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Wonderland (2024), dirigido por Kim Tae-yong, chegou ao catálogo da Netflix carregado de expectativas. Anunciado anos atrás, seu lançamento foi adiado repetidamente, o que aumentou tanto a curiosidade quanto o peso sobre seus ombros. A promessa era fascinante: um drama de ficção científica que explora a conexão entre inteligência artificial, luto e amor, ambientado em um futuro próximo onde a realidade virtual é a ponte entre os vivos e os mortos. Apesar do potencial temático e de um elenco estrelado, a produção entrega uma experiência que, embora visualmente impressionante, deixa a desejar em profundidade emocional e narrativa.
A premissa do filme é intrigante. Wonderland é uma empresa que permite a criação de réplicas digitais de entes queridos, usando inteligência artificial para oferecer consolo àqueles que vivem com a dor da perda. A trama segue duas histórias principais: Jeong-in (Bae Suzy), uma comissária de bordo que se conecta com a versão virtual de seu namorado em coma, Tae-ju (Park Bo-gum), e Bai Li (Tang Wei), uma mulher que, após sua morte, encontra na realidade virtual uma maneira de se comunicar com sua filha pequena e sua mãe. Ambas as narrativas têm um ponto de partida interessante, mas a execução falha em explorar as complexas camadas emocionais que poderiam emergir dessas situações.
Kim Tae-yong, conhecido por seu trabalho em Late Autumn (2010), demonstra novamente seu talento para criar atmosferas visuais ricas e carregadas de melancolia. A fotografia do filme, repleta de tons suaves e composições delicadas, reflete a fragilidade das emoções humanas e o sentimento de perda que permeia a história. As sequências que retratam a interação entre os vivos e suas contrapartes virtuais são poeticamente filmadas, mesclando o real e o artificial de forma quase etérea. No entanto, o cuidado estético não é acompanhado por um roteiro à altura. A narrativa de Wonderland é superficial, um paradoxo frustrante para um filme que promete mergulhar na consciência e nas relações humanas.
As atuações do elenco principal são, em geral, competentes, mas sofrem com a falta de desenvolvimento dos personagens. Suzy e Park Bo-gum apresentam uma boa química, especialmente nas cenas em que Jeong-in se divide entre a versão real e a virtual de Tae-ju. A confusão emocional de sua personagem é convincente, mas sua jornada não é explorada com a profundidade necessária para gerar identificação. Tang Wei, por outro lado, entrega a performance mais sólida do filme. Sua Bai Li é uma figura trágica e resignada, cuja presença virtual provoca questionamentos dolorosos para sua filha e sua mãe. Ainda assim, até mesmo ela é vítima de um roteiro que prefere a exposição rápida de eventos a um estudo aprofundado das consequências emocionais de suas escolhas.
Sem um desenvolvimento adequado, o problema central de Wonderland é sua falta de foco narrativo. Em vez de concentrar-se em uma ou duas histórias, o filme tenta abarcar múltiplas perspectivas, incluindo a dos cientistas responsáveis pela manutenção da realidade virtual. O resultado é uma trama dispersa, que salta de um núcleo ao outro sem oferecer tempo suficiente para que o espectador se conecte com os personagens ou compreenda plenamente suas motivações. O conceito fascinante de réplicas digitais, com todo o seu potencial filosófico e ético, é apenas arranhado. Questões como “o que significa estar vivo?” ou “até onde é saudável prolongar a conexão com quem já partiu?” aparecem de forma breve, mas nunca são exploradas como merecem.
Apesar dessas falhas, Wonderland tem seus momentos de beleza. Há uma cena especialmente marcante em que Bai Li, na forma virtual, acompanha sua filha em um passeio. O diálogo entre as duas é simultaneamente comovente e perturbador, à medida que fica claro que a criança começa a confundir a simulação com a realidade. A sequência, filmada em tons dourados e envolvida por uma trilha sonora discreta, resume o que o filme poderia ter sido: uma exploração sensível e poderosa do impacto da tecnologia na vida emocional humana.
Kim Tae-yong claramente tinha ambições altas para este projeto, mas sua direção não conseguiu equilibrar as demandas visuais e narrativas. É impossível não pensar em produções como Black Mirror ou Yonder ao assistir Wonderland. Ambas exploram temas semelhantes com mais ousadia e consistência. Aqui, a sensação predominante é de potencial desperdiçado. O filme parece hesitar em mergulhar totalmente nos dilemas éticos e existenciais que propõe, optando por um desfecho previsível que busca emocionar, mas carece de impacto.
Em resumo, Wonderland é um filme bonito, mas incompleto. Ele oferece momentos de reflexão e vislumbres de profundidade emocional, mas sua narrativa fragmentada e seu roteiro raso impedem que alcance a grandiosidade a que claramente aspira. Para os fãs de ficção científica e dramas humanos, pode ser uma experiência interessante, mas é difícil esquecer que, com um pouco mais de coragem e foco, poderia ter sido uma obra marcante no cinema sul-coreano contemporâneo.
Wonderland (원더랜드, 2024 / Coreia do Sul)
Direção: Kim Tae-yong
Roteiro: Kim Tae-yong
Com: Tang Wei, Bae Suzy, Park Bo-gum, Jung Yu-mi, Choi Woo-shik, Gong Yoo
Duração: 113 min.
Ari Cabral
Bacharel em Publicidade e Propaganda, profissional desde 2000, especialista em tratamento de imagem e direção de arte. Com experiência também em redes sociais, edição de vídeo e animação, fez ainda um curso de crítica cinematográfica ministrado por Pablo Villaça. Cinéfilo, aprendeu a ser notívago assistindo TV de madrugada, o único espaço para filmes legendados na TV aberta.
Wonderland
2025-01-22T08:30:00-03:00
Ari Cabral
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