Home
Bruce Dern
Channing Tatum
critica
Demián Bichir
James Parks
Jennifer Jason Leigh
Kurt Russell
Michael Madsen
oscar 2016
Quentin Tarantino
Samuel L. Jackson
suspense
Tim Roth
Walton Goggins
Os Oito Odiados
Os Oito Odiados
Antes de ser cineasta, Quentin Tarantino é um cinéfilo. Seus filmes são mais do que realizações de obras, são realizações de sonhos, dá para sentir em cada frame o quanto ele se diverte filmando. Como se empolga com a narrativa, com os diálogos, com a concepção de mundo e personagens.
Talvez por isso a violência seja sempre tão exacerbada em seus filmes, mas também talvez por isso, ela seja tão plástica e represente sempre algo a mais, uma crítica à sociedade na maioria das vezes. Tarantino coloca a palavra "nigger" em seus diálogos porque sabe que está ali não reforçando, mas ridicularizando, o racismo. Assim como ridiculariza a natureza humana sempre tão capaz de falhar diante da cobiça. E claro, a violência.
Oitavo filme de sua impecável filmografia, Os Oito Odiados traz referências de todos os outros filmes seus, mas também demonstra amadurecimento e evolução de sua própria técnica. Não digo com isso que seja o melhor filme feito pelo cineasta, mas se torna forte candidato a um dos melhores da lista. E é interessante que boa parte da obra se passe em um único cenário e tenha tanta ação e tensão, como seu primeiro filme Cães de Aluguel.
Na trama, um caçador de recompensas com uma prisioneira procurada, acaba tendo que parar em uma estalagem no meio da estrada por causa de uma nevasca, já trazendo como novos passageiros outro caçador de recompensas e um suposto xerife da cidade de destino. E, no local, já estão mais quatro pessoas, todas também com histórias e possibilidades de engano. O fato é que as oito personagens, e nisso acabamos liberando o cocheiro O.B., podem mentir, trapacear e se demonstrar algo que não dizem ser.
É como um jogo de detetive, ou um jogo de xadrez. As peças estão ali trancafiadas em um local e tudo pode acontecer. Esse jogo de tensão é misturado a ótimos diálogos com muita ironia e retirada de máscaras. A estrutura do roteiro vai nos conduzindo de uma maneira muito fluida, não nos fazendo perceber o tempo. Dividido em capítulos, temos inclusive a inserção de um narrador, com a voz do próprio Tarantino, intervindo em alguns momentos, para explicar, recapitular ou simplesmente colocar ainda mais ironia na trama.
É interessante que Tarantino se mantenha no Velho Oeste, revivendo esse gênero à sua própria forma. Um mundo sem lei parece um cenário propício para suas histórias. Mas, o que ele sempre mostrou em seus filmes é que a lei não parece mesmo algo com que o ser humano se preocupe em qualquer época que esteja. Mais do que isso, cada um faz a sua própria lei, mesmo o pior dos bandidos segue alguma lógica.
Isso acaba sendo a premissa da trama, já que a bandida Daisy Domergue é procurada viva ou morta. Se o caçador de recompensas John Ruth seguisse os demais, não existiria filme. Mas, ele acredita que não cabe a ele matar um bandido, mas levá-lo para o seu julgamento e morte certa na forca. Esse é o seu código, e ele o segue à risca, mesmo que não seja o caminho mais fácil. Não deixa de ser uma estrutura também irônica.
E, claro, tudo isso não valeria muito, mesmo com o talento de Tarantino, se não tivéssemos um grande elenco encabeçando esse quebra-cabeças. É impressionante como todos funcionam muito bem em cena, ainda que não tenha uma interpretação que se destaque completamente. Há química entre eles, todas as personalidades são dúbias e ao mesmo tempo bem trabalhadas. Saímos da sessão tendo a sensação de conhecer todos eles com certa intimidade.
Isso é o principal em um bom filme. Ele é vivo. Nos parece real, palpável, crível, por mais incrível que sua história e suas personagens pareçam. A trama pulsa em tela e pulsamos junto com ela. É bom começar um ano com uma obra assim.
Os Oito Odiados (The Hateful Eight, 2015 / EUA)
Direção: Quentin Tarantino
Roteiro: Quentin Tarantino
Com: Samuel L. Jackson, Kurt Russell, Jennifer Jason Leigh, Walton Goggins, Demián Bichir, Tim Roth, Michael Madsen, Bruce Dern, James Parks, Channing Tatum
Duração: 187 min.
Talvez por isso a violência seja sempre tão exacerbada em seus filmes, mas também talvez por isso, ela seja tão plástica e represente sempre algo a mais, uma crítica à sociedade na maioria das vezes. Tarantino coloca a palavra "nigger" em seus diálogos porque sabe que está ali não reforçando, mas ridicularizando, o racismo. Assim como ridiculariza a natureza humana sempre tão capaz de falhar diante da cobiça. E claro, a violência.
Oitavo filme de sua impecável filmografia, Os Oito Odiados traz referências de todos os outros filmes seus, mas também demonstra amadurecimento e evolução de sua própria técnica. Não digo com isso que seja o melhor filme feito pelo cineasta, mas se torna forte candidato a um dos melhores da lista. E é interessante que boa parte da obra se passe em um único cenário e tenha tanta ação e tensão, como seu primeiro filme Cães de Aluguel.
Na trama, um caçador de recompensas com uma prisioneira procurada, acaba tendo que parar em uma estalagem no meio da estrada por causa de uma nevasca, já trazendo como novos passageiros outro caçador de recompensas e um suposto xerife da cidade de destino. E, no local, já estão mais quatro pessoas, todas também com histórias e possibilidades de engano. O fato é que as oito personagens, e nisso acabamos liberando o cocheiro O.B., podem mentir, trapacear e se demonstrar algo que não dizem ser.
É como um jogo de detetive, ou um jogo de xadrez. As peças estão ali trancafiadas em um local e tudo pode acontecer. Esse jogo de tensão é misturado a ótimos diálogos com muita ironia e retirada de máscaras. A estrutura do roteiro vai nos conduzindo de uma maneira muito fluida, não nos fazendo perceber o tempo. Dividido em capítulos, temos inclusive a inserção de um narrador, com a voz do próprio Tarantino, intervindo em alguns momentos, para explicar, recapitular ou simplesmente colocar ainda mais ironia na trama.
É interessante que Tarantino se mantenha no Velho Oeste, revivendo esse gênero à sua própria forma. Um mundo sem lei parece um cenário propício para suas histórias. Mas, o que ele sempre mostrou em seus filmes é que a lei não parece mesmo algo com que o ser humano se preocupe em qualquer época que esteja. Mais do que isso, cada um faz a sua própria lei, mesmo o pior dos bandidos segue alguma lógica.
Isso acaba sendo a premissa da trama, já que a bandida Daisy Domergue é procurada viva ou morta. Se o caçador de recompensas John Ruth seguisse os demais, não existiria filme. Mas, ele acredita que não cabe a ele matar um bandido, mas levá-lo para o seu julgamento e morte certa na forca. Esse é o seu código, e ele o segue à risca, mesmo que não seja o caminho mais fácil. Não deixa de ser uma estrutura também irônica.
E, claro, tudo isso não valeria muito, mesmo com o talento de Tarantino, se não tivéssemos um grande elenco encabeçando esse quebra-cabeças. É impressionante como todos funcionam muito bem em cena, ainda que não tenha uma interpretação que se destaque completamente. Há química entre eles, todas as personalidades são dúbias e ao mesmo tempo bem trabalhadas. Saímos da sessão tendo a sensação de conhecer todos eles com certa intimidade.
Isso é o principal em um bom filme. Ele é vivo. Nos parece real, palpável, crível, por mais incrível que sua história e suas personagens pareçam. A trama pulsa em tela e pulsamos junto com ela. É bom começar um ano com uma obra assim.
Os Oito Odiados (The Hateful Eight, 2015 / EUA)
Direção: Quentin Tarantino
Roteiro: Quentin Tarantino
Com: Samuel L. Jackson, Kurt Russell, Jennifer Jason Leigh, Walton Goggins, Demián Bichir, Tim Roth, Michael Madsen, Bruce Dern, James Parks, Channing Tatum
Duração: 187 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Os Oito Odiados
2016-01-06T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
Bruce Dern|Channing Tatum|critica|Demián Bichir|James Parks|Jennifer Jason Leigh|Kurt Russell|Michael Madsen|oscar 2016|Quentin Tarantino|Samuel L. Jackson|suspense|Tim Roth|Walton Goggins|
Assinar:
Postar comentários (Atom)
cadastre-se
Inscreva seu email aqui e acompanhe
os filmes do cinema com a gente:
os filmes do cinema com a gente:
No Cinema podcast
anteriores deste site
mais populares do site
-
King Richard: Criando Campeãs (2021), dirigido por Reinaldo Marcus Green , é mais do que apenas uma cinebiografia : é um retrato emocionalm...
-
Eletrizante é a melhor palavra para definir esse filme de Tony Scott . Que o diretor sabe fazer filmes de ação não é novidade, mas uma tra...
-
Cinema Sherlock Homes O filme de destaque atualmente é esta releitura do clássico do mistério pelas mãos de Guy Ritchie. O ex de Madonna p...
-
Clint Eastwood me conquistou aos poucos. Ele sabe como construir um filme que emociona e, agora, parece ter escolhido Matt Damon como seu ...
-
O Soterópolis programa cultural da TVE Bahia, fez uma matéria muito interessante sobre blogs baianos. Esta que vos fala deu uma pequena con...
-
Amor à Queima Roupa (1993), dirigido por Tony Scott e roteirizado por Quentin Tarantino , é um daqueles filmes que, ao longo dos anos, se...
-
Olhando para A Múmia (1999), mais de duas décadas após seu lançamento, é fácil perceber como o filme se tornou um marco do final dos anos ...
-
O CinePipocaCult adverte: se você sofre de claustrofobia, síndrome do pânico ou problemas cardíacos é melhor evitar esse filme. Brincadeiras...
-
Fui ao cinema sem grandes pretensões. Não esperava um novo Matrix, nem mesmo um grande filme de ação. Difícil definir Gamer, que recebeu du...