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Hermes Baroli
Lázaro Ramos
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Sandra Corveloni
Sérgio Machado
Tudo que Aprendemos Juntos
Tudo que Aprendemos Juntos
Se tem uma característica que Sérgio Machado demonstra em seus filmes é a capacidade de simular o real em tela de maneira natural e envolvente ao mesmo tempo. As pessoas de seus filmes parecem próximas e seus conflitos também. Nos identificamos em tela independente da classe social. E em Tudo que Aprendemos Juntos não é diferente.
A trama baseada em uma história real lida com conceitos interessantes. O poder transformador da música, os sonhos e a violência. Real e poesia estão se digladiando em tela o tempo todo como em uma cena em que o personagem de Lázaro Ramos com uma arma apontada para sua cabeça, saca o violino e toca uma bela música, encantando a todos naquele cenário inóspito da favela à noite.
Lázaro interpreta Laerte, um violinista talentoso que perde uma seleção para a OSESP por nervosismo e vai dar aula de música em uma favela. A turma rebelde e pouco desenvolvida cria um atrito inicial que precisa ser transposto aos poucos com muita paciência. Paciência essa que Laerte demonstra não ter nem mesmo com uma colega de grupo em um ensaio do quarteto que tenta formar. E, nesse cenário, há também Samuel, um garoto talentoso que pode ter ali sua chance de mudar de vida.
Com o início da projeção e apresentação do conflito inicial, pensei estar diante de uma obra esquemática tão comum no cinema norte-americano, a exemplo de Mudança de Hábito 2 ou Ao Mestre Com Carinho. A velha fórmula dos alunos rebeldes modificados por um professor exemplo que faz a diferença em uma curva crescente até a transformação completa. Felizmente, Sérgio Machado e o time de roteiristas da obra vai além disso, ainda que utilize de clichês.
Tudo que Aprendemos Juntos traz uma realidade dura para as telas, sem tentar vitimizar aquelas pessoas, apenas construindo-as de maneira digna. Os diálogos possuem ritmo e são extremamente verossímeis, seja nas discussões e provocações em sala de aula, ou nas cenas de maior emoção. E ainda que tenha cenas fortes, com grande envolvimento emocional, não exagera no tom, deixando tudo muito natural. Como a cena da barricada, talvez a melhor do filme.
Laerte, no entanto, é um personagem que acaba saindo do tom. A sua constante irritação com a vida não parece justificável, ele está sempre "armado" no sentido figurado, se defendendo dos outros e cobrando demais de todos. Extremamente perfeccionista, não tem nem mesmo a coragem de tentar seu teste. Isso o torna também um pouco arrogante diante da tela, como se ele só tivesse perdido a seleção porque nem mesmo tentou dar as primeiras notas. Está sempre brigando e exigindo demais, nos tornando um pouco distantes, sem criar a empatia necessária.
De qualquer maneira, o filme nos toca e nos envolve diante de um tema tão forte. E, claro, se um dos temas é a música, a trilha sonora é um grande destaque da obra. Sérgio Machado equilibra música clássica e rap com muita naturalidade. Além de uma participação como ator, a música de Criolo permeia a trilha, ajudando a construir a identidade daquelas pessoas.
Tudo que Aprendemos Juntos consegue esse feito de unir aparentes opostos. O real e o poético, o clássico e o popular. A dor e a alegria. Um filme honesto e competente naquilo que se propõe.
Filme visto no XI Panorama Internacional Coisa de Cinema.
Tudo que Aprendemos Juntos (2015 / Brasil)
Direção: Sérgio Machado
Roteiro: Sérgio Machado, Maria Adelaide Amaral, Marta Nehring, Marcelo Gomes
Com: Lázaro Ramos, Hermes Baroli, Fernanda de Freitas, Sandra Corveloni
Duração: 102 min.
A trama baseada em uma história real lida com conceitos interessantes. O poder transformador da música, os sonhos e a violência. Real e poesia estão se digladiando em tela o tempo todo como em uma cena em que o personagem de Lázaro Ramos com uma arma apontada para sua cabeça, saca o violino e toca uma bela música, encantando a todos naquele cenário inóspito da favela à noite.
Lázaro interpreta Laerte, um violinista talentoso que perde uma seleção para a OSESP por nervosismo e vai dar aula de música em uma favela. A turma rebelde e pouco desenvolvida cria um atrito inicial que precisa ser transposto aos poucos com muita paciência. Paciência essa que Laerte demonstra não ter nem mesmo com uma colega de grupo em um ensaio do quarteto que tenta formar. E, nesse cenário, há também Samuel, um garoto talentoso que pode ter ali sua chance de mudar de vida.
Com o início da projeção e apresentação do conflito inicial, pensei estar diante de uma obra esquemática tão comum no cinema norte-americano, a exemplo de Mudança de Hábito 2 ou Ao Mestre Com Carinho. A velha fórmula dos alunos rebeldes modificados por um professor exemplo que faz a diferença em uma curva crescente até a transformação completa. Felizmente, Sérgio Machado e o time de roteiristas da obra vai além disso, ainda que utilize de clichês.
Tudo que Aprendemos Juntos traz uma realidade dura para as telas, sem tentar vitimizar aquelas pessoas, apenas construindo-as de maneira digna. Os diálogos possuem ritmo e são extremamente verossímeis, seja nas discussões e provocações em sala de aula, ou nas cenas de maior emoção. E ainda que tenha cenas fortes, com grande envolvimento emocional, não exagera no tom, deixando tudo muito natural. Como a cena da barricada, talvez a melhor do filme.
Laerte, no entanto, é um personagem que acaba saindo do tom. A sua constante irritação com a vida não parece justificável, ele está sempre "armado" no sentido figurado, se defendendo dos outros e cobrando demais de todos. Extremamente perfeccionista, não tem nem mesmo a coragem de tentar seu teste. Isso o torna também um pouco arrogante diante da tela, como se ele só tivesse perdido a seleção porque nem mesmo tentou dar as primeiras notas. Está sempre brigando e exigindo demais, nos tornando um pouco distantes, sem criar a empatia necessária.
De qualquer maneira, o filme nos toca e nos envolve diante de um tema tão forte. E, claro, se um dos temas é a música, a trilha sonora é um grande destaque da obra. Sérgio Machado equilibra música clássica e rap com muita naturalidade. Além de uma participação como ator, a música de Criolo permeia a trilha, ajudando a construir a identidade daquelas pessoas.
Tudo que Aprendemos Juntos consegue esse feito de unir aparentes opostos. O real e o poético, o clássico e o popular. A dor e a alegria. Um filme honesto e competente naquilo que se propõe.
Filme visto no XI Panorama Internacional Coisa de Cinema.
Tudo que Aprendemos Juntos (2015 / Brasil)
Direção: Sérgio Machado
Roteiro: Sérgio Machado, Maria Adelaide Amaral, Marta Nehring, Marcelo Gomes
Com: Lázaro Ramos, Hermes Baroli, Fernanda de Freitas, Sandra Corveloni
Duração: 102 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Tudo que Aprendemos Juntos
2015-11-01T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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