Do começo ao fim?
"Para entender o nosso amor, tinha que virar o mundo de cabeça para baixo". Essa frase do personagem Thomás ainda ecoa em minha cabeça, pois foi isso que Aluízio Abranches prometeu em seu trailer polêmico. Faltou-lhe atitude, no entanto, para virar esse tal mundo, ou quem sabe, reconstruí-lo em seu novo filme Do Começo ao Fim. Propaganda enganosa que nos prometia muito, o filme acontece em algum mundo paralelo da fantasia do diretor. Não há polêmica, não há conflito, não há história. Existem algumas cenas bonitas, plásticas e muita inverossimilhança.
Francisco e Thomás são dois meio-irmãos, filhos de Julieta (Júlia Lemmertz), e, desde o nascimento do caçula, nutrem um amor incondicional. Em dado momento, a mãe começa a observar que os dois só vivem grudados e muito timidamente os aborda, assim como o faz Pedro, o pai do mais velho, depois os dois trocam idéias sobre isso. São os três únicos momentos do filme em que algum esboço de censura acontece. Após um acontecimento que eles definem como libertador, o mundo mágico reina e vemos apenas cenas de amor tórrido clipados e pouca história. Sem conflito, a trama não anda, se arrasta em um emaranhado de irrealidades.
Se a homossexualidade já seria alvo de preconceito e polêmicas, o que diríamos do incesto? É impensável que as pessoas aceitassem da forma como é construído no filme, sem o menor questionamento. E sem o menor receio, pudor, medo, culpa, ou qualquer sentimento que fosse dos dois irmãos. Meu irmão, meu amante, minha vida? Que espécie de mundo é esse?
A despeito do conto de fadas, há cenas bonitas e plásticas, como algumas em que Abranches se utiliza muito bem de um espelho para fazer um jogo de efeitos. A cena do tango também é empolgante, além de um pesadelo de Francisco entre o mar e piscina. A primeira cena de amor entre os dois, no entanto, parece pura vontade de chocar, além de muito lenta e com uma musiquinha irritante que já tinha sido utilizada em outras cenas.
João Gabriel Vasconcellos e Rafael Cardoso conseguem trazer verdade aos seus personagens e emocionam em muitas cenas, seja pelo amor que sentem ou pelo sofrimento da saudade em um momento de separação. E conseguiram escalar duas crianças muito parecidas para os interpretar na primeira fase da projeção. O resto do elenco, tirando Fábio Assunção que já teve momentos mais inspirados, dá suporte ao filme. No caso deste ator, no entanto, acho que a construção rasa do personagem pode ter ajudado para sua falta de expressão.
Enfim, ainda estou esperando o tal fim prometido no título e a discussão polêmica prometida no trailer. O que Aluízio Abranches demonstrou foi ser um excelente "marketeiro" se utilizando de um tema extremamente polêmico (incesto homossexual) para nos apresentar um filme vazio. Uma pena...
Francisco e Thomás são dois meio-irmãos, filhos de Julieta (Júlia Lemmertz), e, desde o nascimento do caçula, nutrem um amor incondicional. Em dado momento, a mãe começa a observar que os dois só vivem grudados e muito timidamente os aborda, assim como o faz Pedro, o pai do mais velho, depois os dois trocam idéias sobre isso. São os três únicos momentos do filme em que algum esboço de censura acontece. Após um acontecimento que eles definem como libertador, o mundo mágico reina e vemos apenas cenas de amor tórrido clipados e pouca história. Sem conflito, a trama não anda, se arrasta em um emaranhado de irrealidades.
Se a homossexualidade já seria alvo de preconceito e polêmicas, o que diríamos do incesto? É impensável que as pessoas aceitassem da forma como é construído no filme, sem o menor questionamento. E sem o menor receio, pudor, medo, culpa, ou qualquer sentimento que fosse dos dois irmãos. Meu irmão, meu amante, minha vida? Que espécie de mundo é esse?
A despeito do conto de fadas, há cenas bonitas e plásticas, como algumas em que Abranches se utiliza muito bem de um espelho para fazer um jogo de efeitos. A cena do tango também é empolgante, além de um pesadelo de Francisco entre o mar e piscina. A primeira cena de amor entre os dois, no entanto, parece pura vontade de chocar, além de muito lenta e com uma musiquinha irritante que já tinha sido utilizada em outras cenas.
João Gabriel Vasconcellos e Rafael Cardoso conseguem trazer verdade aos seus personagens e emocionam em muitas cenas, seja pelo amor que sentem ou pelo sofrimento da saudade em um momento de separação. E conseguiram escalar duas crianças muito parecidas para os interpretar na primeira fase da projeção. O resto do elenco, tirando Fábio Assunção que já teve momentos mais inspirados, dá suporte ao filme. No caso deste ator, no entanto, acho que a construção rasa do personagem pode ter ajudado para sua falta de expressão.
Enfim, ainda estou esperando o tal fim prometido no título e a discussão polêmica prometida no trailer. O que Aluízio Abranches demonstrou foi ser um excelente "marketeiro" se utilizando de um tema extremamente polêmico (incesto homossexual) para nos apresentar um filme vazio. Uma pena...
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Do começo ao fim?
2009-11-30T08:10:00-03:00
Amanda Aouad
cinema brasileiro|critica|drama|
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