O maior destaque, então, continua sendo 11 de Setembro (2002), um filme franco-britânico que reuniu onze cineastas de todo o mundo para contar uma história em onze minutos, nove segundos e um frame sobre a tragédia nova iorquina. O resultado trouxe alguns bons curtas, outros, estranhas experimentações, mesmo assim o conjunto da obra é interessante, trazendo um pouco da repercussão mundial sobre o tema.
O brasileiro Walter Salles chegou a ser convidado, mas recusou por não se sentir capaz de falar sobre o tema proposto. Os diretores e temas foram:
- Danis Tanovic - lembra-se do dia 11 de julho de 1995, quando ocorreu o massacre em Srebrnica;
- Ken Loach - rememora que Salvador Allende foi deposto do governo chileno em 11 de setembro de 1973;
- Idrissa Ouedraogo - realizou uma comédia reflexiva sobre Burkina Faso;
- Samira Makhmalbaf - mostra uma professora que tenta explicar o ataque a um grupo de crianças;
- Sean Penn - evoca a vida de uma viúva que morava à sombra das duas torres desabadas;
- Claude Lelouch - descreve as reações de vários surdos ao evento ou que testemunharam o evento;
- Shonei Imamura - recorre às memórias japonesas da Segunda Guerra Mundial;
- Mira Nair - mostra os problemas das minorias étnicas;
- Amos Gitai - dá a sua interpretação sobre o papel da mídia em uma informação de significado internacional;
- Alejandro González Iñárritu - apresenta 11 minutos de preces na escuridão;
- Youssef Chahine - reflete a perspectiva do Oriente Médio.
O que mais me marcou foi o da indiana Mira Nair que conta a história de uma família paquistanesa que procura o filho desaparecido. As pessoas começam a supor que ele seja um dos terroristas do atentado. O drama é muito bem construído e o final é sensível e bastante irônico. A interpretação dos atores é o que sustenta a ação, sem deixar ficar piegas.
Outro muito interessante é o da iraniana Samira Makhalmabafi que constrói uma grande história mostrando uma professora de refugiados afegãos no Irã que tenta explicar às crianças o que significa o atentado, gerando discussões filosóficas sobre o mundo e Deus. A fotografia do curta é muito boa, assim como o ritmo, que chama a atenção.
Há alguns ruins também, como uma tela preta meio boba de Alejandro Gonzales-Inarritú, mas o que mais me incomodou foi exatamente o último curta, do japonês Shoei Imamura. Ele conta a história de um soldado traumatizado com a guerra, em uma comparação histórico-política interessante, mas o filme vai desaguando em uma linguagem figurativa experimental muito cansativa.
De qualquer maneira, são expressões distintas de artistas mundiais para um fato que, com certeza, não será esquecido pela mídia.