Home
cinema brasileiro
critica
documentario
filme brasileiro
in-edit2015
musical
Rafael Saar
Yorimatã
Yorimatã
Luli (Luhli) e Lucina são um caso a parte na música popular brasileira. Compositoras de diversas canções gravadas por grandes nomes, cantoras e instrumentistas com seus próprios discos independentes, foram amigas e dividiram tudo, inclusive o marido. O documentário Yorimatã de Rafael Saar desbrava um pouco da história dessas duas.
Yorimatã, que significa salve a criança da mata, é uma música da dupla, mas se tornou algo mais. Uma espécie de palavra-chave para abrir caminhos, como elas mesmo explicam no documentário. E Rafael Saar fez de seu filme exatamente isso. Uma construção bastante particular para tentar documentar a particularidade que eram e são essas duas mulheres.
O filme não possui um roteiro muito claro, nem uma ordem cronológica. Vamos imergindo no mundo de Luli e Lucina com a força do pensamento, das lembranças, dos significados de cada gesto para ambas. Sempre mesclando depoimentos atuais com imagens de arquivo.
Há muita imagem de arquivo, registradas, principalmente, em uma super oito pelo fotógrafo Luiz Fernando da Fonseca que foi marido das duas. Quase não há registros dele, que sempre foi muito reservado, mas viveu com essas duas mulheres o ideal de amor livre, em um triângulo que pareceu funcionar perfeitamente enquanto ele foi vivo.
O choque da sociedade ou mesmo do resto da família não parecia incomodar tanto. Mesmo no depoimento dos filhos, há uma naturalidade ao tratar do tema "Sim, tenho duas mães. Pai é só um.", conta uma das filhas como era explicar sua família no colégio. E ainda que gere curiosidade, não é mesmo o ponto principal do encontro das duas.
O que importa e é o que mostra Yorimatã é que esse encontro de almas tinha uma "filha", "amante" e "mãe" muito forte que era a música. Tudo em Luli e Lucina era música. Não por acaso, ambas acabaram frequentando a Umbanda onde a música é uma forma de se ligar à divindade. Música e Natureza, que foram os dois pontos principais da relação e vida das duas.
Elas que começaram na música ouvindo João Gilberto, encantadas com Desafinado e Chega de Saudade, se tornaram também símbolo feminista, já que era raro compositoras mulheres. Elas chegam a citar o preconceito sofrido. "Uma música dessa qualidade não pode ter sido feita por uma mulher" ouviram certa vez.
As participações especiais de Zélia Duncan e Joyce também reforçam essa importância da valorização da música composta por mulheres. Joyce chama a atenção inclusive da inclusão do adjetivo feminino nas letras, pois antes, mesmo sendo compostas por mulheres, as músicas falavam no masculino tipo "eu sou um ser que chora".
Yorimatã é, então, uma celebração. Celebração da vida e encontro dessas duas mulheres. Da coragem de ambas de viver conforme a sua vontade e desejo, sem rótulos. E principalmente, de sua música que ainda ecoa e ganha significado. Não por acaso foi o grande vencedor do In-Edit 2015.
Filme visto no In-Edit 2015 - Etapa Salvador.
Yorimatã (2014, Brasil)
Direção: Rafael Saar
Roteiro: Rafael Saar
Duração: 116 min.
Yorimatã, que significa salve a criança da mata, é uma música da dupla, mas se tornou algo mais. Uma espécie de palavra-chave para abrir caminhos, como elas mesmo explicam no documentário. E Rafael Saar fez de seu filme exatamente isso. Uma construção bastante particular para tentar documentar a particularidade que eram e são essas duas mulheres.
O filme não possui um roteiro muito claro, nem uma ordem cronológica. Vamos imergindo no mundo de Luli e Lucina com a força do pensamento, das lembranças, dos significados de cada gesto para ambas. Sempre mesclando depoimentos atuais com imagens de arquivo.
Há muita imagem de arquivo, registradas, principalmente, em uma super oito pelo fotógrafo Luiz Fernando da Fonseca que foi marido das duas. Quase não há registros dele, que sempre foi muito reservado, mas viveu com essas duas mulheres o ideal de amor livre, em um triângulo que pareceu funcionar perfeitamente enquanto ele foi vivo.
O choque da sociedade ou mesmo do resto da família não parecia incomodar tanto. Mesmo no depoimento dos filhos, há uma naturalidade ao tratar do tema "Sim, tenho duas mães. Pai é só um.", conta uma das filhas como era explicar sua família no colégio. E ainda que gere curiosidade, não é mesmo o ponto principal do encontro das duas.
O que importa e é o que mostra Yorimatã é que esse encontro de almas tinha uma "filha", "amante" e "mãe" muito forte que era a música. Tudo em Luli e Lucina era música. Não por acaso, ambas acabaram frequentando a Umbanda onde a música é uma forma de se ligar à divindade. Música e Natureza, que foram os dois pontos principais da relação e vida das duas.
Elas que começaram na música ouvindo João Gilberto, encantadas com Desafinado e Chega de Saudade, se tornaram também símbolo feminista, já que era raro compositoras mulheres. Elas chegam a citar o preconceito sofrido. "Uma música dessa qualidade não pode ter sido feita por uma mulher" ouviram certa vez.
As participações especiais de Zélia Duncan e Joyce também reforçam essa importância da valorização da música composta por mulheres. Joyce chama a atenção inclusive da inclusão do adjetivo feminino nas letras, pois antes, mesmo sendo compostas por mulheres, as músicas falavam no masculino tipo "eu sou um ser que chora".
Yorimatã é, então, uma celebração. Celebração da vida e encontro dessas duas mulheres. Da coragem de ambas de viver conforme a sua vontade e desejo, sem rótulos. E principalmente, de sua música que ainda ecoa e ganha significado. Não por acaso foi o grande vencedor do In-Edit 2015.
Filme visto no In-Edit 2015 - Etapa Salvador.
Yorimatã (2014, Brasil)
Direção: Rafael Saar
Roteiro: Rafael Saar
Duração: 116 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Yorimatã
2015-07-20T12:47:00-03:00
Amanda Aouad
cinema brasileiro|critica|documentario|filme brasileiro|in-edit2015|musical|Rafael Saar|
Assinar:
Postar comentários (Atom)
cadastre-se
Inscreva seu email aqui e acompanhe
os filmes do cinema com a gente:
os filmes do cinema com a gente:
No Cinema podcast
anteriores deste site
mais populares do site
-
King Richard: Criando Campeãs (2021), dirigido por Reinaldo Marcus Green , é mais do que apenas uma cinebiografia : é um retrato emocionalm...
-
Olhando para A Múmia (1999), mais de duas décadas após seu lançamento, é fácil perceber como o filme se tornou um marco do final dos anos ...
-
Cinema Sherlock Homes O filme de destaque atualmente é esta releitura do clássico do mistério pelas mãos de Guy Ritchie. O ex de Madonna p...
-
Eletrizante é a melhor palavra para definir esse filme de Tony Scott . Que o diretor sabe fazer filmes de ação não é novidade, mas uma tra...
-
Clint Eastwood me conquistou aos poucos. Ele sabe como construir um filme que emociona e, agora, parece ter escolhido Matt Damon como seu ...
-
O Soterópolis programa cultural da TVE Bahia, fez uma matéria muito interessante sobre blogs baianos. Esta que vos fala deu uma pequena con...
-
Com previsão de lançamento para maio desse ano, Estranhos , primeiro longa do diretor Paulo Alcântara terá pré-estreia (apenas convidados) ...
-
Amor à Queima Roupa (1993), dirigido por Tony Scott e roteirizado por Quentin Tarantino , é um daqueles filmes que, ao longo dos anos, se...
-
O CinePipocaCult adverte: se você sofre de claustrofobia, síndrome do pânico ou problemas cardíacos é melhor evitar esse filme. Brincadeiras...