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oscar 2018
terror
Corra!
Corra!
Em seu primeiro filme como diretor, Jordan Peele é corajoso. Ele pega um tema em voga como o racismo e coloca nos moldes do gênero de terror, construindo um suspense psicológico potente, ainda que não aprofunde o quanto poderia, principalmente, por alguns elementos fantásticos que se revelam na parte final.
Corra! é daqueles filmes que você não deve saber muito antes de assistir. O trailer mesmo pode dar muitas pistas ao mesmo tempo em que passa uma ideia errada de muita ação e adrenalina o tempo todo. O importante aqui não são os sustos fáceis ou mesmo uma correria desenfreada de uma casa de terror, mas o estranhamento construído.
A sensação de não pertencimento que Chris experimenta vai além de um homem negro visitando a família da namorada branca. Ou mesmo a constatação dos empregados negros. É a sensação de ser o único ali que parece perceber que há algo errado em tudo aquilo. E, nisso, o espectador se identifica e embarca junto com ele naquela aventura insólita.
As reações da empregada, que parece o tempo todo catatônica, ou do jardineiro, correndo no meio da noite, é mais assustador que um fantasma qualquer de outro filme de terror. E a inserção da técnica de hipnose na história deixa tudo mais crível. Vamos imaginando o que está por trás de tudo aquilo, só que sem compreender completamente o propósito ainda.
A festa em que Chris é apresentado quase como uma espécie rara em exposição traz outras referências assustadoras, como a própria concepção do afrodescendente como exótico, reforçando não apenas o preconceito daquele grupo aparentemente afetuoso, como a própria ideia de escravidão. Abordagem extremamente forte que poderia ser melhor explorada pelo roteiro, em vez de apenas insinuada em alguns momentos.
Talvez o excesso de Corra! venha apenas em algumas explicações finais que torna a trama mais fantasiosa do que deveria, deslocando a experiência da realidade. Seria muito mais assustador se ficássemos no terreno do palpável, construindo conjecturas mais plausíveis e, com isso, consequências mais próximas da realidade. Por mais absurdo que fosse, seria algo possível. E por isso, extremamente assustador. Aqui, o susto fica mais no campo da metáfora ainda que o racismo seja forte e disfarçado de frases de efeito como "se eu pudesse, votaria em Obama pela terceira vez".
Porém, ainda que no campo da fantasia, um dos grandes trunfos de Corra! é o elenco. A começar pelo protagonista Daniel Kaluuya, com o suporte de todos os demais, principalmente Bradley Whitford e Catherine Keener, que tornam toda essa loucura crível e palpável, nos fazendo refletir e temer por associações tão absurdas.
Corra! é daqueles filmes que impressionam. Repito, não esperem grandes sustos ou grandes doses de adrenalina que o gênero costuma construir. O terror aqui é em outro nível, o aproximando de obras como Sob A Pele ou mesmo A Bruxa.
Corra! (Get Out, 2017 / EUA)
Direção: Jordan Peele
Roteiro: Jordan Peele
Com: Daniel Kaluuya, Allison Williams, Bradley Whitford, Catherine Keener, Caleb Landry Jones, Marcus Henderson
Duração: 104 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Corra!
2017-05-23T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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