Se nada mais der certo...
"Todos juntos somos fortes
Somos flecha e somos arco
Todos nós no mesmo barco
Não há nada pra temer"
Quando Chico Buarque de Holanda escreveu esse verso para peça infantil "Os Saltimbancos", estávamos em plena reabertura política, pós ditadura militar e os anseios socialistas ainda pulsavam nos corações brasileiros. A história, no entanto, mostrou que há falhas mesmo nesse sistema utópico e José Eduardo Belmonte soube explorar muito bem essa filosofia que permeia a classe média baixa brasileira, órfã de um sistema falido e sem perspectivas de futuro. Ok, o nome do filme já diz tudo. Se nada mais der certo eles partem para o crime. Será?
Na verdade, o filme não questiona a ética sob esse ponto de vista, a narração em off do personagem Léo apenas diz que "Entendo a lógica do pobre que rouba porque não tem, mas não consigo entender a lógica do rico que rouba e já tem", completando com "Fomos educados para não roubar, mas não fomos educados para não sermos roubados". Sem maniqueísmo, nem julgamentos, a narrativa apenas desenvolve o drama dos três personagens centrais: o jornalista, o taxista e a traficante que se unem em momentos de suas vidas para pequenos golpes. Sua ideia é apenas sobreviver.
Apesar de um ritmo lento no início, o filme vai nos envolvendo aos poucos com uma linguagem própria do diretor e principalmente uma montagem muito bem feita. Câmera na mão, mescla de película com HD, uma fotografia saturada, dando um clima real, próximo. Se nada mais der certo nos pega por sua honestidade, não está ali para expor ideais, nem discutir o certo e o errado. É o que é.
Tão falado e premiado, Cauã Reymond consegue defender bem o personagem, demonstrando crescimento e uma certa maturidade, continuando assim tem um grande futuro. João Miguel consegue se livrar um pouco da estigma de nordestino, mas continua com cara de bobo (uma pena, pois o ator tem muito mais talento a mostrar, quem já o viu no teatro sabe o que falo), já Caroline Abras está bem no papel da menino/mulher, só não fica muito bem definido o porquê desse drama de sexo. Essa endroginia insistentemente exposta e pouco explorada acaba sendo gratuita.
Em alguns momentos, lembrou um pouco Tarantino, principalmente em Cães de Aluguel. Não apenas pela temática, mas pela forma, ritmo. A violência aparentemente gratuita, sempre nos traz algo mais. Belmonte já demonstrou em outro filme (A Concepção - 2005), sua vertente política, não aquela de levantar bandeiras e defender ideais, mas a construção do dia-a-dia através de atitudes. Concordando ou não com ele, é de se admirar suas convicções e capacidade de expor situações delicadas em nossa sociedade falha.
Somos flecha e somos arco
Todos nós no mesmo barco
Não há nada pra temer"
Quando Chico Buarque de Holanda escreveu esse verso para peça infantil "Os Saltimbancos", estávamos em plena reabertura política, pós ditadura militar e os anseios socialistas ainda pulsavam nos corações brasileiros. A história, no entanto, mostrou que há falhas mesmo nesse sistema utópico e José Eduardo Belmonte soube explorar muito bem essa filosofia que permeia a classe média baixa brasileira, órfã de um sistema falido e sem perspectivas de futuro. Ok, o nome do filme já diz tudo. Se nada mais der certo eles partem para o crime. Será?
Na verdade, o filme não questiona a ética sob esse ponto de vista, a narração em off do personagem Léo apenas diz que "Entendo a lógica do pobre que rouba porque não tem, mas não consigo entender a lógica do rico que rouba e já tem", completando com "Fomos educados para não roubar, mas não fomos educados para não sermos roubados". Sem maniqueísmo, nem julgamentos, a narrativa apenas desenvolve o drama dos três personagens centrais: o jornalista, o taxista e a traficante que se unem em momentos de suas vidas para pequenos golpes. Sua ideia é apenas sobreviver.
Apesar de um ritmo lento no início, o filme vai nos envolvendo aos poucos com uma linguagem própria do diretor e principalmente uma montagem muito bem feita. Câmera na mão, mescla de película com HD, uma fotografia saturada, dando um clima real, próximo. Se nada mais der certo nos pega por sua honestidade, não está ali para expor ideais, nem discutir o certo e o errado. É o que é.
Tão falado e premiado, Cauã Reymond consegue defender bem o personagem, demonstrando crescimento e uma certa maturidade, continuando assim tem um grande futuro. João Miguel consegue se livrar um pouco da estigma de nordestino, mas continua com cara de bobo (uma pena, pois o ator tem muito mais talento a mostrar, quem já o viu no teatro sabe o que falo), já Caroline Abras está bem no papel da menino/mulher, só não fica muito bem definido o porquê desse drama de sexo. Essa endroginia insistentemente exposta e pouco explorada acaba sendo gratuita.
Em alguns momentos, lembrou um pouco Tarantino, principalmente em Cães de Aluguel. Não apenas pela temática, mas pela forma, ritmo. A violência aparentemente gratuita, sempre nos traz algo mais. Belmonte já demonstrou em outro filme (A Concepção - 2005), sua vertente política, não aquela de levantar bandeiras e defender ideais, mas a construção do dia-a-dia através de atitudes. Concordando ou não com ele, é de se admirar suas convicções e capacidade de expor situações delicadas em nossa sociedade falha.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Se nada mais der certo...
2009-09-21T17:46:00-03:00
Amanda Aouad
cinema brasileiro|critica|drama|
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