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Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi
Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi
Baseado no livro de Hillary Jordan, Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi é uma saga sobre duas famílias, os McAllan e os Jackson. A primeira uma família de brancos que acaba de comprar uma fazenda no Mississippi. A segunda, uma família de negros que loca um pedaço de terra por lá.
Poucas vezes, um roteiro dividiu tão bem sua trama, equilibrando o protagonismo entre pelo menos seis personagens. Cada um tem seu espaço de fala e seu ponto de vista conduzido, inclusive, por uma narração em voz over que vai acompanhando algumas imagens à medida que nos passa sentimentos, sonhos e impressões sobre diversos acontecimentos. Esse talvez seja o maior mérito do filme.
Ambientado na década de quarenta, durante e pós segunda grande guerra, o filme trata de temas como preconceito racial e a questão da mulher de maneira bastante eficiente, exatamente por trazer diversos pontos de vista. O lugar de fala e a representatividade tão buscado nos dias de hoje tem espaço, ainda que em primeira instância, seja um homem branco o principal condutor e um homem negro o seu principal contraponto. As principais funções das mulheres ainda são ser esposa e/ou mãe.
Com exceção do velho Pappy McAllan, interpretado por Jonathan Banks, as personagens são construídas em profundidade, apresentando virtudes e defeitos, descaracterizando o maniqueísmo comum a obras assim. Pappy, no entanto, é o estereótipo do pior dos vilões, machista, racista, egocêntrico, não é surpresa que em determinado momento se revele membro da Ku Klux Klan.
Utilizando a estratégia de mostrar uma cena de tensão para depois retornar para explicar a trama até ali, o filme já dá diversas pistas na narração inicial de Jamie McAllan, interpretado por Garrett Hedlund, o irmão mais novo da família de brancos. E com isso já estabelece muito das premissas da trama e do embate racial que cerca a obra. Além de gerar a curiosidade para com os acontecimentos. Não deixa de ser uma boa forma de prender nossa atenção pelas mais de duas horas de projeção.
As atuações são outro destaque do filme, não apenas Mary J. Blige, que realmente se destaca como Florence Jackson e teve sua merecida indicação ao Oscar, mas todo o elenco consegue defender suas personagens de maneira admirável e funcionam bem juntos em cena. Há um equilíbrio que ajuda na condução da trama sem uma sensação de que um quer "roubar" mais a atenção que outro, dando essa sensação de uma diluição no protagonismo.
A montagem também ajuda a forçar esse equilíbrio, o que por vezes prejudica a narrativa com cenas rápidas que muitas vezes carecem de desenvolvimento. Há algumas "coincidências" que não parecem naturais como algumas situações na guerra que buscam comparar o tempo todo as ações de Jamie McAllan e Ronsel Jackson, a ponto de em determinado momento, ambos contemplarem os mesmos aviões salvadores. Mas a direção é hábil em conduzir as duas famílias em pé de igualdade em enquadramentos e mise-en-scène.
Ainda que force situações, Mudbound faz uma boa reflexão crítica sobre os Estados Unidos. Um país que enviou soldados negros para a guerra, mas ao retornar, continuou segregando-os como inferiores, por exemplo. Um país que dependeu muito de suas mulheres durante esse período, mas que, ao final, também as colocou em segundo plano. Um país que prega tanto pela liberdade e igualdade em sua política externa imperialista, mas que, no fundo, exercita uma liberdade seletiva.
Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi é competente em sua proposta. Em suas tramas diluídas em personagens diversos, fala um pouco de tudo e consegue conduzir bem um retrato de um país que ainda tem muito a refletir e aprender sobre sua própria história.
Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi (Mudbound, 208 / EUA)
Direção: Dee Rees
Roteiro: Virgil Williams, Dee Rees
Com: Garrett Hedlund, Jason Mitchell, Carey Mulligan, Jason Clarke, Mary J. Blige, Rob Morgan, Jonathan Banks
Duração: 134 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi
2018-02-15T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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