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Guerra Civil

Guerra Civil - filme

“Testemunha ocular da História”, esse slogan de um famoso radiojornal brasileiro traduz bem o papel da imprensa no mundo. Um fotojornalista, então, é o olhar que traz ao público algo que ele presencia, sem interferir diretamente na realidade. E paradoxalmente, ao fazer isso, acaba não apenas interferindo como nos proporcionando fazer parte daquilo. É assim o filme de Alex Garland.

Guerra Civil não é sobre a guerra civil que acontece nos Estados Unidos. O filme não está preocupado em explicar o que é o conflito, como começou e o que está por trás dele. Apenas algumas pistas para entendermos o contexto. Seu foco está no grupo de jornalistas que atravessa o país com o sonho de entrevistar o presidente antes que ele caia. É uma jornada insana, mas ao mesmo tempo fascinante sobre o papel da imprensa e as emoções humanas em situações extremas.

Guerra Civil - filme
Kirsten Dunst
é uma fotojornalista experiente. Seu olhar frio é capaz de captar os momentos sem se abater aparentemente. Mas, sozinha, em seu quarto, ou banheiro, fica claro os traumas que uma vida assim são capazes de produzir. Já Cailee Spaeny é o contrário. Uma garota com uma máquina de fotografar e um sonho, concretizado ao cruzar seu destino com de sua ídola em pleno campo de batalha.

A jornada contrária de ambas entre aprendizados, sofrimentos e reumanização tão o tom da trama, literalmente, já que o olhar da câmera de ambas substitui a câmera oficial em diversos momentos. Esse efeito nos coloca na posição das duas, ao mesmo tempo em que nos dá o efeito exato de sua obra no público, que vê a guerra sob a lente de fotojornalistas como elas.

Uma cena específica demonstra bem essa passagem de bastão, quando Dunst se abaixa para olhar o enquadramento que a jovem está fazendo de determinada cena. E posteriormente vemos ambas avaliando o resultado. Detalhe na profundidade de campo extremamente baixa, deixando apenas a personagem focada, reforçando a importância do momento, quase como uma epifania.

Guerra Civil - filme
Em diversos momentos, o filme brinca com a mudança de foco e da profundidade de campo. Não apenas nos momentos decisivos de um registro da luta, mas também em momentos de observação de um campo, de pequenas flores e da ainda presença da vida diante de um caos quase absoluto. Talvez registrando o cansaço de olhos que já viram e registraram muito, ou simplesmente, uma pausa para nos preparar para os próximos momentos de tensão. O fato é que Guerra Civil é mais uma experiência fílmica do que uma construção narrativa clássica. E nisso está o diferencial da obra.

Em meio a essa troca de olhar entre a jovem e a experiente fotógrafa, está o personagem de Wagner Moura, com destaque para a boa atuação do brasileiro. Joel é um jornalista experiente, mas ainda longe do quase aposentado personagem de Stephen Mckinley Henderson. Acostumado à tensão, parece quase se divertir em meio ao campo de batalha, conversando, bebendo e brincando enquanto sonha em fazer a derradeira entrevista com o chefe de estado. Mas a humanidade também irá bater em sua porta em momentos chaves.

Porque no final, Guerra Civil é sobre isso. Sobre a frieza da captura e registro do fato, sob a tutela da tal imparcialidade jornalística. Mas também sobre o impacto de situações tão cruéis sobre esses seres humanos que são, também, agentes sociais. Ao mesmo tempo em que o filme não constrói um melodrama, nos traz a narrativa quase como uma observação distante e que, talvez por isso, nos impacta e nos faz refletir sobre tudo aquilo que assistimos. Como já foi dito, uma experiência fílmica. E das boas.


Guerra Civil (2024, EUA)
Direção: Alex Garland
Roteiro: Alex Garland
Com: Kirsten Dunst, Wagner Moura, Cailee Spaeny, Stephen McKinley Henderson
Duração: 109 min

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