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O Silêncio do Céu
O Silêncio do Céu
Melhor Filme Brasileiro pelo Júri da Crítica, Melhor desenho de Som e o Prêmio Especial do Júri no Festival de Gramado 2016, O Silêncio do Céu é daquelas obras que nos impacta em diversos aspectos. Qualidade técnica e habilidade para lidar com emoções fortes, incômodas e assustadoras que só confirmam o talento ascendente de Marco Dutra (Trabalhar Cansa e Quando eu Era Vivo).
O filme começa com o céu em silêncio, parece óbvio, mas não deixa de ser poético e impactante, até porque logo depois cortamos para a cena mais forte do longa-metragem: o estupro de Diana. A personagem vivida por Carolina Dieckmann é violentada dentro de sua própria casa por dois homens. Não sabemos muito do que aconteceu antes, nem quem sejam aqueles homens. Não vemos também muita coisa, nada é apelativo. São planos-detalhe que vão construindo os fragmentos da cena.
O Silêncio do Céu tem também uma habilidade ímpar para nos apresentar informações do passado das personagens sem precisar ser didático, nem exceder nos flashbacks. Primeiro, mostrando onde estava Mario, o esposo de Diana no momento do crime. Depois, revelando detalhes da relação dos dois, o tempo separado, o retorno recente e outros detalhes desse período que vão nos ajudando a montar alguns quebra-cabeças e deixando a história ainda mais forte.
Baseado no livro de Sergio Bizzio, o filme fala de medos. Temores capazes de nos silenciar, nos afastar das pessoas e de nós mesmos. Diana passou por uma provação extrema e ficou em silêncio, não denunciou os agressores, não desabafou com as amigas, não contou nem mesmo ao marido. Já Mario se define como um medroso. Sempre teve medo de tudo, confrontar qualquer coisa é, para ele, um suplício.
A sensibilidade com que os roteiristas e o diretor lidam com isso, é uma grande habilidade. Eles não julgam suas personagens, apenas acolhem seus processos em tela. A câmera está sempre buscando se aproximar do mundo interior das personagens seja em planos ou paleta de cores. Existe uma voz over de Mario narrando boa parte da trama, é verdade, o que facilita compreender seus pensamentos. Mas isso não se torna uma muleta e, sim, um recurso narrativo que nos ajuda a deixar mais próximos dele.
Ainda que lide com um tema tão delicado quanto o estupro e a violência à mulher, o filme não se torna didático nem mesmo quando Mario visita uma delegacia especializada. A tensão da situação naturaliza a cena e nos mostra a busca por compreensão em uma busca também por si mesmo. "Por que uma mulher não diz que foi estuprada?", Mario pergunta. Porque ele não disse o que viu ou mesmo tentou fazer algo a respeito, podemos nos perguntar. E para ambas as perguntas há acusações, mas também há compreensão do lugar do outro. E talvez o silêncio seja mesmo a melhor solução encontrada.
Silenciar é se esconder, tentar fazer de conta que não existe, é tentar se proteger. Mas é também o veneno que vai nos matando por dentro, o que não deixa de ser uma outra simbologia interessante que o filme traz. O silêncio de Diana e Mario vai modificando-os e criando abismos que vão parecendo intransponíveis e os levando a caminhos que parecem sem volta. Apesar de os compreender e apoiar, o filme não quer ser condescendente ao extremo com o casal, demonstrando os riscos de suas escolhas. Isso é que mais nos toca na obra, o quanto é dura e verdadeira.
As atuações também colaboram com o eterno estado de nervos da obra. Principalmente dos dois protagonistas vividos por Leonardo Sbaraglia e Carolina Dieckmann. Ambos conseguem passar com o olhar muito da emoção de suas personagens. Dor, apatia, desespero, sensação de impotência. E claro, medo. Muito medo. Ou "miedo" já que o filme é todo falado em espanhol.
O Silêncio do Céu é daqueles filmes que nos impactam e ficam em nós durante um bom tempo. Uma obra forte, sensível que, sem dúvidas, traz algo mais que nos faz sair da sessão satisfeitos.
O Silêncio do Céu (Era el Cielo, 2016 / Brasil / Uruguai)
Direção: Marco Dutra
Roteiro: Sergio Bizzio, Caetano Gotardo, Lucía Puenzo
Com: Leonardo Sbaraglia, Carolina Dieckmann, Chino Darín, Alvaro Armand Ugon
Duração: 102 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Silêncio do Céu
2016-09-23T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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