Com a evolução da tecnologia, muitas histórias dos quadrinhos passaram para as telas com novas roupagens, mas a sensação é que eles estão tão preocupados com os efeitos que esquecem as histórias. Homem-Aranha mesmo teve um ótimo roteiro em seu primeiro filme, mas as continuações foram caindo a olhos vistos. O terceiro filme é confuso, superficial e com muitos elementos desnecessários.
O fato é que adaptar é sempre um processo delicado. Há uma máxima no senso comum que diz que um filme nunca é tão bom quanto o livro. Não chega a ser uma verdade absoluta. O problema é que ao ler um livro a nossa mente se transporta para o mundo que nossa imaginação é capaz de criar e nenhum diretor, por mais sensitivo que seja, irá conseguir suprir a imaginação de cada ser humano. Adaptar não é necessariamente ser totalmente fiel a obra, como muitos fãs exigem, mas contar a mesma história com os recursos da mídia proposta. A essência é que tem que estar lá. Quando converso com fãs de Tolkien que abominam a trilogia que chegou ao cinema pelas mãos de Peter Jackson percebo esse preciosismo. Ninguém, nem o próprio Tolkien, conseguiria fazer um filme que os agradasse, pois eles queriam ver o livro na tela e isso, é impossível. A obra tem alterações, tem cenas que estão nos apêndices e foram inseridas para dar mais trabalho a Liv Tyler e justificar seu cachê. Tem muita coisa condensada e retirada, mas a essência está lá. A Terra Média conseguiu ser reproduzida de forma satisfatória.
Pior foi o que fizeram com a obra de Marion Zimmer Bladley. Os fãs de As Brumas de Avalon assistiram assustados a uma deturpação da história. Nem Anjelica Huston como Viviane conseguiu salvar o filme. Todo o esforço em mostrar que o ser humano é ambíguo e que cada religião e povo defende seu ponto de vista foi reduzido mais uma vez a dicotomia do bem vs. mal. No filme, Morgana oscilava entre uma tola deslumbrada e uma mocinha de folhetim. Gwenhwyfar ficou uma coitada sofredora. E Morgause a encarnação do mal. É bom lembrar, aos desavisados que não leram o livro que não existem bem e mal para as sacerdotisas de Avalon, então, Viviane jamais poderia dizer coisa do tipo: "Minha irmã é uma feiticeira má". Talvez alguma boa alma ainda consiga refilmar essa grande obra como ela merece.
O fato é que, para adaptar, o roteirista precisa conhecer a obra e tirar dela a sua essência. Depois, o trabalho é de construção de uma história condizente com a mídia a que está se escrevendo. Assim conseguimos belos e eternos filmes como E o Vento Levou, Dança com lobos, A noviça rebelde, O poderoso Chefão, Ben Hur, entre outros. Sim, todos eles são adaptações.