte, projetados em casas simples, como as do sertão. Na segunda parte, emulando porões da ditadura com cadeiras e cordas que representam as torturas. É impressionante como o mesmo recurso transposto de ambiente e com variações na trilha nos dão outro tom e sensações múltiplas.
Os depoimentos também fogem do lugar comum. Tal qual Wim Wenders, Henrique Dantas brinca com imagem e som, deslocando os dois, nos dando voz over e imagem do depoente olhando para a câmera em silêncio. A textura também é bem cuidada, emulando as imagens projetadas na parede, construindo um aspecto artístico especial para toda a projeção. Ouvimos pessoas como Nelson Pereira dos Santos, Chico Liberato, Tuna Espinheira, André Setaro, Helena Ignez, Vladmir Carvalho e Orlando Senna. Além de familiares como o irmão Carlos São Paulo e os filhos Olney Jr., Ilya São Paulo, que também assina a trilha do filme e Maria Pilar.
Extremamente bem feito, bem conduzido e bem costurado, o filme impacta ainda pelo resgate desse cineasta quase esquecido pela população brasileira, mesmo entre cinéfilos e intelectuais. O diretor que encantou Orson Welles, como é dito no documentário, hoje tem seus quatorze filmes se perdendo pelo tempo, sem um projeto de restauração. Olney era um homem visionário, que conseguiu fazer cinema em uma cidade pequena como Feira de Santana, em uma época em que mesmo a capital do estado, Salvador, tinha dificuldades de produção. Ele falava de sua gente e seus problemas com a simplicidade dos grandes artistas, e o pensamento de quem queria mudar o mundo.
Manhã Cinzenta, como reforça um depoimento, foi feito em uma época em que as torturas da ditadura ainda não eram conhecidas. Mas, ao criar sua ficção científica onde robôs controlavam as pessoas, Olney criou a sua crítica e extravasou essa sensação de urgência em relação a um governo ditatorial. Para ele, era preciso fazer algo logo.
E Sinais de Cinza expressa isso de maneira criativa, não apenas nos contando essa sensação, mas nos fazendo sentir aquela época de uma maneira intensa. Essa é a magia do cinema, que, quando acontece, nos emociona e empolga. É interessante, por exemplo, ver imagens de militares marchando para trás, simbolizando o retrocesso, ou cercas de arames farpados, indicando a separação da população pobre e classe média no sentimento em relação ao golpe.
Sinais de Cinza é um filme intenso que merece maior destaque nacional. Não apenas por sua construção cuidadosa e pelo valor estético que a obra alcança, mas também pela importância histórica, pelo pensamento crítico proposto e pelo encontro de cineastas em busca do aprimoramento artístico. Henrique Dantas demonstra amadurecimento em seu segundo longa-metragem e a gente já fica na expectativa pelo o que vem depois.
Filme visto na IX edição do CineFuturo / 2015.
Sinais de Cinza: A Peleja de Olney Contra o Dragão da Maldade (2014 / Brasil)
Direção: Henrique Dantas
Roteiro: Henrique Dantas
Duração: 87 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Sinais de Cinza: A Peleja de Olney Contra o Dragão da Maldade
2015-06-01T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
cinefuturo2015|cinema baiano|cinema brasileiro|critica|documentario|Festival|filme brasileiro|Henrique Dantas|
Assinar:
Postar comentários (Atom)
cadastre-se
Inscreva seu email aqui e acompanhe
os filmes do cinema com a gente:
os filmes do cinema com a gente:
No Cinema podcast
anteriores deste site
mais populares do site
-
King Richard: Criando Campeãs (2021), dirigido por Reinaldo Marcus Green , é mais do que apenas uma cinebiografia : é um retrato emocionalm...
-
Cinema Sherlock Homes O filme de destaque atualmente é esta releitura do clássico do mistério pelas mãos de Guy Ritchie. O ex de Madonna p...
-
Eletrizante é a melhor palavra para definir esse filme de Tony Scott . Que o diretor sabe fazer filmes de ação não é novidade, mas uma tra...
-
Olhando para A Múmia (1999), mais de duas décadas após seu lançamento, é fácil perceber como o filme se tornou um marco do final dos anos ...
-
Clint Eastwood me conquistou aos poucos. Ele sabe como construir um filme que emociona e, agora, parece ter escolhido Matt Damon como seu ...
-
O Soterópolis programa cultural da TVE Bahia, fez uma matéria muito interessante sobre blogs baianos. Esta que vos fala deu uma pequena con...
-
Com previsão de lançamento para maio desse ano, Estranhos , primeiro longa do diretor Paulo Alcântara terá pré-estreia (apenas convidados) ...
-
Fui ao cinema sem grandes pretensões. Não esperava um novo Matrix, nem mesmo um grande filme de ação. Difícil definir Gamer, que recebeu du...
-
O CinePipocaCult adverte: se você sofre de claustrofobia, síndrome do pânico ou problemas cardíacos é melhor evitar esse filme. Brincadeiras...