A capacidade de surpreender
Revendo o filme O Sexto Sentido na Globo e observando a sua audiência fiquei pensando sobre a principal característica de um bom suspense: surpreender de forma coerente o espectador. Quando Hitchcock estreou com Psicose, ninguém podia imaginar que Norman Bates se fantasiava da mãe morta. Mas fez sentido e isso foi o sensacional.
Assim, M. Night Shyamalan quis criar a sua marca cinematográfica que começou com o Sexto Sentido, mas não teve uma continuidade tão boa quanto a do mestre do suspense Hitchcock. Nem é preciso dizer que este texto está cheio de spoilers, vou falar exatamente de finais de filme, então, se você não viu e não quer saber, dê uma olhada nos outros posts.
O Sexto Sentido conta a história de um garoto que vê pessoas mortas e é acompanhado por um psiquiatra, muito bem interpretado por Bruce Willis. O drama nos envolve e, acostumados a filmes que falam do sobrenatural, não nos damos conta das pistas que a trama nos passa.
Cole confessa o seu "segredo" ao Dr. Crowe: "Eu vejo gente morta... Eles não sabem que estão mortos." O garoto disse. Vimos o Dr. Malcom Crowe levar um tiro no início do filme e desde então ele vaga pelo mundo tendo contato apenas com o garoto. Mesmo assim, parece que não temos a capacidade de perceber o óbvio. Muita gente só descobriu que ele estava morto na cena final, ao ver o sangue em suas costas. Muitos tiveram que ver várias vezes para perceber os detalhes que estavam ali o tempo todo. Isso fez do filme genial, ele não escondeu as evidências, nós que não tivemos a capacidade de ver o que estava em nossa frente.
Porém, o sucesso desta empreitada causou um dano ao diretor que trouxe para si a responsabilidade de repetir o suspense revertido todo final de filme. Sinais, A Vila, A dama da Água, Fim dos Tempos... Nada irá conseguir o mesmo feito de O Sexto Sentido se não fizer sentido dentro da trama. O espectador já vai para o cinema com a vontade de descobrir a pegadinha e isso gera um círculo vicioso que não ajuda nem ao filme, nem a quem vai vê-lo. Tem que ser de uma maneira natural, senão, não faz sentido. É preciso tornar o espectador cúmplice do personagem, fazê-lo se envolver com a narrativa. Não necessariamente com uma reversão de expectativa.
Um filme que veio no rastro de O Sexto Sentido foi Os Outros de Alejandro Amenábar. O grande plus do filme é surpreender além do esperado. O espectador acha que já entendeu tudo e vem mais coisa. Quando os empregados batem a porta de Grace, fica claro para muitos que eles estão mortos. Há uma atmosfera sombria em torno dos três, mistério... Quando o marido de Grace volta da guerra, fica quase evidente que Grace e as crianças também estão mortas e que tudo aquilo são níveis de fantasmas diferentes. O que a maioria não conseguiu imaginar foi que "os outros" de quem ficamos com medo durante toda a projeção eram na realidade os vivos. Esse foi o grande plus que o filme trouxe e que faz com que seja um filme para ser visto apenas uma vez. Afinal, os sustos e tensão que vimos perde o sentido ao saber a verdade.
O fato é que um bom filme de suspense não pode ser uma fórmula pronta de repetição do que já deu certo. O que já foi visto não é surpresa. A criatividade está em reinventar, surpreendendo de forma coerente o espectador. Nisso, O Sexto Sentido vai continuar sendo clássico, assim como Psicose.
Assim, M. Night Shyamalan quis criar a sua marca cinematográfica que começou com o Sexto Sentido, mas não teve uma continuidade tão boa quanto a do mestre do suspense Hitchcock. Nem é preciso dizer que este texto está cheio de spoilers, vou falar exatamente de finais de filme, então, se você não viu e não quer saber, dê uma olhada nos outros posts.
O Sexto Sentido conta a história de um garoto que vê pessoas mortas e é acompanhado por um psiquiatra, muito bem interpretado por Bruce Willis. O drama nos envolve e, acostumados a filmes que falam do sobrenatural, não nos damos conta das pistas que a trama nos passa.
Cole confessa o seu "segredo" ao Dr. Crowe: "Eu vejo gente morta... Eles não sabem que estão mortos." O garoto disse. Vimos o Dr. Malcom Crowe levar um tiro no início do filme e desde então ele vaga pelo mundo tendo contato apenas com o garoto. Mesmo assim, parece que não temos a capacidade de perceber o óbvio. Muita gente só descobriu que ele estava morto na cena final, ao ver o sangue em suas costas. Muitos tiveram que ver várias vezes para perceber os detalhes que estavam ali o tempo todo. Isso fez do filme genial, ele não escondeu as evidências, nós que não tivemos a capacidade de ver o que estava em nossa frente.
Porém, o sucesso desta empreitada causou um dano ao diretor que trouxe para si a responsabilidade de repetir o suspense revertido todo final de filme. Sinais, A Vila, A dama da Água, Fim dos Tempos... Nada irá conseguir o mesmo feito de O Sexto Sentido se não fizer sentido dentro da trama. O espectador já vai para o cinema com a vontade de descobrir a pegadinha e isso gera um círculo vicioso que não ajuda nem ao filme, nem a quem vai vê-lo. Tem que ser de uma maneira natural, senão, não faz sentido. É preciso tornar o espectador cúmplice do personagem, fazê-lo se envolver com a narrativa. Não necessariamente com uma reversão de expectativa.
Um filme que veio no rastro de O Sexto Sentido foi Os Outros de Alejandro Amenábar. O grande plus do filme é surpreender além do esperado. O espectador acha que já entendeu tudo e vem mais coisa. Quando os empregados batem a porta de Grace, fica claro para muitos que eles estão mortos. Há uma atmosfera sombria em torno dos três, mistério... Quando o marido de Grace volta da guerra, fica quase evidente que Grace e as crianças também estão mortas e que tudo aquilo são níveis de fantasmas diferentes. O que a maioria não conseguiu imaginar foi que "os outros" de quem ficamos com medo durante toda a projeção eram na realidade os vivos. Esse foi o grande plus que o filme trouxe e que faz com que seja um filme para ser visto apenas uma vez. Afinal, os sustos e tensão que vimos perde o sentido ao saber a verdade.
O fato é que um bom filme de suspense não pode ser uma fórmula pronta de repetição do que já deu certo. O que já foi visto não é surpresa. A criatividade está em reinventar, surpreendendo de forma coerente o espectador. Nisso, O Sexto Sentido vai continuar sendo clássico, assim como Psicose.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
A capacidade de surpreender
2009-03-21T11:41:00-03:00
Amanda Aouad
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