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O Computador de Tênis

O Computador de Tênis - filme

Em 1969, a Disney decidiu investir em uma história de ficção científica tão peculiar quanto inusitada: um estudante universitário tem sua mente transformada em um computador depois de sofrer uma descarga elétrica, tornando-se um verdadeiro prodígio humano com conhecimentos ilimitados. O Computador de Tênis é uma comédia leve e familiar que, à primeira vista, poderia parecer uma simples e inofensiva produção voltada para as crianças, mas que, com o passar dos anos, revelou-se uma das mais interessantes tentativas do estúdio de se adaptar ao crescente fascínio pela tecnologia, mesmo em um momento em que a palavra "computador" ainda era um mistério para o público em geral.

O filme, dirigido por Robert Butler, oferece uma visão do futuro através de um prisma cômico e inocente, algo que parece um tanto descompassado quando olhamos para a velocidade com que a tecnologia evoluiu desde então. A trama se passa na fictícia Medfield College, um local que serve como cenário para diversas comédias Disney, e gira em torno de Dexter Reilly, interpretado por um jovem Kurt Russell, um aluno problemático que acaba se tornando a vítima inesperada de uma experiência científica que alteraria sua vida para sempre.

A premissa não poderia ser mais simples: um acidente envolvendo um computador em um laboratório faz com que Dexter absorva toda a informação de um computador de grande porte. Como resultado, ele se transforma num gênio capaz de resolver problemas complexos em segundos, ler livros inteiros em um piscar de olhos e até ajudar organizações como a ONU. A história, no entanto, vai além da questão da transformação de Dexter, abordando a moralidade de ser um gênio, e explora os efeitos colaterais de uma vida pautada pelo ego, pela fama e pela desilusão com os valores reais da amizade e da colaboração.

Porém, ao assistir ao filme, é impossível não notar que O Computador de Tênis tem uma abordagem extremamente simplista sobre o conceito de tecnologia e de transformação mental. Dexter, depois de receber uma descarga elétrica e “virar um computador”, exibe um comportamento que beira o absurdo, como se a verdadeira complexidade de um cérebro humano pudesse ser substituída por bytes e circuitos. Enquanto a premissa pode ser encarada com bom humor, a abordagem de explicar o fenômeno de uma forma superficial é um ponto crítico do filme. Aqui, os roteiristas parecem menos interessados em construir uma lógica científica que fizesse sentido do que em criar uma aventura divertida para o público familiar.

O Computador de Tênis - filme
No entanto, essa falta de profundidade científica não prejudica a experiência de entretenimento proporcionada pelo filme. O que O Computador de Tênis faz com competência é oferecer diversão pura, voltada para o público jovem da época. O momento em que Dexter, de repente, se vê transformado num supergênio que visita a NASA e até faz discursos na ONU, é um ponto de humor absurdo, mas com um certo charme, que só a Disney seria capaz de criar. A crítica social, quando aparece, é extremamente superficial, mas eficaz dentro da proposta do filme, abordando temas como a valorização do conhecimento e o impacto da fama e do ego.

Porém, se há um aspecto realmente positivo em O Computador de Tênis, esse é o desempenho dos atores. Kurt Russell, ainda muito jovem, já demonstrava uma incrível habilidade para o tipo de humor físico e cômico que o cinema Disney exigia. Seu Dexter Reilly é carismático, mesmo que a história não ofereça um grande arco de desenvolvimento para o personagem. No entanto, sua atuação ajuda a dar humanidade a um papel que poderia facilmente se tornar um estereótipo de "garoto que virou gênio" sem qualquer nuance. A química entre Russell e os outros membros do elenco, como Joe Flynn, que interpreta Dean Higgins, é igualmente importante para o tom descontraído e leve do filme.

Falando em Joe Flynn, ele entrega uma performance excelente como o típico reitor universitário que está mais preocupado com a economia do que com o bem-estar dos estudantes. A dinâmica entre Flynn e Russell é uma das grandes forças do filme, com Flynn atuando como o personagem cômico de autoridade, constantemente tentando explorar as vantagens que a fama de Dexter pode trazer para o Medfield College. César Romero, conhecido por seu papel como o Coringa na série cômica Batman, adiciona uma camada de vilania agradável ao interpretar A.J. Arno, o empresário de fachada respeitável que na verdade dirige um esquema de apostas ilegais. Sua atuação é um dos maiores pontos altos do filme, trazendo um vilão com carisma suficiente para manter a história interessante, mesmo que ele nunca seja realmente ameaçador.

Em termos de direção, Robert Butler, mais conhecido por seu trabalho em televisão, não se destaca por um estilo marcante ou inovador. Sua abordagem direta e descomplicada faz com que O Computador de Tênis seja uma experiência leve, sem grandes pretensões cinematográficas com o selo Disney da época. Contudo, essa simplicidade é, em certo ponto, parte da sua eficácia. O filme nunca tenta ser mais do que é — uma comédia familiar cheia de momentos de escapismo que, embora não ofereça uma reflexão profunda sobre os avanços tecnológicos, nos leva a um mundo onde o impossível se torna possível de uma forma puramente lúdica.

O Computador de Tênis - filme
O maior momento de destaque no filme ocorre quando Dexter, no auge de sua transformação, começa a exibir comportamentos exagerados típicos de um gênio em ascensão. Seu ego inflado após se tornar uma celebridade internacional leva a uma mudança dramática em sua personalidade, criando uma interessante, mas rasa, reflexão sobre as tentações da fama e do poder. É nessa fase que o filme se torna mais crítico, embora de uma forma levemente cômica, apontando que o conhecimento, sem caráter, pode criar uma falsa sensação de autossuficiência e levar à alienação dos amigos e dos próprios valores pessoais.

No entanto, os elementos de ação do filme, como a perseguição de carros na parte final, são divertidos, mas acabam sendo um tanto artificiais, caindo no clichê das produções de comédia Disney da época. O filme culmina com um final que resolve todos os dilemas de forma apressada, mas, como era esperado de uma produção voltada para o público infantil, a conclusão é positiva, com a moral bem clara: amizade e humildade são mais importantes do que a inteligência pura e a fama.

Embora O Computador de Tênis tenha suas falhas, como um enredo previsível, uma abordagem rasa sobre a tecnologia e uma narrativa que prioriza o humor ao invés da profundidade, ele ainda é um filme que oferece uma dose de nostalgia e diversão. A produção é um reflexo de uma época em que o futuro da computação parecia um mistério emocionante, e o próprio conceito de "computador" tinha algo de mágico. No contexto histórico, o filme é quase uma cápsula do tempo, representando um período de transição na forma como a sociedade via a tecnologia. E, como muitas produções da Disney daquela época, ele ainda consegue cativar pela sua leveza, seu humor ingênuo e pela capacidade de apresentar algo "impossível" de maneira simples e encantadora.

O Computador de Tênis reflete um momento de fascinação com as primeiras noções de informática, sem explorar suas complexidades. Em 1995, foi refilmado, agora sob o encanto do computador pessoal. No entanto, ao revisitar essa obra hoje, podemos ver paralelos com os desafios atuais das IA generativas e da automação completa de nosso cotidiano. Uma versão moderna do filme poderia explorar essas questões de maneira mais profunda, abordando os dilemas éticos e sociais de um mundo onde as máquinas começam a emular a mente humana.


O Computador de Tênis (The Computer Wore Tennis Shoes, 1969 / EUA)
Direção: Robert Butler
Roteiro: Joseph L. McEveety
Com: Kurt Russell, Cesar Romero, Joe Flynn, William Schallert, Alan Hewitt, Richard Bakalyan, Debbie Paine, Frank Webb, Michael McGreevey, Jon Provost
Duração: 91 min.

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