Home
Amanda Warren
Clarke Peters
critica
drama
Frances McDormand
Martin McDonagh
oscar 2018
Peter Dinklage
Sam Rockwell
Woody Harrelson
Zeljko Ivanek
Três anúncios para um crime
Três anúncios para um crime
Ebbing, Missouri. Uma mãe inconformada com a falta de solução do estupro e assassinato de sua filha coloca três placas de outdoor questionando a eficácia da polícia. Cobra, nominalmente, o xerife Bill Willoughby, um homem admirado pela maioria da população e que está morrendo de câncer. As opiniões se dividem e esse é apenas o começo de uma estranha e inusitada saga por justiça.
Homofobia, racismo, machismo, violência doméstica, abuso de poder policial e censura. Tem um pouco de tudo em Três anúncios para um crime. O problema é que essas questões são lançadas em cena sem um desenvolvimento adequado. Diz que o policial "gosta de bater em negros", por exemplo, mas não desenvolve a trama a ponto de discuti-la profundamente. Os próprios negros em cena são apenas escadas para a protagonista em sua dor e luta.
Ainda que tenha uma delegacia e seus policiais como um dos focos da trama, Ebbing parece uma cidade sem lei. Não é apenas o crime brutal contra a moça que fica sem solução. Um rapaz é atirado de uma janela e ninguém responde judicialmente por isso. Um incêndio criminoso acontece e parece que está tudo certo. Uma moça é presa quase em uma armação da polícia para se vingar de uma cidadã e parece normal. Por mais que o tom do politicamente incorreto seja a proposta da obra, há um exagero em corroborá-lo.
Um filme pode expor situações lamentáveis sem defendê-las. Em Sete Psicopatas e um Shih Tzu, por exemplo, Martin McDonagh já trazia essa proposta, mas deixava mais clara a sátira, sem glamourizar seus protagonistas. Mildred Hayes, a protagonista de Três anúncios para um crime, não é uma pessoa tão detestável assim, mas tem problemas éticos e morais que não são aprofundados em uma estrutura que faz de tudo para que a admiremos por sua força e coragem de buscar justiça. Afinal ela é uma mãe que teve a filha estuprada, assassinada e queimada, mas não se rende e desafia todos aqueles homens que, na sua cabeça, se recusam a investigar o crime.
Frances McDormand está excelente em sua atuação, isso ajuda a criar a empatia pela protagonista. Mas em nenhum momento o filme parece querer questioná-la. A própria idiotização do policial Dixon, também bem interpretado por Sam Rockwell, parece ser uma estratégia para fazer com que ela pareça melhor. Não por acaso o filme prefere deixar o embate entre os dois, já que o xerife Bill Willoughby, outra boa interpretação de Woody Harrelson, teria um embate mais complexo.
A direção de Martin McDonagh é precisa, ainda que não salte aos olhos tal qual atuação e trama. A maneira como as placas vão sendo reveladas, por exemplo, é bem construída. Tanto nas idas de traz pra frente, como no jogo entre o que a câmera revela e o que as personagens vêem, criando um suspense e ambientando a história. O próprio vermelho das placas ajuda a criar um efeito que impacta, principalmente quando elas são vistas em conjunto na estrada.
Há uma hierarquia visual também que ajuda a construir a sensação de poder e embate de cada disputa. E, muitas vezes, as próprias regras da linguagem se subvertem, como quando Willoughby interroga Mildred Hayes, ela sentada, ele em pé. A câmera baixa mostrando-o em uma situação superior a ela. Mas corta para um plano em que ele é visto de costas e uma questão acontece, colocando ela em situação de poder mesmo que vista de cima para baixo.
Três anúncios para um crime é um filme complexo. Traz estereótipos e preconceitos em uma estrutura que se não os defende, não os questiona completamente, mas é competente em sua proposta de retrato politicamente incorreto de uma sociedade em decadência. Entre elementos positivos e negativos, acaba empolgando pela empatia com sua protagonista, mas refletindo um pouco, vemos que é uma proposta que cai no vazio.
Três anúncios para um crime (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri, 2018 / EUA)
Direção: Martin McDonagh
Roteiro: Martin McDonagh
Com: Frances McDormand, Woody Harrelson, Sam Rockwell, Peter Dinklage, Zeljko Ivanek, Clarke Peters, Amanda Warren
Duração: 115 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Três anúncios para um crime
2018-02-13T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
Amanda Warren|Clarke Peters|critica|drama|Frances McDormand|Martin McDonagh|oscar 2018|Peter Dinklage|Sam Rockwell|Woody Harrelson|Zeljko Ivanek|
Assinar:
Postar comentários (Atom)
cadastre-se
Inscreva seu email aqui e acompanhe
os filmes do cinema com a gente:
os filmes do cinema com a gente:
No Cinema podcast
anteriores deste site
mais populares do site
-
King Richard: Criando Campeãs (2021), dirigido por Reinaldo Marcus Green , é mais do que apenas uma cinebiografia : é um retrato emocionalm...
-
Cinema Sherlock Homes O filme de destaque atualmente é esta releitura do clássico do mistério pelas mãos de Guy Ritchie. O ex de Madonna p...
-
Eletrizante é a melhor palavra para definir esse filme de Tony Scott . Que o diretor sabe fazer filmes de ação não é novidade, mas uma tra...
-
O Soterópolis programa cultural da TVE Bahia, fez uma matéria muito interessante sobre blogs baianos. Esta que vos fala deu uma pequena con...
-
Clint Eastwood me conquistou aos poucos. Ele sabe como construir um filme que emociona e, agora, parece ter escolhido Matt Damon como seu ...
-
Olhando para A Múmia (1999), mais de duas décadas após seu lançamento, é fácil perceber como o filme se tornou um marco do final dos anos ...
-
Amor à Queima Roupa (1993), dirigido por Tony Scott e roteirizado por Quentin Tarantino , é um daqueles filmes que, ao longo dos anos, se...
-
Fui ao cinema sem grandes pretensões. Não esperava um novo Matrix, nem mesmo um grande filme de ação. Difícil definir Gamer, que recebeu du...
-
O CinePipocaCult adverte: se você sofre de claustrofobia, síndrome do pânico ou problemas cardíacos é melhor evitar esse filme. Brincadeiras...