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Tico e Teco: Defensores da Lei

Tico e Teco: Defensores da Lei - filme

Em um panorama cinematográfico onde a guerra do streaming empurra Hollywood a reaproveitar e reciclar incessantemente suas propriedades, Tico e Teco: Defensores da Lei surge como uma surpreendente exceção à regra. Este filme do Disney+ não apenas revive os adoráveis esquilos da série animada dos anos 80, mas também o faz com uma dose saudável de sarcasmo e autocrítica, que nos lembra do inimitável Uma Cilada para Roger Rabbit (1988).

Dirigido por Akiva Schaffer, conhecido por seu trabalho no grupo cômico The Lonely Island, Tico e Teco: Defensores da Lei é uma mistura de live-action e animação que se destaca por sua metalinguagem e humor autoconsciente. O filme começa com a premissa de que a série original Defensores da Lei foi um programa de TV no universo dos personagens. Anos após seu cancelamento, Tico e Teco, que seguiram caminhos distintos, são obrigados a se reunir para investigar o desaparecimento de seu antigo colega de elenco, Monterey Jack.

Tico e Teco: Defensores da Lei - filme
Uma das características mais marcantes deste filme é a escolha de manter Tico em animação 2D tradicional, enquanto Teco é renderizado em 3D. Esta decisão estilística não apenas serve como uma piada interna sobre os remakes em CGI da Disney, como O Rei Leão (2019), mas também reforça a temática do choque entre o velho e o novo, o nostálgico e o moderno. A animação de Teco como um personagem 3D que passou por uma "cirurgia plástica de CGI" é não só uma sátira direta à tendência de Hollywood de atualizar visuais clássicos para atrair novas audiências, muitas vezes sem necessidade, quanto às harmonizações faciais tão em moda entre as celebridades.

As atuações vocais de John Mulaney (Tico) e Andy Samberg (Teco) são fundamentais para o sucesso do filme. Em vez de recorrer às vozes moduladas e estridentes dos esquilos na série original, a escolha de usar as vozes naturais dos atores adiciona uma camada de autenticidade e humor adulto. Mulaney e Samberg trazem uma química palpável e uma dinâmica de irmãos briguentos, mas inevitavelmente leais, que é ao mesmo tempo tocante e hilária. Eric Bana também se destaca como Monterey Jack, trazendo um toque de vulnerabilidade e humor ao personagem.

O roteiro, escrito por Dan Gregor e Doug Mand, é uma joia de criatividade que se aproveita da mesmice de Hollywood para fazer críticas mordazes. A história se desenvolve de maneira engenhosa, usando a investigação do sequestro de Monterey Jack como um pretexto para explorar uma infinidade de referências à cultura pop. A aparição de personagens como o Sonic Feio e o passeio por antros de opiáceos animados, que fazem alusão a filmes clássicos como Era Uma Vez na América (1984), são exemplos brilhantes de como o filme utiliza suas referências de forma inteligente e irônica.

Tico e Teco: Defensores da Lei - filme
Akiva Schaffer
consegue equilibrar perfeitamente o tom do filme entre a bobeira e a acidez. A direção dele é hábil em manter o ritmo. Mesmo quando o roteiro se torna um pouco pesado na metade do filme, Schaffer compensa com visuais vibrantes e uma montagem ágil que mantém o público engajado. O filme não tem medo de fazer piadas às custas da própria Disney, o que é um feito notável, considerando a tendência do estúdio de tratar seu legado com extrema reverência. A crítica à tendência de remakes e reboots é clara, mas o filme também se entrega a essas convenções de maneira charmosa e cômica.

Um dos momentos mais marcantes do filme é a sequência no Vale da Estranheza, onde Tico e Teco encontram personagens de CGI mal renderizados. Esta sequência não só é visualmente impressionante, como também serve como uma crítica direta à falha da animação de capturar a essência humana, algo que filmes como O Expresso Polar (2004) tentaram e falharam. A presença de Roger Rabbit, ainda que breve, é um aceno nostálgico que reforça a conexão espiritual entre os dois filmes.

No entanto, Tico e Teco: Defensores da Lei tem lá também suas falhas. Apesar de sua metalinguagem e humor sofisticado, o filme às vezes se apoia demais em cameos e referências, o que pode ser cansativo para espectadores que não estejam tão imersos na cultura pop.

Tico e Teco: Defensores da Lei é uma surpresa agradável no mar de reboots e remakes que dominam Hollywood atualmente. Com suas atuações vocais cativantes, uma direção hábil e um roteiro que equilibra nostalgia com crítica mordaz, o filme se destaca como uma comédia inteligente que tanto diverte quanto faz refletir. Para os adultos que cresceram com a série original e para as novas gerações, o filme oferece uma experiência que é tanto um retorno ao passado quanto uma sátira brilhante do presente.


Tico e Teco: Defensores da Lei (Chip ‘n Dale: Rescue Rangers, 2022 / EUA)
Direção: Akiva Schaffer
Roteiro: Dan Gregor, Doug Mand
Com: John Mulaney, Mason Blomberg, Andy Samberg, Juliet Donenfeld, KiKi Layne, Will Arnett, Eric Bana, Flula Borg, Dennis Haysbert, Keegan-Michael Key, Tress MacNeille, Seth Rogen
Duração: 97 min.

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