Cinema Baiano no caminho certo
Quem ama o cinema e quer vivenciá-lo ao máximo, como eu, só pode ficar feliz ao presenciar um filme como Estranhos. O longa baiano de Paulo Alcântara pela Araçá Azul teve pré-estreia e coletiva para imprensa nesta semana e me impressionou bastante. Não apenas pela história envolvente, pela equipe novata, como pela preocupação profissional demonstrada por todos. A começar pela assessoria de imprensa da Comunika Press na figura de Alê Pinheiro, pela atenção e preocupação, fazendo o possível para todos os veículos, inclusive blogs pudessem ter acesso às informações e a equipe.
O que senti, tanto na projeção quanto na coletiva é que está aí uma nova linguagem para o cinema local. Não que a velha guarda seja ruim. Longe de mim falar mal de um Edgard Navarro, por exemplo. Mas há, em Estranhos, uma quebra da linguagem Cinema Novista. Aquela preocupação filosófica politizada, da estética da fome, do sertão, do filme conscientização. Há temas fortes, há momentos de reflexão, mas o ritmo é outro, a ambientação é outra e o propósito é contar uma história. Simples assim. E eu gostei bastante.
Logo chama a atenção o fato de ser uma história de multiplots que vão se cruzando aos poucos para convergir em uma resolução única. O roteiro se estrutura em quatros tramas distintas ligadas por uma quinta, a do personagem de Jackson Costa que é um sonhador em busca de seu amor. De certa forma, todas elas vão estar juntas na cena final onde tudo se resolve, para o bem ou para o mal. Todos estranhos entre si ou com atitudes estranhas.
Ao contrário da maioria dos filmes nacionais, Paulo Alcântara não assina o roteiro, que é uma adaptação de Carla Guimarães do livro do peruano Santiago Roncagliolo. Na coletiva, Paulo diz que acredita que cada um tem a sua função no processo cinematográfico. Apesar de seu próximo longa de ficção estar sendo esboçado por um roteiro dele, provavelmente chamará um roteirista para um segundo tratamento. “Se tem uma pessoa especializada nisso, por que não fazer? Roteiro é inspiração, mas é muita técnica. Técnica de escrever, de organizar as cenas, os diálogos”. Ele fala ainda que tem outras habilidades como fotografia e montagem, mas como diretor, prefere focar no seu papel e distribuir o restante. “Fiz o primeiro corte de Estranhos, ficou ruim, joguei fora e dei para o montador. Eu estava envolvido naquilo, melhor uma outra visão de fora”. A produtora Solange Lima que também está debutando na produção executiva de longas completou “Se cada um tiver a sua função no processo caracteriza-se a indústria. E isso é que profissionaliza o mercado”.
Tudo isso me deixou muito animada com o futuro do cinema baiano e brasileiro. Ver um processo diferente acontecendo. Não é aquele espírito amador de vamos fazer tudo na raça e na coragem. Não que Estranhos não tenha tido raça e coragem. A produção ficou em 800 mil reais e toda a equipe teve que abraçar a causa, mas sem perder o profissionalismo. O fotógrafo Antônio Luis Mendes, segundo falou Solange, entrou no set com esse espírito. Ainda segundo ela, ele falou que não importa o orçamento do filme, “se estou no set, tenho que agir com profissionalismo e fazer o melhor que posso”.
A distribuição, grande calo do cinema nacional é outro processo que está sendo estudado com calma. Foi contratada uma empresa especializada e o planejamento já está sendo feito. A estratégia é mapear o país, começando por Salvador em maio desse ano, indo para as oito principais capitais e depois para o resto do país. “Não adianta a gente querer competir com um 'Lula, filho do Brasil'. Temos que formar o nosso público e ir crescendo aos poucos”, afirmou Solange. A equipe ressaltou ainda que o público-alvo do longa está nas classes C e D, retratadas no filme, e que têm uma grande identificação com a história.
O elenco de Estranhos também é quase todo desconhecido. Com exceção de Jackson Costa e Caco Monteiro, os personagens principais estão estreando em longas e dão conta do recado. Paulo Alcântara foi garimpá-los no teatro baiano e é interessante perceber que estão naturais, sem o tom excessivo que tanto se reclama em atores desse meio. Jackson Costa disse na coletiva que não acredita nisso, para ele existe ator e ator atua em qualquer meio porque tem técnicas para isso, é só ser bem dirigido. Aliás o grande destaque em atuação no filme fica por conta dos dois bandidos vividos por Nelito Reis e Ângelo Flávio, dois novatos.
O post já está enorme, então, a crítica do filme fica para maio, na época da estreia do longa, assim ajuda na divulgação dele. Resumo aqui, apenas que Estranhos me surpreendeu. Claro que tem problemas e excessos, é uma equipe iniciante e não se pode exigir perfeição. Mas, o conjunto da obra está muito bom, envolvente e nos faz sair do cinema com uma sensação de que vem muito mais por aí.
Elenco:
Jackson Costa (Luís)
Cyria Coentro (Amparo)
Nelito Reis (Geraldão)
Ângelo Flávio (Tonho)
Caco Monteiro (Valmir)
Mariana Muniz (Flor)
Larissa Libório (Neusinha)
Heduen Muniz (Antônio Fagundes)
Agnaldo Lopes (Rubens)
Tom Carneiro (Prof. Gaspar)
Jussara Matias (mãe de Antônio Fagundes)
Joilson Oliveira (pai de Antônio Fagundes)
Tania Toko (mãe de Neusinha)
Luis Pepeu (pai de Neusinha)
*Fotos de: Jade Prado e João Ramos/ Divulgação.
O que senti, tanto na projeção quanto na coletiva é que está aí uma nova linguagem para o cinema local. Não que a velha guarda seja ruim. Longe de mim falar mal de um Edgard Navarro, por exemplo. Mas há, em Estranhos, uma quebra da linguagem Cinema Novista. Aquela preocupação filosófica politizada, da estética da fome, do sertão, do filme conscientização. Há temas fortes, há momentos de reflexão, mas o ritmo é outro, a ambientação é outra e o propósito é contar uma história. Simples assim. E eu gostei bastante.
Logo chama a atenção o fato de ser uma história de multiplots que vão se cruzando aos poucos para convergir em uma resolução única. O roteiro se estrutura em quatros tramas distintas ligadas por uma quinta, a do personagem de Jackson Costa que é um sonhador em busca de seu amor. De certa forma, todas elas vão estar juntas na cena final onde tudo se resolve, para o bem ou para o mal. Todos estranhos entre si ou com atitudes estranhas.
Ao contrário da maioria dos filmes nacionais, Paulo Alcântara não assina o roteiro, que é uma adaptação de Carla Guimarães do livro do peruano Santiago Roncagliolo. Na coletiva, Paulo diz que acredita que cada um tem a sua função no processo cinematográfico. Apesar de seu próximo longa de ficção estar sendo esboçado por um roteiro dele, provavelmente chamará um roteirista para um segundo tratamento. “Se tem uma pessoa especializada nisso, por que não fazer? Roteiro é inspiração, mas é muita técnica. Técnica de escrever, de organizar as cenas, os diálogos”. Ele fala ainda que tem outras habilidades como fotografia e montagem, mas como diretor, prefere focar no seu papel e distribuir o restante. “Fiz o primeiro corte de Estranhos, ficou ruim, joguei fora e dei para o montador. Eu estava envolvido naquilo, melhor uma outra visão de fora”. A produtora Solange Lima que também está debutando na produção executiva de longas completou “Se cada um tiver a sua função no processo caracteriza-se a indústria. E isso é que profissionaliza o mercado”.
Tudo isso me deixou muito animada com o futuro do cinema baiano e brasileiro. Ver um processo diferente acontecendo. Não é aquele espírito amador de vamos fazer tudo na raça e na coragem. Não que Estranhos não tenha tido raça e coragem. A produção ficou em 800 mil reais e toda a equipe teve que abraçar a causa, mas sem perder o profissionalismo. O fotógrafo Antônio Luis Mendes, segundo falou Solange, entrou no set com esse espírito. Ainda segundo ela, ele falou que não importa o orçamento do filme, “se estou no set, tenho que agir com profissionalismo e fazer o melhor que posso”.
A distribuição, grande calo do cinema nacional é outro processo que está sendo estudado com calma. Foi contratada uma empresa especializada e o planejamento já está sendo feito. A estratégia é mapear o país, começando por Salvador em maio desse ano, indo para as oito principais capitais e depois para o resto do país. “Não adianta a gente querer competir com um 'Lula, filho do Brasil'. Temos que formar o nosso público e ir crescendo aos poucos”, afirmou Solange. A equipe ressaltou ainda que o público-alvo do longa está nas classes C e D, retratadas no filme, e que têm uma grande identificação com a história.
O elenco de Estranhos também é quase todo desconhecido. Com exceção de Jackson Costa e Caco Monteiro, os personagens principais estão estreando em longas e dão conta do recado. Paulo Alcântara foi garimpá-los no teatro baiano e é interessante perceber que estão naturais, sem o tom excessivo que tanto se reclama em atores desse meio. Jackson Costa disse na coletiva que não acredita nisso, para ele existe ator e ator atua em qualquer meio porque tem técnicas para isso, é só ser bem dirigido. Aliás o grande destaque em atuação no filme fica por conta dos dois bandidos vividos por Nelito Reis e Ângelo Flávio, dois novatos.
O post já está enorme, então, a crítica do filme fica para maio, na época da estreia do longa, assim ajuda na divulgação dele. Resumo aqui, apenas que Estranhos me surpreendeu. Claro que tem problemas e excessos, é uma equipe iniciante e não se pode exigir perfeição. Mas, o conjunto da obra está muito bom, envolvente e nos faz sair do cinema com uma sensação de que vem muito mais por aí.
Elenco:
Jackson Costa (Luís)
Cyria Coentro (Amparo)
Nelito Reis (Geraldão)
Ângelo Flávio (Tonho)
Caco Monteiro (Valmir)
Mariana Muniz (Flor)
Larissa Libório (Neusinha)
Heduen Muniz (Antônio Fagundes)
Agnaldo Lopes (Rubens)
Tom Carneiro (Prof. Gaspar)
Jussara Matias (mãe de Antônio Fagundes)
Joilson Oliveira (pai de Antônio Fagundes)
Tania Toko (mãe de Neusinha)
Luis Pepeu (pai de Neusinha)
*Fotos de: Jade Prado e João Ramos/ Divulgação.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Cinema Baiano no caminho certo
2010-01-15T08:20:00-03:00
Amanda Aouad
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