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Onze homens e um segredo

Onze homens e um segredo - filme

Poucos filmes resumem tão bem uma época como Onze Homens e Um Segredo (Ocean’s 11). Dirigido por Lewis Milestone, o longa é um reflexo brilhante — ainda que às vezes problemático — do espírito boêmio e do glamour despreocupado da década de 1960. Com um elenco formado pelo lendário Rat Pack, composto por Frank Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis Jr., Peter Lawford e Angie Dickinson, o filme se apresenta como uma espécie de playground cinematográfico para esse grupo de amigos carismáticos. Apesar de algumas falhas, é uma obra que merece atenção, seja pela importância cultural ou pelo charme irresistível que transmite.

O enredo é direto e eficaz: Danny Ocean (Frank Sinatra) reúne um grupo de onze ex-paraquedistas para um assalto audacioso a cinco dos maiores cassinos de Las Vegas na noite de Ano Novo. Sob o brilho das luzes neon, a cidade se torna um campo de batalha onde o cinismo e o humor despretensioso do Rat Pack brilham tanto quanto os letreiros das casas de jogos. Essa proposta, por si só, já é fascinante, e a execução do plano no clímax do filme é um dos pontos altos, equilibrando tensão e sagacidade. Contudo, o roteiro prioriza o charme do elenco e o espetáculo do assalto em detrimento do desenvolvimento emocional ou psicológico dos personagens.

Onze homens e um segredo - filme
Frank Sinatra
, como Danny Ocean, interpreta o líder com uma segurança descontraída que transborda charme, mas deixa a desejar em profundidade. Seu personagem é uma espécie de arquétipo do herói sedutor, que lidera com inteligência e charme natural, mas que dificilmente provoca uma conexão emocional genuína com o público. Dean Martin, como Sam Harmon, adiciona um toque de suavidade, especialmente quando canta e exibe seu talento musical, mas seu papel na trama é funcional, não transformador. Sammy Davis Jr., talvez o mais carismático do grupo, rouba as cenas em que aparece, mas também não escapa de estereótipos raciais e limitações que a época impôs a artistas negros. Peter Lawford e Angie Dickinson cumprem seus papéis de maneira competente, mas sem brilho memorável.

Milestone, um veterano diretor premiado por Nada de Novo no Front (1930), parece menos interessado em inovar narrativamente e mais focado em capturar a química do elenco e o clima de Las Vegas. Seu estilo de direção é funcional, mas não ousado. Ele se contenta em deixar as estrelas dominarem a cena, o que funciona em algumas sequências, mas deixa a narrativa um tanto rasa. O foco no assalto é cativante, mas as motivações e os conflitos dos personagens são quase inexistentes, o que limita o impacto emocional do filme.

A trilha sonora, composta por Nelson Riddle, é um dos maiores trunfos da produção. O jazz animado, que pontua boa parte do filme, transporta o espectador diretamente para os cassinos e bares enfumaçados da época. Contudo, quando a música abandona o jazz em favor de arranjos cômicos exagerados, o filme perde parte de sua elegância, tornando-se datado e repetitivo.

Onze homens e um segredo - filme
Em termos técnicos, a produção acerta no tom visual. Las Vegas é capturada em todo o seu esplendor decadente, com planos que exibem o contraste entre o glamour exterior dos cassinos e a complexidade sombria do assalto. Saul Bass, responsável pelos créditos de abertura, adiciona um toque de modernidade e sofisticação ao filme com suas animações marcantes, que ainda hoje são um deleite visual.

Apesar de suas qualidades, Onze Homens e Um Segredo é um produto de seu tempo, e isso nem sempre é positivo. Há momentos de humor que envelheceram mal, incluindo piadas de cunho racista e sexista, bem como a inclusão de um blackface, que, mesmo em 1960, já era uma prática antiquada e ofensiva. Além disso, as mulheres são relegadas a papéis secundários e frequentemente objetificadas, refletindo as normas culturais da época, mas destoando dos padrões atuais.
Ainda assim, o filme apresenta momentos marcantes. A execução do assalto, com seu sincronismo impecável e a tensão crescente, é o ponto alto da narrativa. Outro momento notável ocorre no final, quando uma reviravolta inesperada coloca o plano meticulosamente arquitetado em xeque, entregando um desfecho que é ao mesmo tempo irônico e inteligente.

No balanço geral, Onze Homens e Um Segredo é um retrato fascinante de uma era e de um estilo de fazer cinema que priorizava o carisma de seus astros sobre a profundidade narrativa. Não é um filme perfeito, mas é uma experiência única, especialmente para aqueles que conseguem contextualizá-lo historicamente. Ele também lançou as bases para a aclamada trilogia de Steven Soderbergh, que modernizou e revitalizou a franquia, trazendo personagens mais complexos e um ritmo mais acelerado.

Para quem é fã de cinema clássico ou quer entender como o charme de Las Vegas foi eternizado na tela, Onze Homens e Um Segredo é um capítulo obrigatório. Imperfeito, mas irresistível, é uma obra que se sustenta em sua audácia, seu elenco icônico e, claro, na música de um Rat Pack que nunca deixou de ser sinônimo de estilo e diversão.


Onze Homens e um Segredo (Ocean’s Eleven, 1960 / EUA)
Direção: Lewis Milestone
Roteiro: Harry Brown, Charles Lederer
Com: Frank Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis Jr, Peter Lawford, Angie Dickinson, Cesar Romero, Patrick Wymore, Richard Conte, Joey Bishop
Duração: 127 min.

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