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Glaucia Vandeveld
João Dumans
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Wederson Neguinho
Arábia
Arábia
Grande vencedor do 50º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (Melhor filme, ator, montagem, trilha sonor e prêmio da crítica), Arábia é uma pérola no cinema brasileiro. Tanto que já tinha feito parte da seleção do Festival de Rotterdam desse ano. Transitando entre o épico e o lírico, mais até que no dramático, consegue nos colocar em um lugar de diálogo impressionante.
Os defensores do “mostrar em vez de contar” poderão alegar excesso de narração. Mas a voz over do filme entra como elemento imprescindível do efeito que se pretende causar, não soando excessivo nem incômodo. Pelo contrário, tal qual André, estamos ali ouvindo a história de Cristiano, contada pelo próprio.
O roteiro é corajoso ao dedicar um longo prólogo ao retrato de um bairro e pessoas que não serão a verdadeira história. A bondosa senhora acolhedora, André e seu irmão com problemas respiratórios possuem um função que só fica clara completamente no final e isso só engrandece ainda mais a experiência fílmica.
A jornada de Cristiano pelo estado de Minas até chegar à vila operária de Ouro Preto é que é o verdadeiro foco. Suas dificuldades, alegrias, medos, desafios vão se desenrolando em um ritmo envolvente, dando voz a um parcela da sociedade normalmente marginalizada.
Com uma fotografia plástica, vamos desvendando paisagens mineiras que trazem uma composição estética com força narrativa vide um galpão cheio de caixas que serve como duelo inusitado do que seja melhor ou pior de carregar. Ou uma montanha de areia que se mistura entre a brincadeira e o serviço pesado. Ou ainda o laranja forte das mexericas (tangerinas) tão simbólicas para aquela realidade.
A fábrica é um elemento à parte, seja a de tecidos, onde ele conhece Ana, ou a última, já em Ouro Preto. A câmera consegue dialogar com esses espaços e como a relação do trabalhador diante dela é trabalhada de uma maneira bastante eficiente. Seja para diminui-lo, diante da grandiosidade das máquinas, seja para destacá-lo, diante da delicadeza do gesto.
O efeito da fábrica para a população também construído de maneira sutil, seja na composição da paisagem, como um grande estranho que contrasta com ruas e casa, seja no problema respiratório do irmão de André. Ao mesmo tempo em que é símbolo de ingratidão para Cascão ou de dignidade para Cristiano, pela oportunidade de trabalho.
Arábia pulsa em tela e nos convida a imergir naquele universo com a força de suas imagens, suas músicas e personagens E, principalmente, pela força do seu texto. Parece paradoxal ao se tratar de cinema, mas é impressionante como tudo se ressignifica a partir dele. Uma experiência única que merece todos os prêmios e elogios.
Filme visto no 50º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
Arábia (Arábia, 2017 / Brasil)
Direção: Affonso Uchoa e João Dumans
Roteiro: Affonso Uchoa e João Dumans
Com: Aristides de Sousa, Murilo Caliari, Glaucia Vandeveld, Renata Cabral, Renato Novaes, Wederson Neguinho, Adriano Araújo, Renan Rovida
Duração: 96 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Arábia
2017-09-25T15:30:00-03:00
Amanda Aouad
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