Grandes Cenas: O Grande Ditador
Grandes cenas marcam por motivos diversos. Algumas possuem um técnica espetacular, outras uma atuação soberba, há ainda aquelas em que o clímax da emoção tornam-na inesquecível. E há finalmente, aquelas que simbolizam algo maior. Em todas as listas de melhores cenas da história do cinema encontramos uma citação ao Grande Ditador e à cena em que Chaplin brinca com o mundo. Até paródia em abertura de novela já foi feita pela Rede Globo. A cena foi uma grande sacada que sintetizou uma crítica não apenas a Hitler, mas a todos os ditadores que já passaram pelo planeta. O descaso com o mundo, com as pessoas que nele vivem, como se tudo fosse um grande brinquedo, um deboche de um ego inflado.
O grande ditador foi o único grande filme de Charles Chaplin após o cinema adquirir o som (Tempos Modernos tem apenas algumas falas). Ele era o gênio dos gestos. As palavras parecem ter tornado sua arte menor, ele não se adaptou muito, uma pena. Ironicamente, apesar da famosa cena do discurso final, o grande momento do filme não possui uma única palavra.
Para quem não conhece, o filme conta a história paralela de duas figuras muito parecidas fisicamente: um barbeiro judeu e um ditador intolerante. A alusão a Hitler é clara, tanto na constituição física, quanto no gesto de saudação e na perseguição aos judeus. Na cena em questão, o ditador acaba de confirmar que a última fronteira está perto de ser conquistada. Ele já se imagina Imperador do mundo. Em uma euforia sonhadora, pendura-se na cortina e se imagina no topo. Pede, então, para ficar sozinho e começa sua "brincadeira".
Ele desce, escorregando pela cortina, a câmera o acompanha. Já no chão, põe as mãos na cintura e se aproxima do globo terrestre. A câmera se afasta um pouco e enquadra o ditador atrás do globo, observando-o. Ele então se aproxima e a câmera se aproxima junto dando uma sensação de dimensão maior do pequeno homem. Ele pega o globo em suas mãos e diz quase em êxtase que é imperador do mundo. Começa então, a brincar com o globo tal qual uma bola de criança. A câmera se afasta um pouco para enquadrá-lo junto ao objeto sendo arremessado ao alto. Por vezes, a esfera vai a uma grande altura e a câmera a acompanha, tirando o ditador do quadro.
A preocupação do olhar é com esse mundo que está sendo arremessado (administrado) com leviandade. Será que ele corre o risco de cair? A música é doce, porém triste. O efeito que quer passar ao espectador não é o da felicidade do homem inconsequente, mas a angústia e frustração daqueles que são dominados por ele. É com esse povo que o espectador se identifica. E é nisso que está a genialidade da cena.
Em determinado momento, ele deita sobre a mesa, e, sem nunca parar de arremessar o globo, agora ele pode tocá-lo também com os pés e com as nádegas. A simbologia é ainda maior. Apesar das caras e bocas de Charles Chaplin, essa cena não é uma clássica de humor. Não é a risada, mas a preocupação que impera. Há um close nos dois, depois um novo corte para plano inteiro. O balé do homem e da bola é bem conduzido. Ele chega a pular em cima da mesa, até que o mundo não suporta tanta pressão e estoura. O ditador se assusta e chora como uma criança que perdeu seu brinquedo.
Só para constar, a última cena do filme, que sintetiza tudo que Chaplin queria passar ao mundo.
O grande ditador foi o único grande filme de Charles Chaplin após o cinema adquirir o som (Tempos Modernos tem apenas algumas falas). Ele era o gênio dos gestos. As palavras parecem ter tornado sua arte menor, ele não se adaptou muito, uma pena. Ironicamente, apesar da famosa cena do discurso final, o grande momento do filme não possui uma única palavra.
Para quem não conhece, o filme conta a história paralela de duas figuras muito parecidas fisicamente: um barbeiro judeu e um ditador intolerante. A alusão a Hitler é clara, tanto na constituição física, quanto no gesto de saudação e na perseguição aos judeus. Na cena em questão, o ditador acaba de confirmar que a última fronteira está perto de ser conquistada. Ele já se imagina Imperador do mundo. Em uma euforia sonhadora, pendura-se na cortina e se imagina no topo. Pede, então, para ficar sozinho e começa sua "brincadeira".
Ele desce, escorregando pela cortina, a câmera o acompanha. Já no chão, põe as mãos na cintura e se aproxima do globo terrestre. A câmera se afasta um pouco e enquadra o ditador atrás do globo, observando-o. Ele então se aproxima e a câmera se aproxima junto dando uma sensação de dimensão maior do pequeno homem. Ele pega o globo em suas mãos e diz quase em êxtase que é imperador do mundo. Começa então, a brincar com o globo tal qual uma bola de criança. A câmera se afasta um pouco para enquadrá-lo junto ao objeto sendo arremessado ao alto. Por vezes, a esfera vai a uma grande altura e a câmera a acompanha, tirando o ditador do quadro.
A preocupação do olhar é com esse mundo que está sendo arremessado (administrado) com leviandade. Será que ele corre o risco de cair? A música é doce, porém triste. O efeito que quer passar ao espectador não é o da felicidade do homem inconsequente, mas a angústia e frustração daqueles que são dominados por ele. É com esse povo que o espectador se identifica. E é nisso que está a genialidade da cena.
Em determinado momento, ele deita sobre a mesa, e, sem nunca parar de arremessar o globo, agora ele pode tocá-lo também com os pés e com as nádegas. A simbologia é ainda maior. Apesar das caras e bocas de Charles Chaplin, essa cena não é uma clássica de humor. Não é a risada, mas a preocupação que impera. Há um close nos dois, depois um novo corte para plano inteiro. O balé do homem e da bola é bem conduzido. Ele chega a pular em cima da mesa, até que o mundo não suporta tanta pressão e estoura. O ditador se assusta e chora como uma criança que perdeu seu brinquedo.
Só para constar, a última cena do filme, que sintetiza tudo que Chaplin queria passar ao mundo.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Grandes Cenas: O Grande Ditador
2009-11-06T23:34:00-03:00
Amanda Aouad
Charles Chaplin|classicos|grandes cenas|
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