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Agora Seremos Felizes

Agora Seremos Felizes - filme

Agora Seremos Felizes
(1944), ou Meet Me in St. Louis, de Vincente Minnelli, é um dos marcos do cinema americano da década de 1940 e exemplifica o auge da era de ouro dos musicais de Hollywood. Estrelado por Judy Garland, mais conhecida pelo grande público como a Dorothy de O Mágico de Oz, o filme conta a história da família Smith em St. Louis, um retrato nostálgico da família americana tradicional, ainda que não fosse idealizada de maneira simplória. Ambientado em 1903, o filme capta a vida cotidiana com um olhar afetuoso, embalado por números musicais que são parte integrante da narrativa, em vez de apenas uma ornamentação típica de musicais da época.

Desde o início, Agora Seremos Felizes se destaca por ser mais que uma narrativa linear de encontros e desencontros amorosos; ele é uma celebração dos laços familiares e da vida em comunidade em uma cidade que anseia pela Exposição Universal de 1904. Minnelli, que vinha de uma sólida experiência como cenógrafo na Broadway, traz ao filme uma atenção inigualável aos detalhes de produção, algo que é aparente desde o figurino até a organização de cada cena. Conta-se que Minnelli se baseou em materiais históricos, como o catálogo da Sears de 1904, para recriar a indumentária dos personagens, e o resultado é um filme visualmente imersivo. Esse realismo visual dá ao público a sensação de viver aqueles momentos com os personagens e submerge os espectadores numa era onde o ritmo da vida era mais tranquilo, e as expectativas mais simples.

Judy Garland, que inicialmente se opôs ao papel por acreditar que já estava saturada de interpretar jovens ingênuas, é o coração do filme. Ela encarna Esther Smith, uma adolescente apaixonada pelo "garoto da porta ao lado" com uma profundidade que vai além da doçura esperada. Garland, na verdade, brilha ao dar a Esther uma dimensão que torna a personagem memorável. Esse papel acabou se tornando um dos preferidos da atriz, em parte pela química com Minnelli, que mais tarde se tornaria seu marido. Em várias cenas, ele a coloca em molduras — como uma obra de arte, entre janelas, portas e outros elementos cenográficos, particularmente nas canções "The Boy Next Door" e "Have Yourself a Merry Little Christmas". Esta última, talvez um dos momentos mais icônicos do filme, imortalizou a música e marcou definitivamente o Natal no imaginário do cinema. É uma cena de uma quietude melancólica que captura a dor de uma possível despedida e, de forma brilhante, realça a complexidade do momento, misturando o espírito natalino com a tristeza da separação.

Agora Seremos Felizes - filme
Outro grande destaque no elenco é Margaret O'Brien, que interpreta Tootie, a irmã mais nova de Esther. Embora fosse apenas uma criança, O'Brien ganhou o Oscar Juvenil por sua atuação e merecidamente. Sua personagem é uma figura ao mesmo tempo travessa e dramática, fascinada pela ideia de enterrar suas bonecas após "doenças fatais" inventadas, criando um contraste com o tom alegre do filme. Em várias cenas, Tootie rouba a cena com suas travessuras, mas também com sua habilidade em expressar emoções com profundidade inesperada para uma criança.

A construção visual do filme é, sem dúvida, um dos maiores pontos de sucesso da direção de Minnelli. Sendo seu primeiro filme em Technicolor, ele teve um cuidado minucioso com a fotografia, criando uma paleta de cores vivas que espelha as quatro estações que pontuam a trama. Cada estação não só marca o tempo na narrativa, mas também serve como um recurso para intensificar as emoções e os momentos pelos quais a família passa. Minnelli demonstrou que sabia como aproveitar o Technicolor para reforçar a atmosfera da história. As cores vibrantes e os detalhes minuciosos na ambientação não servem apenas para embelezar o filme, mas contribuem para o desenvolvimento emocional, reforçando a narrativa e dando ainda mais vida a St. Louis, que se torna quase um personagem.

O filme em alguns momentos, tem um ritmo mais lento. Isso, porém, é uma questão de perspectiva. Enquanto alguns podem ver isso como um ponto negativo, o ritmo pausado é justamente o que permite ao filme capturar o dia a dia daquela família. Esse é o grande diferencial de Agora Seremos Felizes em relação a outros musicais de sua época. Em vez de usar as canções para momentos de escapismo, Minnelli faz com que cada número musical seja uma extensão do que os personagens sentem. As canções como "Meet Me in St. Louis" e "You and I" têm propósito e ressoam com os temas de esperança, nostalgia e amor que permeiam a história.

Agora Seremos Felizes - filme
A personagem do Sr. Alonzo Smith, o pai da família, é central para o conflito do filme, especialmente quando ele anuncia que todos terão de se mudar para Nova York devido a uma promoção. A mudança, que simboliza o medo do desconhecido e a dor de deixar para trás um lar cheio de memórias, cria uma tensão interna na família. Esse dilema demonstra que, por mais perfeita que uma família possa parecer, há sempre desafios e decisões difíceis. O que talvez Minnelli esteja tentando nos dizer, com a suavidade de seu toque visual e o cuidado com os diálogos, é que o que define uma família não é a ausência de conflitos, mas a maneira como eles são resolvidos em união. O filme apresenta um desfecho que abraça a continuidade, mas sem esquecer os sacrifícios que vêm com ela.

Há algo de eternamente relevante na visão de Minnelli. Ele consegue capturar o espírito de uma época com uma nostalgia que ainda nos fala mesmo décadas depois de seu lançamento. E se a história se passa em 1904, é importante lembrar que o filme foi lançado em 1944, em plena Segunda Guerra Mundial, quando as pessoas ansiavam por uma representação de uma "América idealizada". Agora Seremos Felizes ofereceu essa segurança, esse lugar imaginário onde o tempo parecia não importar e onde, ao final, o lar é onde o coração está, mesmo em tempos incertos.

O impacto cultural de Agora Seremos Felizes vai além de sua recepção inicial. Além de ter sido um sucesso de bilheteria, arrecadando mais de cinco milhões de dólares e recebendo indicações ao Oscar em várias categorias, foi considerado um dos maiores musicais americanos de todos os tempos pela American Film Institute. O sucesso comercial e a longevidade do filme se devem à combinação do talento de Judy Garland, da visão artística de Minnelli e da simplicidade encantadora de uma história que toca em temas universais.

Em resumo, Agora Seremos Felizes é uma obra que oferece ao público uma janela para uma época de incertezas, mas também de alegrias simples e inesquecíveis. Ele é um testemunho do talento de Judy Garland e do gênio visual de Vincente Minnelli. Seu legado é o de um clássico que, apesar de retratar uma época passada, ainda nos marca profundamente, pois nos lembra do valor da família, do amor e da importância de encontrar alegria nos pequenos momentos. Um ótimo filme para a época de Natal.


Agora Seremos Felizes (Meet Me In St. Louis, 1944 / EUA)
Direção: Vincente Minnelli
Roteiro: Irving Brecher, Fred F. Finklehoffe
Com: Judy Garland, Lucille Bremer, Mary Astor, Leon Ames, Margaret O'Brien
Duração: 113 min.

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