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Enquanto Você Dormia
Enquanto Você Dormia
Enquanto Você Dormia (1995), dirigido por Jon Turteltaub e estrelado por Sandra Bullock, é um daqueles filmes que parecem congelados no tempo, evocando uma nostalgia não apenas por seu ambiente natalino, mas também pela simplicidade da trama. Apesar de partir de uma premissa improvável – a bilheteira Lucy (Bullock), apaixonada à distância por um homem que vê todos os dias no metrô, de repente é confundida como a noiva dele após salvá-lo de um acidente – o filme se sustenta de forma surpreendente. O tom cômico e acolhedor, que lembra as clássicas comédias românticas de Frank Capra, veste com frescor as convenções de Hollywood que, nos anos 90, já demonstravam certo desgaste.
Sandra Bullock, que havia experimentado sucesso em filmes de ação como Velocidade Máxima, prova que o “girl-next-door appeal” – a persona de uma garota comum, acessível e carismática – é algo natural para ela. A atriz, sem grandes artifícios e apenas de jeans e camisas básicas, entrega uma performance comovente que reflete as incertezas de uma mulher que leva uma vida discreta, sozinha e sem grandes ambições, exceto o sonho de ser amada. A caracterização de Lucy é acertada e fundamenta a leveza do filme. Em uma Hollywood onde os estúdios preferem figuras superproduzidas, Lucy é uma espécie de Cinderela, que almoça cachorro-quente e faz amizade com os colegas do trabalho. O papel, originalmente planejado para Demi Moore, encontrou sua forma ideal em Bullock, que exala vulnerabilidade e sinceridade sem deixar de ser espirituosa. Em Enquanto Você Dormia, a atriz entrega uma das performances mais encantadoras de sua carreira.
Jon Turteltaub conduz o filme com uma sensibilidade que não permite exageros cômicos desnecessários. Seu estilo é clássico e eficiente, entregando uma narrativa visual bem embasada em Chicago, que é retratada com carinho e autenticidade. Ele posiciona o cenário de modo que o ambiente urbano se torne uma extensão das emoções dos personagens, desde as ruas e estações de metrô até os momentos em que Lucy vaga sozinha pela cidade. Esse trabalho de direção valoriza os elementos do Natal, como a neve e as luzes, adicionando uma aura de fantasia sem transformar o filme em um conto de fadas um pouco distante da realidade.
A trama se constrói a partir da entrada de Lucy na família Callaghan, após o mal-entendido em que é confundida com a noiva do homem desmaiado. A família é simpática, carismática e verdadeiramente amável, desde o pai Ox, vivido pelo experiente Peter Boyle, até a avó Elsie, interpretada por Glynis Johns, que adiciona uma dose de humor e leveza aos diálogos. Esses personagens secundários são construídos com cuidado pelo roteiro de Daniel G. Sullivan e Fredric LeBow, que os posicionam não apenas como coadjuvantes, mas como uma segunda família para Lucy, uma espécie de acolhimento que ela nunca teve.
A dinâmica entre Lucy e Jack (Bill Pullman) é, talvez, o maior trunfo do filme. Enquanto o irmão do príncipe adormecido, Jack, inicialmente suspeita de Lucy e questiona sua história, ele aos poucos começa a se encantar pela sua simplicidade e bondade. Pullman, conhecido por sua presença amigável e próxima do espectador, equilibra a tensão entre a comédia e o romance. Ele e Bullock estabelecem uma química natural que ultrapassa o conflito inicial. Essa relação de inimigos que se tornam amantes está longe de ser original, mas é tratada com um toque de suavidade que evita o melodrama e entrega uma sinceridade quase inesperada para o gênero. A tensão entre o dever e o desejo cria algumas das cenas mais impactantes do filme, especialmente na sequência final. Esse momento não é apenas uma revelação, mas um ponto de virada para Lucy, que finalmente se permite abraçar o amor que sente por Jack.
Porém, o roteiro assume riscos limitados e, em alguns momentos, a trama soa inverossímil, especialmente na suspensão de descrença que exige que toda a família acredite cegamente na história da noiva desconhecida. Há ainda certa falta de agilidade em algumas cenas e a mensagem de felizes para sempre é com certeza idealizada para o gosto contemporâneo, embora funcione bem no contexto de uma comédia romântica natalina dos anos 90. É um filme que visa entreter e aquecer o coração, e ao abraçar o clichê, ele acaba por fazer disso sua maior virtude.
Enquanto Você Dormia não é uma obra-prima do cinema, mas é, sem dúvida, um dos filmes mais reconfortantes e charmosos da carreira de Sandra Bullock, que conseguiu provar que uma atriz pode brilhar mesmo em uma história modesta. O filme se mantém como um lembrete de um tempo em que as comédias românticas podiam, sim, ser previsíveis, sem serem banais. Um filme que nos faz querer proteger sua protagonista e torcer por ela até o último segundo, um sentimento raro e genuíno que poucas produções conseguem evocar.
Enquanto Você Dormia (While You Were Sleeping, 1995 / Estados Unidos)
Direção: Jon Turteltaub
Roteiro: Daniel G. Sullivan e Fredric LeBow
Com: Sandra Bullock, lly Walker, Ann Whitney, Bernie Landis, Bill Pullman, Dick Cusack, Dobie Maxwell, Gene Janson, Glynis Johns, Jack Warden, James Krag, Jason Bernard, Joel Hatch, Kate Reinders, Kevin Gudahl
Duração: 103 min.
Ari Cabral
Bacharel em Publicidade e Propaganda, profissional desde 2000, especialista em tratamento de imagem e direção de arte. Com experiência também em redes sociais, edição de vídeo e animação, fez ainda um curso de crítica cinematográfica ministrado por Pablo Villaça. Cinéfilo, aprendeu a ser notívago assistindo TV de madrugada, o único espaço para filmes legendados na TV aberta.
Enquanto Você Dormia
2024-12-16T08:30:00-03:00
Ari Cabral
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