
Premiado no último festival de Berlim, Pendular é um filme sobre duas pessoas, dois artistas, seus sonhos pessoais e como isso pode interferir ou ser negociado em sua relação enquanto casal.
A obra parece uma grande experimentação em parceria com a experimentação de suas personagens. Centrada quase toda em um galpão, que o casal transforma em lar com uma peculiaridade: a divisão em três espaços. A área comum onde a “casa” existe e o vão dividido entre o ateliê dele e o estúdio de dança dela.

E isso talvez seja o mais instigante do filme. Nada está pronto, nada está totalmente organizado, nada parece caber em fórmulas. Nem mesmo a tentativa de racionalizar as intenções, como em uma cena em que ele mostra as esculturas que está criando para um amigo crítico de arte.

O contraste dos movimentos de dança, com a construção das obras também parecem buscar harmonia quando ela dança com algumas dessas instalações. Porém, nem isso parece impedir a sensação crescente de claustrofobia da relação. Ali, enclausurada naquele porão, já que raramente saímos dele, eles têm seu momento mais tenso na escolha de ter ou não um filho. Mas vai além disso.
Talvez o que conte como negativo em Pendular seja apenas essa irregularidade ou repetição de situações como um reforço incômodo de algo que, aos olhos de fora, podem parecer pequenos, mas que para os protagonistas seja tão denso. É como transformar pequenos gestos rotineiros em uma grande tragédia grega sem enxergar o humor que pode ter nisso ou mesmo a leveza de alguns privilégios obtidos.
De qualquer maneira é um filme que nos toca e faz sentir emoções diversas. Como toda boa arte.
Filme visto no 50º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
Pendular (Pendular, 2017 / Brasil)
Direção: Júlia Murat
Roteiro: Matias Mariani e Júlia Murat
Com: Raquel Karro, Rodrigo Bolzan, Neto Machado
Duração: 108 min.