Em meio a um cenário cinematográfico cada vez mais dominado pela tecnologia, Wallace & Gromit: Avengança surge como uma lufada de ar fresco, repleta de nostalgia e criatividade, marca registrada da Aardman Animations. Dirigido por Nick Park e Merlin Crossingham, que já trouxeram à vida a encantadora dupla de inventor e seu cachorro em várias ocasiões, este novo capítulo não é apenas uma continuação, mas um retorno às raízes que fizeram desses personagens ícones da animação britânica.
A trama se desenrola em um cenário familiar onde Wallace (Ben Whitehead) cria um gnomo-jardineiro tecnologicamente avançado, Norbot, para auxiliar Gromit com as tarefas do quintal. No entanto, a história rapidamente se transforma em uma desafiadora sátira sobre o excesso de dependência da tecnologia, especialmente com a introdução do vilão Feathers McGraw. O retorno desse pinguim astuto, responsável por eventos trágicos do passado, dá ao filme uma textura narrativa rica que explora tanto a amizade entre Wallace e Gromit quanto as consequências de se confiar em máquinas para o que deveria ser um trabalho manual e íntimo.
Um dos momentos marcantes do filme é sem dúvida quando Gromit percebe que sua individualidade e a natureza criativa de seu trabalho estão sendo ameaçadas por Norbot, que transforma o quintal em um ambiente sem alma. Um momento que ilustra a tensão entre o que é realmente humano e a eficiência fria das máquinas, um tema pertinente nos dias de hoje, especialmente à luz das discussões sobre inteligência artificial que permeiam a sociedade contemporânea. Esta reflexão não é apenas sutil, mas verdadeiramente incisiva, sugerindo que a busca pela eficiência pode resultar em perda advinda de conexão emocional e autenticidade.
No que diz respeito à direção, Park e Crossingham mantêm a estética inconfundível da Aardman, uma verdadeira ode ao stop-motion que se diferencia em um mar de animações digitais. A riqueza dos detalhes visuais, desde a textura da massinha até a complexidade das cenas, oferece um espetáculo visual que encanta tanto adultos quanto crianças. No entanto, uma crítica que pode ser feita é que, apesar da alta qualidade técnica, o roteiro poderia ter explorado com mais profundidade algumas das relações e dilemas apresentados, especialmente na dinâmica entre Wallace e Gromit, que, em algumas partes, parece seguir um caminho previsível.
Wallace & Gromit: Avengança se destaca não apenas como uma animação brilhante, mas também como uma crítica ao futuro da nossa sociedade, que caminha a passos largos na direção da automação. O filme nos lembra que nós, humanos, temos a responsabilidade de valorizar o artesanal, o manual, o que é feito com amor e cuidado. Assim, mesmo que o filme tenha pontos que poderiam ser mais bem desenvolvidos, sua capacidade de entreter, provocar reflexão e conectar-se com emoções humanas é indiscutível. É uma experiência que vale a pena, especialmente se você busca não apenas entretenimento, mas também uma crítica social envolvida em uma narrativa leve e cativante. Sem sombra de dúvida, é uma adição bem-vinda ao icônico universo de Wallace & Gromit, que continua a cativar novas gerações com seu charme peculiar e seu humor refinado.
Wallace & Gromit: Avengança (Wallace & Gromit: Vengeance Most Fowl, 2024 / Reino Unido)
Direção: Merlin Crossingham, Nick Park
Roteiro: Mark Burton
Com: Ben Whitehead, Peter Kay, Reece Shearsmith, Lauren Patel, John Sparkes, Adjoa Andoh, Lenny Henry, Diane Morgan, Muzz Khan
Duração: 82 min.
