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A Noviça Rebelde

A Noviça Rebelde - filme

A Noviça Rebelde
(The Sound of Music), lançado em 1965, é um marco no cinema, tanto como um musical apaixonante quanto como um tratado sobre esperança e liberdade. Dirigido por Robert Wise, o filme se baseia na história real da família von Trapp, que escapou da Áustria durante a ascensão do nazismo. O que torna essa obra cinematográfica inesquecível não é apenas a sua narrativa, mas a forma como combina emoção, música e uma estética visual que ainda cativa.

Inicialmente, é inevitável reconhecer o talento de Julie Andrews como Maria. Sua performance é um dos pilares do filme. Andrews traz um equilíbrio fascinante entre a jovialidade e a vulnerabilidade de sua personagem. Ao longo da narrativa, somos levados a sentir sua transformação, desde uma noviça insegura até uma mulher que abraça o amor e a maternidade. Sua abordagem da personagem é acentuadamente cativante, especialmente nas cenas em que ensina as crianças a cantar e dançar. Nesse sentido, a famosa sequência em que ela se apresenta no campo, com os Alpes austríacos ao fundo, se torna um belíssimo cartão-postal do cinema. A frase "The hills are alive with the sound of music" ressoa como um hino à liberdade e ao espírito indomável do ser humano. Um momento que, sem dúvida, é uma das cenas mais icônicas da sétima arte.

A Noviça Rebelde - filme
Christopher Plummer
como o Capitão Georg von Trapp também se destaca. Ele traz uma profundidade ao personagem que poderia facilmente ser visto apenas como um rígido militar. Sua habilidade de transitar entre a seriedade e a ternura é admirável, particularmente nas interações com as crianças e, especialmente, com Maria. A cena em que ele canta "Edelweiss" é emocionalmente poderosa, capturando o temor e a melancolia de um pai que não quer ver sua família sob a ameaça do regime nazista que se aproxima. Plummer, apesar de não ser um cantor tão competente quanto Andrews, entrega uma interpretação que vai muito além das notas musicais.

Essa simbiose entre a música e a narrativa é uma das razões pelas quais o filme se tornou um fenômeno cultural. As canções de Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II, como "Do-Re-Mi" e "Climb Ev'ry Mountain", não são apenas melodias cativantes; elas são vitais para o desenvolvimento dos personagens e da trama. Wise explora essas canções em sua totalidade, integrando-as à narrativa com uma fluidez impressionante. O que poderia ser um mero entretenimento se transforma em uma experiência emocional.

É certo que algumas abordagens da história real da família von Trapp foram romantizadas ou alteradas. Muitos fatos foram simplificados para tornar a narrativa mais empolgante e fluida. O Capitão, por exemplo, é retratado de maneira muito rígida e inflexível, enquanto relatos reais sugeriam que ele era mais afetuoso e presente na vida dos filhos. Porém, essa discrepância entre a verdade histórica e a dramatização cinematográfica é algo inerente a uma obra de arte, que possui a liberdade de ajustar os fatos à sensibilidade narrativa que deseja transmitir. Desde seu lançamento até hoje, A Noviça Rebelde é encarada como um "guilty pleasure", mas a eficácia emocional e visual do filme supera essa categorização.

A Noviça Rebelde - filme
E é intrigante observar como diferentes gerações reagem a A Noviça Rebelde. Enquanto alguns o veem como um simples musical superado por seu caráter idealista, outros compreendem sua essência atemporal, a ideologia subjacente de luta e amor em tempos difíceis. Essa polarização pode ser, talvez, atribuída ao espaço que o filme ocupa dentro da filmografia do diretor Robert Wise, que passou a ser conhecido por sua versatilidade em diversos gêneros. Desde ficções científicas como O Dia em que a Terra Parou até dramas humanos como O Canhoneiro do Yang-Tsé, Wise é um diretor que entendeu como equilibrar a esperança e o desespero com maestria.

A grandiosidade de A Noviça Rebelde é elevada por sua produção técnica, com a cinematografia de Ted D. McCord que apresenta os Alpes de Salzburg como uma pintura vibrante e encantadora. O uso de locações reais em vez de cenários artificiais traz autenticidade ao filme, promovendo uma conexão ainda mais profunda com a história. Os figurinos também são dignos de nota, ressaltando a transformação das crianças e da noviça ao longo da trama, e feitios austro-húngaros que recontam não apenas a história, mas a cultura e os costumes da época.

A Noviça Rebelde é um filme que continua a encantar, desafiando a percepção do que é um clássico. Em contraste com o ceticismo moderno sobre otimismo excessivo e narrativas sorridentes, esse filme nos lembra que, no meio do caos e da incerteza, há sempre espaço para a música e para o amor. É preciso se entregar à magia da narrativa musical, mas é isso que torna esta obra icônica: a capacidade de gerar emoções, de conectar e de fazer com que sempre se cante e se sorria, mesmo em tempos difíceis. Um legado que poucos filmes alcançaram, e é o que A Noviça Rebelde fornece em abundância até hoje.


A Noviça Rebelde (The Sound of Music, 1965 / EUA)
Direção: Robert Wise
Roteiro: Ernest Lehman
Com: Julie Andrews, Christopher Plummer, Eleanor Parker, Richard Haydn, Peggy Wood, Charmian Carr, Heather Menzies-Urich, Nicholas Hammond, Ben Wright, Daniel Truhitte, Norma Varden, Duane Chase, Angela Cartwright, Debbie Turner, Kym Karath, Anna Lee, Portia Nelson
Duração: 174 min.

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