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Festival de Brasília: Parte um - Sangue Mineiro

57º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro

O 57º Festival de Brasília destacou-se pela sua pluralidade de vozes e olhares, revelando um cinema brasileiro em constante transformação. Seja através de narrativas poéticas, experimentações estéticas ou reflexões políticas, cada obra reafirmou a capacidade do festival de ser um espaço essencial para a arte e o debate. Entre altos e baixos, o evento reafirma sua relevância como um dos principais palcos do audiovisual nacional.

Retrospectiva Competitiva de longas:


1º Dia - Suçuarana

Suçuarana - filme
Em 2017, o grande vencedor da edição do Festival de Brasília foi Arábia, filme dirigido pelos mineiros Affonso Uchôa e João Dumans, sobre as memórias de um metalúrgico, registradas em um diário. De alguma maneira, o filme de Clarissa Campolina e Sérgio Borges dialoga com ele. Não apenas por ser em Minas ou ter uma fábrica em uma parte da trama, mas pela atmosfera de esperança e melancolia que preenchem o caminho de seus protagonistas.

Aqui acompanhamos Dora, uma mulher andarilha em busca das terras de sua mãe que ela só tem uma foto. Na verdade, sua jornada é mais uma descoberta interior e poética de si mesma. Não por acaso, sua companheira é uma cadela que ela apelida de Encrenca. Entre encontros e desencontros, há algo mágico em sua jornada, nas pessoas que encontra pelo caminho e em uma comunidade que vive de extrair o metal de uma fábrica abandonada.

A direção da dupla mineira é cuidadosa na construção desse ponto de vista dessa mulher, desbravando seu road movie em um ritmo próprio que ajuda na nossa imersão para caminhar junto com ela por aquelas estradas. A escolha dos planos nos ajuda também a criar um vínculo com a cadela Encrenca, uma espécie de anjo da guarda de Dora, que ela insiste em afastar. Suçuarana é um filme poético, reflexivo e que traz boas discussões sobre sonhos, oportunidades e a dura realidade de boa parte do povo brasileiro.



Suçuarana
Direção: Clarissa Campolina e Sérgio Borges
Roteiro: Clarissa Campolina e Rodrigo Oliveira
Minas Gerais, Ficção, 84 minutos, 2024
 

2º Dia - Pacto da Viola

Pacto da Viola - filme
A segunda noite do festival trouxe um filme local para falar também do interior de Minas. Agora narrando a história de Alex, um violeiro frustrado por não conseguir sucesso que tem que retornar a sua terra natal para cuidar do pai doente.

Há poesia e delicadeza na obra de Guilherme Bacalhao, assim como pinceladas de críticas sociais. As belas paisagens do interior e suas tradições são abordadas no compasso da viola, rendendo boas cenas. Assim como o contraste da jovem Joice pulverizando uma plantação com agrotóxico enquanto ouve e dança uma música de balada. A tradição da folia dos reis também funciona como trama de fundo, na passagem de bastão de pai para filho.

Porém, o filme parece não se decidir entre esse tom mais poético com a atmosfera de terror que é pincelada com a história do pacto com o diabo e as consequências disso. A sensação é de que há um receio em excesso em assumir a obra como um filme de gênero, que abriria espaço para uma estética e uma abordagem mais original que casaria bem com um público específico. Ao ficar no meio do caminho, Pacto da Viola acaba ficando também em uma zona mediana da apreciação.

Ainda assim, a obra se destaca pelas atuações, com um elenco afinado e entregue a seus papéis. Uma pena que apresente elementos que não explora tão bem como poderia, nos deixando apenas com aquela sensação estranha de querer um pouco mais.

Pacto da Viola
Direção: Guilherme Bacalhao
Roteiro: Roberto Robalinho, Guilherme Bacalhao e Aurélio Aragão
Distrito Federal, Ficção, 99 minutos, 2024
 

3º Dia - Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá

Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá - filme
A terceira noite do festival fecha a “trilogia mineira” na capital, com a obra de Sueli Maxakali. Cineasta, professora e fotógrafa, a indigena conta sua própria história em busca do seu pai, Luis Kaiowá.

A abertura do filme é instigante. Em algum nível faz eco a abertura de Nanook, o Esquimó, filme de Robert Flaherty que marca o início dos estudos sobre documentários. Sueli apresenta toda a sua família que vai se enfileirando em frente a câmera de uma maneira divertida e didática.

A partir daí, a narrativa segue uma estrutura própria de retrato do dia a dia e preparo para uma viagem em busca do pai de Sueli, que ela não vê há quarenta anos. É curiosa a maneira como a cineasta vai apresentando o tema, com estrutura própria e uma busca pela comunicação conosco, não-indígenas.

Entre as conversas, diversas questões sócio-políticas envolvendo os povos originais, entre elas a demarcação de terras, a escravidão e a maneira como os colonizadores avançaram pelo interior do país, descolando e realocando aqueles povos como simples peças a seu dispor.

A obra acaba sendo um material extremamente rico para observação, compreensão e busca por diálogo com esses povos. Reforçando a diversidade cultural e de hábitos de cada um deles, suas histórias e anseios.

Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá
Direção: Sueli Maxakali, Isael Maxakali, Roberto Romero e Luisa Lanna
Roteiro: Sueli Maxakali, Roberto Romero e Tatiane Klein
Minas Gerais, Documentário, 92 minutos, 2024

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