
Continuando a análise da competitiva de longa-metragem no 5º Olhar de Cinema, trago três filmes que tem em comum a mistura de realidade e ficção. Cada um em um nível de hibridismo. A Cidade do Futuro é ficção de uma história real onde os personagens interpretam eles mesmos. Já O Vento Sabe que Volto à Casa simula um documentário, com entrevistas reais, mas o documentarista interpreta. Por fim Irmãos da Noite, traz um documentário onde os personagens encenam situações e conversam entre si sobre suas escolhas.
Curiosamente, este artigo acabou reunindo também os três longa-metragens premiados pelo júri oficial do Festival.
A Cidade do Futuro (Brasil / Cláudio Marques e Marília Hughes)
Prêmio do Júri Popular
Milla, Gilmar e Igor fogem das convenções familiares e do que seria considerado correto pela sociedade onde vivem. O amor para eles é visto de outra maneira, livre, sem regras ou certezas. Eles se buscam e se entendem, enquanto aguardam o pequeno Heitor nascer. E sofrem as consequências do preconceito dos habitantes da cidade.
O filme possui essa mistura entre ficção e realidade, trazendo as os atores em seus próprios papéis. E nisso há pontos positivos, mas também problemas de interpretação com algumas cenas bastante duras que podem tirar o espectador da trama. Mas, há também o impacto da entrega e impacto emocional de conhecer suas histórias.
O filme aborda preconceito e escolhas com bastante honestidade, nos envolvendo na trama. É acima de tudo um filme bonito. Em todos os aspectos. A fotografia também chama a atenção. Bastante plástica em cenas de paisagens, trabalhando a profundidade de campo para unir ou separar personagens da natureza. Ao mesmo tempo que fica mais saturada nas cenas internas.
A Cidade do Futuro é um filme oportuno em uma época onde vemos tanta intolerância entre as pessoas.
O Vento Sabe que Volto à Casa (Chile /José Luis Torres Leiva)
Prêmio Principal do Júri Oficial
Porém, ele é dirigido por José Luís Torres Leiva, o que demonstra que Ignacio Aguero, de certa maneira, está ali atuando e não fica claro exatamente o que é ficção ou não. Como o teste de elenco que faz com os jovens da comunidade para um possível filme de ficção sobre a história dos jovens apaixonados.
Mas, o que torna a obra interessante e envolvente é exatamente essa atmosfera da busca por compreender aquela comunidade simples, suas histórias e seus valores. Cada personagem entrevistado traz algo para o filme. Seja os mais velhos contando as história da ilha, ou os jovens enquanto fazem o teste de elenco expondo seus sonhos. Mesmo um garotinho que conversa com o fictício diretor no final nos traz uma perspectiva própria do lugar com sua imaginação fértil própria da infância.
Um filme que instiga e nos apresenta seus personagens de maneira encantadora.
Irmãos da Noite (Áustria / Patric Chiha)
Prêmio Especial do Júri Oficial
O resultado é um filme instigante, apesar de um pouco cansativo, já que muitas cenas se repetem e os temas não parecem ir além do já visto nos primeiros minutos. Temos rapazes, normalmente estrangeiros que encontram na prostituição uma forma fácil de sobrevivência.
Alguns são casados, heterossexuais ou bi-sexuais. As permissões também são variadas. Há aqueles que topam tudo e outros que impõem limites. Todos falam de maneira natural e aberta. E, como boa parte das cenas é uma encenação de situações em bares, pelas ruas ou na boate, tudo parece mais fácil. Mesmo os depoimentos não são diretos para a câmera, mas conversas entre eles, o que facilita as revelações.
O clima informal e aconchegante criado nos aproxima daqueles rapazes. Mas, é interessante que não chegamos a criar uma empatia tão forte com nenhum deles. O filme nos faz observá-los, mais do que conhecê-los, até por saber que lhes era permitido mentir ou inventar. De qualquer maneira, é um filme que nos instiga em seu formato e temática.