
Ebbing, Missouri. Uma mãe inconformada com a falta de solução do estupro e assassinato de sua filha coloca três placas de outdoor questionando a eficácia da polícia. Cobra, nominalmente, o xerife Bill Willoughby, um homem admirado pela maioria da população e que está morrendo de câncer. As opiniões se dividem e esse é apenas o começo de uma estranha e inusitada saga por justiça.
Homofobia, racismo, machismo, violência doméstica, abuso de poder policial e censura. Tem um pouco de tudo em Três anúncios para um crime. O problema é que essas questões são lançadas em cena sem um desenvolvimento adequado. Diz que o policial "gosta de bater em negros", por exemplo, mas não desenvolve a trama a ponto de discuti-la profundamente. Os próprios negros em cena são apenas escadas para a protagonista em sua dor e luta.

Um filme pode expor situações lamentáveis sem defendê-las. Em Sete Psicopatas e um Shih Tzu, por exemplo, Martin McDonagh já trazia essa proposta, mas deixava mais clara a sátira, sem glamourizar seus protagonistas. Mildred Hayes, a protagonista de Três anúncios para um crime, não é uma pessoa tão detestável assim, mas tem problemas éticos e morais que não são aprofundados em uma estrutura que faz de tudo para que a admiremos por sua força e coragem de buscar justiça. Afinal ela é uma mãe que teve a filha estuprada, assassinada e queimada, mas não se rende e desafia todos aqueles homens que, na sua cabeça, se recusam a investigar o crime.

A direção de Martin McDonagh é precisa, ainda que não salte aos olhos tal qual atuação e trama. A maneira como as placas vão sendo reveladas, por exemplo, é bem construída. Tanto nas idas de traz pra frente, como no jogo entre o que a câmera revela e o que as personagens vêem, criando um suspense e ambientando a história. O próprio vermelho das placas ajuda a criar um efeito que impacta, principalmente quando elas são vistas em conjunto na estrada.
Há uma hierarquia visual também que ajuda a construir a sensação de poder e embate de cada disputa. E, muitas vezes, as próprias regras da linguagem se subvertem, como quando Willoughby interroga Mildred Hayes, ela sentada, ele em pé. A câmera baixa mostrando-o em uma situação superior a ela. Mas corta para um plano em que ele é visto de costas e uma questão acontece, colocando ela em situação de poder mesmo que vista de cima para baixo.
Três anúncios para um crime é um filme complexo. Traz estereótipos e preconceitos em uma estrutura que se não os defende, não os questiona completamente, mas é competente em sua proposta de retrato politicamente incorreto de uma sociedade em decadência. Entre elementos positivos e negativos, acaba empolgando pela empatia com sua protagonista, mas refletindo um pouco, vemos que é uma proposta que cai no vazio.
Três anúncios para um crime (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri, 2018 / EUA)
Direção: Martin McDonagh
Roteiro: Martin McDonagh
Com: Frances McDormand, Woody Harrelson, Sam Rockwell, Peter Dinklage, Zeljko Ivanek, Clarke Peters, Amanda Warren
Duração: 115 min.
anakamila 76p · 372 semanas atrás
Amanda_Aouad 118p · 371 semanas atrás
Hugo · 372 semanas atrás
O estilo do diretor Martin McDonagh é explorar a violência, personagens problemáticos e o politicamente incorreto beirando a sátira ou o humor negro. Além do filme que você citou, ele já havia feito algo semelhante em "Na Mira do Chefe".
As ótimas atuações do trio principal ajudam muito no resultado.
Bjos
Amanda_Aouad 118p · 371 semanas atrás
bjs