Um Casamento
Muitos temas podem gerar um documentário. Dos aparentemente banais aos grandiosos, do público e do privado. De algo que parecia extremamente íntimo, o casamento de seus pais, Mônica Simões acabou realizando um documentário com diversas camadas que acaba dando um resultado instigante, principalmente por sua personagem principal, a jornalista e atriz Maria da Conceição Moniz Silva, ou simplesmente, Maria Moniz.
Tudo parte do filme do casamento, bastante desgastado, com poucas imagens. Aos poucos, o fio vai sendo desenrolado e falando das duas famílias, do relacionamento dos noivos, do conturbado casamento e de todo o entorno da época. O que era um casamento, acaba se tornando um retrato de uma mulher com personalidade forte em uma sociedade machista.
É interessante como as camadas vão sendo desvendadas. O próprio tema do casamento acaba não sendo a primeira. Mas o tempo em si. O filme desgastado pelo passar dos anos, suas marcas e a persistência de algumas imagens fez-me pensar na nossa estrutura digital atual, onde os dados podem simplesmente sumir, sem vestígios.
É curioso que as duas famílias tinham o hábito de registrar momentos em películas. Com isso, acabamos sendo apresentados a novas imagens do passado. Que nos trazem também sensações de imortalidade e nostalgia mesmo de algo não pessoal. O fato de mãe e filha estarem ali conversando sobre isso acaba criando um reverberação em nós do desvendar do próprio passado.
Nesse ponto, o filme realizado de maneira muito simples e honesta acaba pecando na escolha de nos contar alguns sentimentos em voz over da diretora em uma narração muito ensaiada que perde a espontaneidade dos outros momentos de conversa informal, onde Maria Moniz abre sua alma e suas memórias de maneira muito direta.
É divertido ver quando a filha fala com a mãe também, e esta a interrompe. Por diversas vezes ouvimos "Deixa eu terminar de perguntar, mãe". Esse tom é que acaba se perdendo quando era a narração que apesar de dizer coisas profundas soa quase burocrática, interferindo na emoção passada.
Isso não chega a inviabilizar o que vemos em tela. Há forças nas imagens e há força na figura de Maria que nos fala sobre sua posição de mulher inquieta, que queria muito mais que um casamento, ainda que quisesse ser mãe. A parte final, dedica maior tempo a isso e torna o documentário ainda mais universal, retratando uma época, uma cultura e um exemplo.
Mônica Simões consegue ainda dinamizar o filme com inserções criativas, como a sessão de fotografias das gerações e a maneira como conduz o roteiro em temas que vão em um crescente claro, partindo do microcosmo ao macro, nos fazendo refletir e embarcar juntos naquela jornada temporal.
Um Casamento (Um Casamento, 2016 / Brasil)
Direção: Mônica Simões
Roteiro: Mônica Simões, Nicolau Vergueiro
Duração: 80 min.
Tudo parte do filme do casamento, bastante desgastado, com poucas imagens. Aos poucos, o fio vai sendo desenrolado e falando das duas famílias, do relacionamento dos noivos, do conturbado casamento e de todo o entorno da época. O que era um casamento, acaba se tornando um retrato de uma mulher com personalidade forte em uma sociedade machista.
É interessante como as camadas vão sendo desvendadas. O próprio tema do casamento acaba não sendo a primeira. Mas o tempo em si. O filme desgastado pelo passar dos anos, suas marcas e a persistência de algumas imagens fez-me pensar na nossa estrutura digital atual, onde os dados podem simplesmente sumir, sem vestígios.
É curioso que as duas famílias tinham o hábito de registrar momentos em películas. Com isso, acabamos sendo apresentados a novas imagens do passado. Que nos trazem também sensações de imortalidade e nostalgia mesmo de algo não pessoal. O fato de mãe e filha estarem ali conversando sobre isso acaba criando um reverberação em nós do desvendar do próprio passado.
Nesse ponto, o filme realizado de maneira muito simples e honesta acaba pecando na escolha de nos contar alguns sentimentos em voz over da diretora em uma narração muito ensaiada que perde a espontaneidade dos outros momentos de conversa informal, onde Maria Moniz abre sua alma e suas memórias de maneira muito direta.
É divertido ver quando a filha fala com a mãe também, e esta a interrompe. Por diversas vezes ouvimos "Deixa eu terminar de perguntar, mãe". Esse tom é que acaba se perdendo quando era a narração que apesar de dizer coisas profundas soa quase burocrática, interferindo na emoção passada.
Isso não chega a inviabilizar o que vemos em tela. Há forças nas imagens e há força na figura de Maria que nos fala sobre sua posição de mulher inquieta, que queria muito mais que um casamento, ainda que quisesse ser mãe. A parte final, dedica maior tempo a isso e torna o documentário ainda mais universal, retratando uma época, uma cultura e um exemplo.
Mônica Simões consegue ainda dinamizar o filme com inserções criativas, como a sessão de fotografias das gerações e a maneira como conduz o roteiro em temas que vão em um crescente claro, partindo do microcosmo ao macro, nos fazendo refletir e embarcar juntos naquela jornada temporal.
Um Casamento (Um Casamento, 2016 / Brasil)
Direção: Mônica Simões
Roteiro: Mônica Simões, Nicolau Vergueiro
Duração: 80 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Um Casamento
2016-05-02T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
cinema brasileiro|critica|documentario|filme brasileiro|Mônica Simões|
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