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The Square: A Arte da Discórdia

The Square: A Arte da Discórdia - filme

Provocar, questionar, ironizar. Essas são algumas das funções da arte. Grande vencedor da Palma de Ouro de Cannes 2017, The Square: A Arte da Discórdia leva tão a sério isso, que acaba se tornando vazio.

Em 1962, Luis Buñuel lançou um filme polêmico, uma mansão reunia a aristocracia local para uma festa e, sem motivo aparente, eles não conseguem sair da sala ao final da noite ,construindo uma escalada de quebra de máscaras e padrões sociais. Tem muito da proposta de O Anjo Exterminador no filme de Ruben Östlund, só que o sueco é menos sutil que o espanhol. Em vez de metáforas e símbolos, ele é didático e literal ao nos apresentar suas críticas.

The Square: A Arte da Discórdia - filmeO roteiro não se constrói em uma única curva dramática. São pontos a ser abordados. Christian é o curador de um museu que está prestes a lançar uma nova exposição. Para atrair o público, ele contrata uma empresa de marketing que tem uma ideia polêmica e gera algumas consequências incômodas. Paralelo a isso, ele e seu assistente, tem uma ideia tola para reaver sua carteira e celular roubados em um golpe de rua, deixando em uma situação ainda mais complicada. Isso sem falar na presença contestadora de Anne, uma moça que ele conhece em uma festa.

Há boas sacadas, não se pode negar, como quando ele recebe um telefonema de uma representante do marketing do Youtube, "conteúdo não é a minha área", ela diz quando ele questiona o próprio vídeo. Nos faz pensar sobre a maneira como a internet hoje constrói seus ícones e anunciantes a partir de views indiscriminados, onde o que menos importa é o conteúdo do mesmo. Não deixa de ser irônico em contraste com um museu que busca valorizar a expressão artística e não o seu número de visitantes.

The Square: A Arte da Discórdia - filme
Um contraste entre o velho e o novo também que poderia render muito mais, porém, o filme parece preferir pulverizar suas críticas em esquetes que vão envolvendo a vida de Christian, como uma espécie de experimentação da natureza humana, que tem o seu ápice em uma festa onde um homem interpreta um selvagem à caça. Tudo parece digno de ironia, o politicamente correto, os preconceitos, o ato de se comunicar e até mesmo a arte. Mesmo a miséria é questionada, como quando Christian dá um sanduíche a uma pedinte que exige que seja "sem cebola".

Em meio ao roteiro raso e, muitas vezes, didático, The Square impressiona em sua direção. Ruben Östlund busca sempre enquadramentos que encantam em diversos aspectos estéticos, como as diversas cenas de escada, vistas de cima, construindo um efeito envolvente e simétrico. A mise-en-scène também é extremante criativa e bem cuidada, como quando ele utiliza o espelho no apartamento de Christian não apenas para ampliar o ângulo como para construir efeitos do próprio rascunho que o personagem é de si mesmo.

Há diversos momentos de contemplação onde a Ave Maria é utilizada em instrumental, construindo um efeito belo e incômodo ao mesmo tempo. Em sua busca por significado e ao mesmo tempo completo vazio das intenções daqueles seres. Traz um pouco também da fé vazia dos seres humanos que muitas vezes parecem guiados apenas por convenções.

The Square: A Arte da Discórdia é um filme instigante, com camadas possíveis de envolvimento e análise. Provoca pouco, no entanto, por já entregar tanto de sua crítica de maneira explícita. Fica quase tolo em seu esforço de parecer genial. Ainda assim, é uma boa obra em seu conjunto.


The Square: A Arte da Discórdia (The Square, 2018 / Suécia)
Direção: Ruben Östlund
Roteiro: Ruben Östlund
Com: Claes Bang, Elisabeth Moss, Dominic West
Duração: 142 min.

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