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Acorda, Cinema Baiano! - Entrevista com Bertrand Duarte e Edgard Navarro
Acorda, Cinema Baiano! - Entrevista com Bertrand Duarte e Edgard Navarro
No mês passado, recebi um convite da Revista Tudo Bem para fazer uma entrevista com o diretor Edgard Navarro e o ator Bertrand Duarte. Foi uma alegria. Primeiro porque gosto muito do trabalho dos dois que juntos produziram um dos melhores filmes baianos: o média-metragem SuperOutro. O título desse post é uma referência a ele ("Acorda, Humanidade!" era a frase que o mendigo vivido por Bertrand gritava ao iniciar o filme). Segundo porque estava bastante curiosa quanto ao longa que eles tinham acabado de filmar, O homem que não dormia. Vocês podem conferir o blog da produção e ver que promete ser fascinante.
Bertrand Duarte é um grande ator e expressou qualidade em tudo que fez. Por um tempo, resolveu se dedicar à carreira de publicitário, mas agora parece ter voltado com força total para a arte de atuar, disse até na entrevista que pretende ensaiar vôos como diretor. Já Edgard Navarro é um dos mais talentosos diretores da Bahia, que sofre com a falta de verba e principalmente distribuição. Seu último longa-metragem, Eu me Lembro, ganhou diversos prêmios, mas foi pouco visto, ficando em cartaz aqui na Bahia em apenas uma sala por poucas semanas. Passou no Canal Brasil, o que já foi um grande feito para um filme totalmente baiano, e é possível encontrá-lo em DVD.
Encontrei os dois na sede da Muito Comunicação, agência que produz a revista, e passei quase duas horas em uma conversa agradável, onde pude beber um pouco na fonte criativa de Navarro e nas ponderações sempre sensatas de Bertrand. Claro que não teve como reproduzir tudo na revista. A edição, os soteropolitanos podem conseguir nos estacionamentos da WellPark, onde a revista é distribuída. Aos demais, vejam a versão on line.
Aqui, selecionei alguns extras que não pude colocar por falta de espaço. Pensei qual seria a melhor forma, por fim resolvi apenas expor os trechos, então, acredito que seja melhor que leiam primeiro a entrevista na Revista e depois voltem para ler o restante.
"Acho que no fundo, cada um tem um pouco do SuperOutro dentro de si, tem um pouco desses medos, dessas coisas que permeiam o personagem e ele vai se entregando ao medo. Pra minha surpresa, eu vi essa semana no blog de Caetano Veloso uma referência como se fosse agora. Caetano tentando dizer das coisas boas e ruins que a Bahia tem, que são coisas que a gente carrega dos aspectos provincianos. E ele cita como se fosse uma conquista do fato da cultura cinematográfica baiana contemporânea ter esse filme como um acervo. Mas, cita como uma coisa atual. Isso que eu acho mais incrível, porque é um filme de 20 anos." Bertrand Duarte
"O cinema americano desde o início, de uma forma inteligente, pensou uma indústria que pudesse vender o American Way of Life. É uma coisa conhecida por todo mundo, então, eu aprendi cinema através dos filmes de Hollywood. Acho que é todo um trabalho de formação de platéia. O governo brasileiro começou a trabalhar isso através de Gilberto Gil e Orlando Senna, com a formação de platéia de pequenos centros de cultura que repetem um tipo de cinema documentário, aquele tipo Doc TV, Revelando os Brasis. Que mostram um tipo de audiovisual que mostra a cara daquele povo, daquele povoado, e eles começam a ver aquilo como eu via na minha infância o cinema de Hollywood. E eles começam a desejar aquilo." Edgard Navarro
"Eu fiquei um pouco mais afastado, mas nesse período eu fiz alguns filmes que eu acho que foram muito legais para minha carreira como trabalhar com Reichenbach (Alma Corsária) que foi um presente bacana, e depois há três anos eu fiz o filme Pau Brasil com Fernando Belens e é um reencontro, começou com Belens e agora tá com Navarro. E esses filmes acho que tem muitos atores que gostariam de ter feito. Eu não tenho quantidade, mas tenho qualidade, nos filmes que fiz, nos personagens que interpretei. E recentemente, uma outra espera minha é o filme de Miguel Littin (Isla 10), que fui fazer no Chile com outro ator aqui da Bahia que é Caco Monteiro , que foi muito legal, personagem muito bom, o primeiro filme meu falando em espanhol, foi um desafio assim interessante. Isso é fruto de uma plantação. De algo que ficou semeado e eu tenho plena consciência hoje da qualidade dos trabalhos do que eu empreendi, dos esforços, dos dias, semanas e períodos que a gente ficou até sem comer direito." Bertrand Duarte
"Mas, pense que o Eu me Lembro pode ser considerado um filme bem sucedido, né? Mas, ele teve 20 mil espectadores, isso dá uma renda aproximada de 200 mil reais. E o custo dele foi de 1 milhão, setecentos e oitenta mil. Que negócio é esse? Em que o governo bota um milhão e o retorno de bilheteria é 200 mil? Não é negócio, negócio tem que dar mais do que o investimento. Então, não tenho ilusão em relação a isso, acho que ainda está em processo, vai lentamente encontrando os seus caminhos. Mas não tenho ilusão de que a gente vai conseguir, a não ser com um milagre. Eu acredito em milagres também. Mas, é um fenômeno, não pode ser considerado padrão. Padrão é muito lento e eu não tenho ilusão em relação a isso. Se eu fosse esperar a coisa de mercado eu não faria . Eu faço porque sou louco o suficiente para acreditar que posso voar. E é assim que eu vôo." Edgard Navarro
Bertrand Duarte é um grande ator e expressou qualidade em tudo que fez. Por um tempo, resolveu se dedicar à carreira de publicitário, mas agora parece ter voltado com força total para a arte de atuar, disse até na entrevista que pretende ensaiar vôos como diretor. Já Edgard Navarro é um dos mais talentosos diretores da Bahia, que sofre com a falta de verba e principalmente distribuição. Seu último longa-metragem, Eu me Lembro, ganhou diversos prêmios, mas foi pouco visto, ficando em cartaz aqui na Bahia em apenas uma sala por poucas semanas. Passou no Canal Brasil, o que já foi um grande feito para um filme totalmente baiano, e é possível encontrá-lo em DVD.
Encontrei os dois na sede da Muito Comunicação, agência que produz a revista, e passei quase duas horas em uma conversa agradável, onde pude beber um pouco na fonte criativa de Navarro e nas ponderações sempre sensatas de Bertrand. Claro que não teve como reproduzir tudo na revista. A edição, os soteropolitanos podem conseguir nos estacionamentos da WellPark, onde a revista é distribuída. Aos demais, vejam a versão on line.
Aqui, selecionei alguns extras que não pude colocar por falta de espaço. Pensei qual seria a melhor forma, por fim resolvi apenas expor os trechos, então, acredito que seja melhor que leiam primeiro a entrevista na Revista e depois voltem para ler o restante.
"Acho que no fundo, cada um tem um pouco do SuperOutro dentro de si, tem um pouco desses medos, dessas coisas que permeiam o personagem e ele vai se entregando ao medo. Pra minha surpresa, eu vi essa semana no blog de Caetano Veloso uma referência como se fosse agora. Caetano tentando dizer das coisas boas e ruins que a Bahia tem, que são coisas que a gente carrega dos aspectos provincianos. E ele cita como se fosse uma conquista do fato da cultura cinematográfica baiana contemporânea ter esse filme como um acervo. Mas, cita como uma coisa atual. Isso que eu acho mais incrível, porque é um filme de 20 anos." Bertrand Duarte
"O cinema americano desde o início, de uma forma inteligente, pensou uma indústria que pudesse vender o American Way of Life. É uma coisa conhecida por todo mundo, então, eu aprendi cinema através dos filmes de Hollywood. Acho que é todo um trabalho de formação de platéia. O governo brasileiro começou a trabalhar isso através de Gilberto Gil e Orlando Senna, com a formação de platéia de pequenos centros de cultura que repetem um tipo de cinema documentário, aquele tipo Doc TV, Revelando os Brasis. Que mostram um tipo de audiovisual que mostra a cara daquele povo, daquele povoado, e eles começam a ver aquilo como eu via na minha infância o cinema de Hollywood. E eles começam a desejar aquilo." Edgard Navarro
"Eu fiquei um pouco mais afastado, mas nesse período eu fiz alguns filmes que eu acho que foram muito legais para minha carreira como trabalhar com Reichenbach (Alma Corsária) que foi um presente bacana, e depois há três anos eu fiz o filme Pau Brasil com Fernando Belens e é um reencontro, começou com Belens e agora tá com Navarro. E esses filmes acho que tem muitos atores que gostariam de ter feito. Eu não tenho quantidade, mas tenho qualidade, nos filmes que fiz, nos personagens que interpretei. E recentemente, uma outra espera minha é o filme de Miguel Littin (Isla 10), que fui fazer no Chile com outro ator aqui da Bahia que é Caco Monteiro , que foi muito legal, personagem muito bom, o primeiro filme meu falando em espanhol, foi um desafio assim interessante. Isso é fruto de uma plantação. De algo que ficou semeado e eu tenho plena consciência hoje da qualidade dos trabalhos do que eu empreendi, dos esforços, dos dias, semanas e períodos que a gente ficou até sem comer direito." Bertrand Duarte
"Mas, pense que o Eu me Lembro pode ser considerado um filme bem sucedido, né? Mas, ele teve 20 mil espectadores, isso dá uma renda aproximada de 200 mil reais. E o custo dele foi de 1 milhão, setecentos e oitenta mil. Que negócio é esse? Em que o governo bota um milhão e o retorno de bilheteria é 200 mil? Não é negócio, negócio tem que dar mais do que o investimento. Então, não tenho ilusão em relação a isso, acho que ainda está em processo, vai lentamente encontrando os seus caminhos. Mas não tenho ilusão de que a gente vai conseguir, a não ser com um milagre. Eu acredito em milagres também. Mas, é um fenômeno, não pode ser considerado padrão. Padrão é muito lento e eu não tenho ilusão em relação a isso. Se eu fosse esperar a coisa de mercado eu não faria . Eu faço porque sou louco o suficiente para acreditar que posso voar. E é assim que eu vôo." Edgard Navarro
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Acorda, Cinema Baiano! - Entrevista com Bertrand Duarte e Edgard Navarro
2009-07-24T08:41:00-03:00
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