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Bob Marley: One Love
Bob Marley: One Love
No dia 6 de fevereiro de 2025, o mundo celebra os 80 anos de nascimento de Robert Nesta Marley, uma das figuras mais icônicas da música e um símbolo de resistência, espiritualidade e união. Essa data poderia ganhar ainda mais significado assistindo Bob Marley: One Love, dirigido por Reinaldo Marcus Green. O longa tenta capturar um momento-chave da vida do músico jamaicano, equilibrando seu legado musical com o impacto político e pessoal que definiu sua breve, mas intensa trajetória.
Reinaldo Marcus Green, que anteriormente dirigiu King Richard: Criando Campeãs (2021), é um cineasta acostumado a histórias que entrelaçam a figura pública e as complexidades pessoais de seus protagonistas. Em Bob Marley: One Love, ele adota um recorte temporal específico, focando no período entre a tentativa de assassinato sofrida pelo cantor em 1976 e o concerto “One Love Peace Concert”, realizado em 1978 na Jamaica. Essa decisão é ousada: em vez de um retrato abrangente e convencional, Green escolhe explorar um ponto de virada na vida de Marley, mergulhando nas cicatrizes físicas e emocionais que moldaram seu exílio, sua criatividade e seu retorno triunfal.
Kingsley Ben-Adir enfrenta o monumental desafio de interpretar Bob Marley, e o faz com carisma e entrega. Conhecido por seu papel em Uma Noite em Miami (2020), Ben-Adir recria a presença magnética do cantor no palco e, mais importante, captura nuances de sua personalidade fora dos holofotes. Seu sorriso inconfundível, seu andar despretensioso e a energia quase espiritual que emanava de Marley são trazidos à vida de maneira convincente. Para as sequências musicais, a voz de Ben-Adir é misturada com gravações originais de Bob Marley, criando apresentações que são tanto autênticas quanto emocionantes.
Ao seu lado, Lashana Lynch, como Rita Marley, oferece uma performance poderosa, equilibrando fragilidade e força. Lynch traz profundidade à relação de Rita com Bob, transitando entre a cumplicidade de uma parceira e os desafios de um casamento marcado por infidelidades e a pressão de estar ao lado de um ícone global. Uma cena particularmente impactante ocorre após o atentado que quase tira a vida do casal: enquanto Bob decide seguir em frente com o show, Rita, ainda abalada e ferida, revela uma resiliência impressionante. Apesar do ritmo episódico do roteiro, é nesses momentos que o filme encontra sua força emocional.
No entanto, Bob Marley: One Love tem vários problemas. O roteiro, escrito por Terence Winter, Frank E. Flowers e Zach Baylin, apresenta uma estrutura episódica que, embora ágil, compromete a profundidade. O rastafarianismo, apesar de ser quase ignorado no mundo cinematográfico, perde uma oportunidade e é apenas superficialmente abordado aqui, já que foi central na vida e na filosofia de Bob Marley. A espiritualidade de Marley, que moldou sua música e sua visão de mundo, é retratada de forma quase didática, sem a introspecção necessária para conectar o público às suas crenças. Essa abordagem, então, resulta em lacunas narrativas que enfraquecem a construção do personagem.
O atentado de 1976, um dos eventos mais dramáticos da vida de Marley, é outro exemplo de desperdício de potencial. A cena, que deveria ser carregada de tensão e consequência, perde impacto quando suas repercussões são rapidamente minimizadas. Rita Marley, por exemplo, aparece em estado crítico no hospital após ser baleada, mas na cena seguinte já está nos bastidores do show, como se nada tivesse acontecido. Esse tipo de tratamento apressado e episódico das emoções e consequências prejudica a imersão e a conexão do público com os eventos.
Ainda assim, há momentos de brilho. A recriação do processo criativo de Exodus, considerado um dos maiores discos de Marley, é um dos destaques do filme. A cena em que ele compõe a faixa-título, canalizando o exílio em Londres e sua visão de um mundo mais unido, é inspiradora. Canções como "Get Up, Stand Up" e "War" são usadas de forma eficaz para sublinhar os temas políticos e sociais que permeiam a narrativa. Além disso, a fotografia do filme, assinada por Robert Elswit, captura a vibração da Jamaica e o contraste com a melancolia cinzenta de Londres, refletindo o estado de espírito do protagonista.
O filme acerta também em não transformar Bob Marley em um mito inalcançável. Ele é mostrado como um homem com falhas, lutas internas e decisões questionáveis. Essa humanização, no entanto, poderia ter sido melhor explorada se o roteiro tivesse dedicado mais tempo a aspectos como sua resistência ao tratamento médico que poderia ter prolongado sua vida ou sua relação com seus filhos e sua banda.
Apesar de suas inconsistências, Bob Marley: One Love consegue transmitir a essência da mensagem do artista: união, resistência e esperança. Quando a música "One Love" toca nos créditos finais, é impossível não sentir o peso das palavras de Marley, que continuam ecoando décadas após sua morte. Embora não seja o retrato definitivo de sua vida, o filme cumpre a função de reintroduzir sua figura para novas gerações e reacender a chama de seu legado em fãs antigos.
Para quem celebra o aniversário de Bob Marley neste 6 de fevereiro, Bob Marley: One Love serve como um lembrete de que, em um mundo dividido, a música e a mensagem de Marley ainda têm o poder de nos unir. É uma obra imperfeita, mas que, em seus melhores momentos, nos faz lembrar por que Marley é mais do que um ícone musical: ele é um símbolo de humanidade.
Bob Marley: One Love (2024 / EUA)
Diretor: Reinaldo Marcus Green
Roteiro: Terence Winter, Frank E. Flowers, Zach Baylin, Reinaldo Marcus Green
Com: Kingsley Ben-Adir, Lashana Lynch, James Norton, Anthony Welsh, Michael Gandolfini, Nadine Marshall, Michael Ward
Duração: 104 min.
Ari Cabral
Bacharel em Publicidade e Propaganda, profissional desde 2000, especialista em tratamento de imagem e direção de arte. Com experiência também em redes sociais, edição de vídeo e animação, fez ainda um curso de crítica cinematográfica ministrado por Pablo Villaça. Cinéfilo, aprendeu a ser notívago assistindo TV de madrugada, o único espaço para filmes legendados na TV aberta.
Bob Marley: One Love
2025-02-05T08:30:00-03:00
Ari Cabral
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