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O Dossiê Pelicano
O Dossiê Pelicano
Lançado em 1993, O Dossiê Pelicano reúne dois dos maiores astros do cinema da época, Julia Roberts e Denzel Washington, em um thriller político baseado no livro homônimo de John Grisham. Dirigido por Alan J. Pakula, o filme tinha tudo para se tornar um clássico no gênero: um elenco de peso, um diretor experiente e uma história rica em teorias da conspiração envolvendo assassinatos na Suprema Corte, interesses corporativos e um jogo perigoso de vida ou morte. Porém, apesar de seu potencial, o filme acaba oscilando entre momentos de tensão bem construídos e um roteiro excessivamente carregado que, por vezes, confunde mais do que intriga.
A trama gira em torno de Darby Shaw (Julia Roberts), uma estudante de Direito que, ao investigar os assassinatos de dois juízes da Suprema Corte dos Estados Unidos, elabora um dossiê que sugere uma chocante conexão entre os crimes e os interesses políticos de poderosos empresários e membros do governo. O documento, por sua vez, torna-se uma ameaça não apenas à reputação de figuras influentes, mas também à vida de Darby. Quando seu namorado e mentor, o professor Callahan (Sam Shepard), é assassinado, Darby percebe que está no centro de uma rede de conspirações que a força a fugir para salvar sua vida. É nesse ponto que ela cruza caminhos com Gray Grantham (Denzel Washington), um jornalista investigativo determinado a revelar a verdade.
Alan J. Pakula, conhecido por seu domínio no gênero de thrillers políticos, especialmente com o excelente Todos os Homens do Presidente (1976), retorna aqui para abordar temas semelhantes, como corrupção e manipulação política. A princípio, sua experiência parece promissora, mas o excesso de personagens, subtramas e informações acaba diluindo a tensão e comprometendo a clareza narrativa. Nos primeiros 30 minutos, somos bombardeados com um desfile de personagens cujos papéis não são imediatamente claros, resultando em uma exposição confusa. Por exemplo, figuras que aparentam ser cruciais à trama são rapidamente eliminadas, tornando difícil criar empatia ou até mesmo acompanhar o fluxo da narrativa.
Apesar disso, O Dossiê Pelicano se destaca em alguns aspectos. As cenas de perseguição são tensas e bem executadas, e a ideia central – um dossiê que pode derrubar um sistema corrupto – é intrigante. A química entre Julia Roberts e Denzel Washington também é um ponto forte. Eles conseguem carregar o filme nas costas, mesmo quando o roteiro não ajuda. Roberts interpreta Darby com vulnerabilidade e determinação, fazendo o público torcer por sua sobrevivência, enquanto Washington traz carisma e gravidade ao papel de Gray, um jornalista que luta por justiça. Uma escolha interessante – e elogiável – foi evitar um romance forçado entre os dois protagonistas, algo que poderia desviar o foco do suspense e da urgência da história.
Pakula faz uso frequente da câmera subjetiva, que coloca o espectador na perspectiva do perseguidor ou do perseguido. Em alguns momentos, isso amplifica a tensão, como na sequência em que Darby escapa de um assassino em um estacionamento escuro. No entanto, o recurso é usado de forma inconsistente, criando falsos momentos de suspense que, em vez de prender a atenção, acabam desorientando. É um exemplo de como a direção, embora enérgica, pode se perder em escolhas estéticas sem justificativa narrativa.
O roteiro também sofre com uma sobrecarga de personagens secundários e reviravoltas que, ao invés de enriquecerem a história, tornam-na mais confusa. Figuras como o enigmático assassino interpretado por Stanley Tucci aparecem brevemente, mas não têm o impacto que deveriam. Ao mesmo tempo, a motivação central do vilão – a exploração de petróleo em terras protegidas – soa um tanto genérica e menos contundente do que outras questões políticas abordadas por Pakula em trabalhos anteriores.
Um momento marcante do filme, no entanto, é a cena em que Darby, após sobreviver a um atentado, finalmente se encontra com Gray. Esse encontro simboliza não apenas uma aliança improvável, mas também o início de uma investigação que coloca ambos contra um sistema maior do que eles. A química entre os dois personagens torna essa cena memorável, destacando a habilidade dos atores de transmitir emoções genuínas mesmo em meio a uma trama labiríntica.
No final, O Dossiê Pelicano é um filme que mistura doses generosas de tensão e mistério com uma execução narrativa que deixa a desejar. Embora não seja um marco no gênero, a produção consegue entreter graças às atuações de Julia Roberts e Denzel Washington e aos temas provocativos que aborda. Para os fãs de thrillers políticos, é uma obra que vale a pena ser assistida, mas talvez com menores expectativas. Pakula já entregou trabalhos mais consistentes, e aqui sua direção parece lutar para equilibrar o excesso de elementos sem perder o fio condutor da história.
O Dossiê Pelicano (The Pelican Brief, 1993 / EUA)
Direção: Alan J. Pakula
Roteiro: Alan J. Pakula
Com: Julia Roberts, Denzel Washington, Stanley Tucci, Sam Shepard, John Heard, Anthony Heald
Duração: 141 min.
![Ari Cabral](https://lh3.googleusercontent.com/-vneijQd_q4A/T8BP5-dHdnI/AAAAAAAAHjw/2zILJmaRZ7c/s80/ari.jpg)
Ari Cabral
Bacharel em Publicidade e Propaganda, profissional desde 2000, especialista em tratamento de imagem e direção de arte. Com experiência também em redes sociais, edição de vídeo e animação, fez ainda um curso de crítica cinematográfica ministrado por Pablo Villaça. Cinéfilo, aprendeu a ser notívago assistindo TV de madrugada, o único espaço para filmes legendados na TV aberta.
O Dossiê Pelicano
2025-02-14T08:30:00-03:00
Ari Cabral
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