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A Forma da Água
A Forma da Água
Vencedor do Festival de Veneza 2017, com treze indicações ao Oscar e muito burburinho em torno do nome de Guillermo del Toro, que já teve até acusações de plágio. Ainda que Três Anúncios para um crime e Lady Bird estejam bem cotados, A Forma da Água é o filme da temporada de premiações. Uma fábula muito bem dirigida e com um cuidado na direção de arte que enche os olhos, ainda assim, não é a obra-prima que parece.
O romance entre uma princesa "sem voz" e um estranho príncipe-criatura, poderia ser a premissa da obra. Uma espécie de inspiração em King Kong, já que a "forma" vem da Amazônia onde era cultuado como deus para ser utilizado pelos Estados Unidos na corrida espacial, durante a Guerra Fria. Uma metáfora dos excluídos também, já que a jovem é muda e órfã, sua amiga é negra, seu amigo é gay. E ainda tem um espião russo envolvido.
Enquanto isso, a personificação do vilão está no agente Richard Strickland, interpretado por Michael Shannon, uma espécie de sátira do modelo de família americana, com seu sonhado Cadillac cor azul petróleo, seus filhos saudáveis e sua bela e loira esposa. Mas que, tal qual seus dois dedos arrancados e reimplantados, por dentro está apodrecendo. Algumas cenas dele são exageradamente estranhas, para reforçar a crítica ao padrão vigente.
Elisa Esposito, por outro lado, tem sua rotina sem graça, que em alguns aspectos lembra a rotina do protagonista de Beleza Americana, onde o único prazer diário é quando se masturba no banho matinal. Mas que, ao conhecer o ser aquático no laboratório onde trabalha como faxineira, ganha um novo frescor. Sally Hawkins é extremamente feliz em construir essa delicadeza da moça muda, que ama musicais e é sensível o suficiente para compreender a alma daquele estranho ser.
Ela, seu amigo gay, vivido por Richard Jenkins, ou sua amiga também faxineira, vivida por Octavia Spencer, parecem propositadamente construídos em cima de estereótipos, reforçando o conto de fadas. Suas personas não são aprofundadas, cumprindo funções dramáticas e fazendo contraste ao aparentemente complexo vilão de Shannon. Mas a estrutura não deixa de ser funcional, para valorizar a proposta de Del Toro. Ainda que longe do efeito que este conseguiu em O Labirinto do Fauno, por exemplo.
Com uma direção de arte muito bem cuidada, o cineasta constrói o seu olhar pelo universo fílmico de maneira envolvente, aprimorando o estranhamento da atmosfera do cenário ao mesmo tempo em que nos sensibiliza para sua trama de amor. Não apenas o amor entre a faxineira e a criatura, mas entre ela e o amigo ou ela e a colega de trabalho, sempre cuidadosos uns com o outros.
O filme mistura programações de efeitos de diversos gêneros, desde o terror, passando pelo melodrama, espionagem, comédia e até mesmo musical. Tudo construído de maneira harmônica e envolvente, sendo prazeroso de acompanhar.
Uma jornada visual incrível, com uma boa atmosfera construída e uma clara intenção política no tema. Um filme com a cara de Guillermo del Toro. Ainda assim, o roteiro parece frágil em algumas escolhas, não aprofundando suas personagens quanto poderia para deixá-lo na superfície da fábula e suas metáforas.
A Forma da Água (The Shape of Water, 2017 /EUA)
Direção: Guillermo del Toro
Roteiro: Guillermo del Toro, Vanessa Taylor
Com: Sally Hawkins, Octavia Spencer, Michael Shannon, Richard Jenkins, Michael Stuhlbarg
Duração: 123 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
A Forma da Água
2018-02-01T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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